PARALISIA

PARALISIA

O que nos paralisa?
O medo
O medo do novo
O novo como desconhecido
O desconhecido como o que não controlamos
O que não controlamos como o que pode nos ferir
O que pode nos ferir como o que pode nos matar
O que pode nos matar como o ícone do nosso medo
Fechando o circulo…
Ficaremos, então, paralisados
Como que presos no útero?
Depende de nosso medo de sofrer
Depende de nossa resistência à dor
Depende da intensidade de nossa curiosidade
Depende de nossa capacidade de lutar
Depende de nossa vontade de viver
Sem isso, permaneceremos no útero…
Lá há mais calor
Há mais segurança
Há mais conforto
Mas a vida, para acontecer, precisa sair
Vencer o medo e a morte
Precisa se aventurar
Precisa tentar
Precisa insistir
Precisa persistir
Precisa resistir
Por mais que pareça difícil
A paralisia pode ser vencido
Por mais que pareça complexa
Sua cura só exige coragem, vontade e curiosidade
A vida é assim, exige de nós vontade de viver
Viver exige paixão…
A paixão é a cura para a paralisia

Jorge Aquino

(RE)NASCE!

sol nascente

(RE)NASCE!

Nasce o sol!
E com ele vem a luz
Vencendo a noite
Clareando mais uma vez os caminhos
Retirando as sombras que abrigaram medos e temores
Mostrando o horizonte adiante
E com ele, a textura e as cores do mundo ao redor

Nasce o sol!
E com ele vem o calor
Que vence o frio e o recolhimento
Que nos faz superar o aprisionamento depressivo e ensimesmado
E nos lança do leito à vida!
Por meio dele o sangue pulsa com mais força

Nasce o sol!
Que vem nos garantir um novo dia
Que deixa para trás o velho, o caduco e o ultrapassado
O que até foi importante e relevante,
Mas que envelheceu e já se foi
Que caducou e morreu…
Que venha o sol!
Que venha o novo!!
Que venha a vida!!

Jorge Aquino

MUDANÇAS

MUDANÇAS

Mudar é normal.
Tudo muda
Tudo flui
Tudo está em devir
Em vir-a-ser…
As estações se sucedem
O dia substitui à noite
As rugas surgem
Os cabelos se agrisalham.
Todos envelhecemos
Todos mudamos
Mas permanecemos os mesmos.
Algumas mudanças, contudo, nos surpreendem
E elas, em geral, são fruto de circunstâncias limite
De enormes crises existenciais
Estas mudanças podem ser muito profundas
Amigos próximos, dizia Vinícios, revelam-se distantes
Companheiros tornam-se inimigos
Cúmplices se traem
Amantes se desconhecem
Da boca de onde saía doçura
Saem agora vociferações
A amargura substitui o afeto
O fel ocupa o espaço outrora dedicado ao doce
Surge a dor
O desgosto
A aflição
É como se brotasse um outro ser
Uma pessoa morre e surge outra
Uma personalidade desaparece
E, em seu lugar, outra se revela
Contudo, sabemos que esta mudança é apenas externa
É um mecanismo de defesa
É a expressão de uma fuga
É a tentativa de reagir a algo que não se entende ou não se deseja
Estas são mudanças lamentáveis
Estas mudanças são más
Por isso, se mudar é normal
Se é inevitável
Se é imprescindível
Porque não mudar para melhor?
Porque essa estranha obcessão humana pela mal?
Essa nossa escolha pela dor?
Esta inclinação para o tanatos?
Lamentável morte!
Triste mudança

Jorge Aquino

ODE À SOLIDÃO ETERNA…

ODE À SOLIDÃO ETERNA…

Nesse momento

Estou sofrendo…

Passei o dia em dores

Dores de parto

Porque acho que ficarei só.

Devo está predestinado à solidão!

E aqui, só, em meio à tenta gente, penso:

Que trágico!

Que irônico!

Olho ao redor e só vejo frivolidades

Alegrias

Baladas

Risos.

Olho ao redor e só vejo fantasmas

Bonequinhas

Bonitinhas

Ordinárias

Sem conteúdo

Sem vernáculo

Sem futuro.

Pessoas sem valores

Mas que cobram um preço alto

Incapazes de sentir,

De saber

De viver um amor.

Nestes lugares

Há um frenesi de bíceps

E nenhum cérebro

Uma orgia de corpo

E nenhuma alma

Uma escolha pelo ter

E nenhum ser

Ninguém chora

Ninguém sofre

Ninguém entende

Só mascaras

Usadas para esconder a solidão

Para escamotear a realidade

Pra ajudar a sobreviver.

Sim, eu sei…

Mas eu quero viver!

E viver com toda a dor que isso envolve

Com todo sofrimento que isso implica

Com toda a intensidade que isso exige

O que me impede?

Um alguém

Falta alguém

A ausência deste alguém me impede

Alguém que saiba que há dor, sofrimento e intensidade no amor

Tudo envolvido…

E que mesmo assim, queira

Queira arriscar

Queira se aventurar

Queira viver essa aposta

Viver essa aventura

Na qual, desde já se sabe,

Que virá o choro

Mas também a alegria

Que virá a dor

Mas também a paixão

Que virá o medo

Mas também a esperança

Onde está este alguém?

