EU FARIA DIFERENTE

Eu faria diferente

 

Permitam-me discordar

Se pudesse faria tudo diferente

Teria brincado mais na rua

Teria conhecido outras meninas

Teria buscado outros caminhos

Teria esperado mais…

Pensado mais…

Dado mais tempo a mim

Teria amadurecido

E desta forma seria bem melhor do que fui

Hoje nem sei se amadureci adequadamente

Foi preciso ser marido e eu fui

Foi preciso ser pai e eu fui

Era preciso pagar as contas e elas foram pagas

Mas a quanto custo!

Sim, tudo foi feito com a honestidade da perspectiva que tinha à época

Tudo foi feito da melhor forma que eu podia fazer

Mas eu poderia ter feito melhor

Hoje eu sei…

Mas hoje, não me resta mais tanto tempo

E no pouco tempo que tenho

Tenho que fazer outra escolha

Não posso mais escolher para satisfazer aos outros

Não posso mais escolher para satisfazer a superficialidade

Não posso escolher para satisfazer às paixões e seus impulsos

É preciso satisfazer a mim mesmo

Satisfazer à busca de profundidade

Satisfazer minha razão

Estranhamente percebo que

Fazer diferente, neste caso,

Pode significar fazer o mesmo

Mas é se é preciso fazer

Mais uma vez eu o farei

 

Jorge Aquino

O SER E O NADA

Jorge_

Rev. Padre Jorge Aquino

Quando meu primeiro filho tinha cerca de seis anos de idade, me dirigi a ele com uma pergunta razoavelmente estranha para uma criança: “se o ser é… o não-ser…” ao que ele respondeu com sua voz infantil: “não é”. Claro que fiquei feliz ao ver meu filho dar os primeiros passos no debate filosófico. Bom, o tempo passou e ele resolveu trilhar os caminhos jurídicos ao invés dos filosóficos. Não fico triste com isso.

O interessante é ver como estas duas palavras sempre estiveram presente na obra dos grandes pensadores ocidentais nos últimos 2400 anos. O ultimo grande pensador a tratar deste tema foi, segundo meu e entendimento, Martin Heidegger. De fato, ele, na introdução de sua mais famosa obra (Ser e Tempo) pergunta: “porque antes o ser e não antes o nada?”.

Como primeiro elemento a ser destacado, devemos pontuar ser interessante ressalvar que esta pergunta opõe o Ser ao Nada, como se a oposição ao ser fosse exatamente a experiência da nadificação. Ou somos ou não somos. A alternativa para se Ser é não-Ser, ou nadificar-se. É importante ressalvar que, diferente de Heidegger, um outro grande pensador do século XX chamado J-P Sartre, escreverá um livro com o título: o Ser e o Nada.

Ora, conforme sabemos, em Sartre, uma vida que expressa adequadamente o Ser é chamado de vida autêntica. O contrário é a vida inautêntica. Se o Ser nos fala da vida autêntica, é forçoso compreender o não-Ser como a expressão da vida inautêntica. Ora, quem vive a vida autêntica vive na expressão mais elevada do Ser.

Em segundo lugar, devemos nos perguntar qual a relação que existe entre o Ser e o Tempo. Discutindo essa pergunta descobrimos que o Tempo é a esfera de manifestação do Ser. O Ser que hoje é, amanhã, não será. Ou melhor, será um não-Ser. Quando nos aproximamos da designação usada por Heidegger para se referir a este Ser, o vemos usar a expressão Dasein, que em uma tradução livre designaria o “Ser-aí”. Assim, se antes temos o Ser dialogando com sua temporalidade, agora temos o Ser dialogando ou sendo perpassado pela sua espacialidade. Temos uma limitação espaço-temporal para a expressão do Ser. Ou melhor, o Ser só se manifesta em uma relação espaço/tempo.

Em resumo, a única forma de realização autêntica do Ser só pode ocorrer adequadamente no aqui e no agora, ou seja, dentro do tempo e dentro do espaço. Isto significa que toda nossa realização ocorre na vida e no mundo. A mundanidade e a temporalidade são as únicas realidade que perpassam o Ser. Fora disso só temos o nada, ou o não-Ser