Não sei…

Mas sei que

Preciso encontrar alguém assim…

Jorge Aquino

A MULHER QUE EU AMO

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A MULHER QUE EU AMO

A mulher que é eu amo é especial

E é tão especial que é amada por mim

Ela tem os olhos ternos

De uma cor como jamais vi

Basta olhar e seus desejos são manifestos

…e obedecidos

A estes olhos não se pode dizer não…

Sua boca é linda, à espera de meu beijo

É ela quem cala as minhas reclamações e meus lamentos

Seu riso é uma arma que a tudo desarma

Um encanto que enche o mundo de luz

Seus cabelos foram feitos para que meus dedos deslizem entre eles

E eles morrem em um pescoço cheiroso e altivo, que adoro beijar

Seus ombros são fortes

Seus braços acostumados ao trabalho

Revelam uma pessoa que tem seu próprio caminho

E que construiu sua própria vida

Suas mãos esguias e pequenas

Entre as minhas

Encontram amparo e repouso

São elas que afagam o meu rosto com um carinho que jamais senti

Em seu corpo encontro um aroma nunca antes sorvido

E um mel nunca dantes provado a borbotar de seu íntimo

Como um doce e irresistível convite à saciedade da paixão

Cada parte de sua pele parece sentir o frêmito nos momentos do amor

Com ela há abertura à criatividade e ao prazer

E, depois de tudo,

É em seu corpo que encontro o descanso e a tranquilidade

A mulher que eu amo surpreende

Me faz rir

Me ensina

Me diverte

A mulher que eu amo é companheira

Com ela leio os livros e assisto os filmes

Com ela aprendo outras formas de falar das mesmas coisas

E o prazer de dançar com seu corpo colado ao meu

Com ela compartilho o prazer de preparar o almoço

E de lavar os pratos

Com ela viajo

E conheço novos lugares e provo novos sabores

Sinto novos odores

E vejo o sol se por em horizontes sempre novos

Com ela a vida tem mais cores…

A mulher que eu amo é amiga

Minha amiga, minha confidente e a pessoa a quem confio minhas mazelas

Mas ela é também a que recebe e acolhe

A hospitaleira que acolhe o visitante e o viajor

Que ajuda o pobre e luta por um mundo melhor

A mulher que eu amo compartilha comigo o amor a Deus

Ela conhece comigo a experiência da graça

E o dom da adoração

Ela encontra o Cristo comigo na Comunhão

E comigo se edifica com as Escrituras

Sua vida é marcada pelos valores do Reino

A honestidade e a justiça estão, constantemente, em sua boca

A mulher que eu amo é humana, é mortal

É falha e se engana

Mas é ela a mulher que eu amo

É para ela que dedicarei minhas energias e minha atenção

Ela será a prioridade e terá a exclusividade

É dela que eu preciso

Ela é a mulher que eu busco

Onde está a mulher que eu amo?

Por favor, amada minha…

Não demore

Não tarde a chegar!

Jorge Aquino

IMPRESSÕES

IMPRESSÕES

Quem de fato sou eu?

Aquilo que penso a meu respeito

Ou o que dizem sobre mim?

Seria correta a imagem que faço de mim mesmo?

Não estaria ela eivada de interesses, preconceitos e mecanismos de defesa?

Não seria, tudo isso, usado por meu inconsciente para me justificar?

Parece claro que o que penso sobre mim nada mais é do que uma “explicação coerente” que dá sentido a meu mundo e apazigua minha alma.

Seria então a visão dos outros mais correta?

Seria eu, desta forma, um monstro destruidor?

Um manipulador de almas?

Um homem bruto e insensível?

Alguém incapaz de manter um relacionamento profundo com outro alguém?

Seria eu um ateu impiedoso?

Não seriam, estas leituras, igualmente motivadas por sentimentos e prenoções, quando não inconsciente, inconfessáveis?

Não seriam elas motivas pela inveja?

Não estariam por traz delas o ciúme ou alguma patologia?

Não seriam elas motivadas pelo orgulho ou pela empáfia?

Não seriam estas versões também explicações para o fracasso dos invejosos?

Afinal não é sempre preciso demonizar alguém para se poder achar um culpado pela maldade que existe no mundo?

Eu teria que ser muito ingênuo para aceitar tacitamente estas opiniões desconsiderando os preconceitos existentes.

O que me resta então?

Eis que não posso confiar no que penso sobre mim

Nem devo acreditar no que dizem a meu respeito.

Quem sou eu, então?

A simples soma das duas versões?

Ou, não sendo nenhuma delas, uma terceira?

Honestamente, confesso que não sei…

Mas, acerca de mim mesmo, a única coisa que sei

É que,

Para além destas opiniões que não passam de impressões,

Para além da auto-bajulação e da iconoclastia,

O ser-em-si não pode ser capturado.

E, no dizer do filósofo, eu sou eu e minhas circunstâncias.

Ademais meu eu está em constante construção…

Jorge Aquino

APENAS UM HOMEM

 

APENAS UM HOMEM

 

Eu sou um homem…

E como homem, tudo me é peculiar

Como homem acordo, trabalho e durmo

Amo, desejo e gozo

Peco, me arrependo e oro

Me desespero, choro e torno a encontrar a esperança

Conheço o companheirismo e a solidão

Aprendi a cair e a levantar

Conheço o fracasso é a glória

Porque sou homem lembro que…

Não sou um santo

Mas alguém demasiado humano…

E porque sou homem todas estas experiências são normais…

De Terêncio à Nietsche o que de mais importante aprendi é a não me surpreender com minha capacidade de errar e de acertar…

Porque sou homem, habita em mim, a ambiguidade

A alegria é a tristeza

A criança e o adulto

O bem e o mal

O certo e o errado

A culpa e o perdão

A orgulho e a vergonha

Mas, sobretudo, quando se é homem,

Deve-se coragem de admitir seus erros

E de aprende a rir de sua própria miséria

E desta invencível ambiguidade

Que encerra todos os homens sob a mesma lápide

Aqui jaz um homem…

Apenas um homem

E nada mais que um homem…

Jorge Aquino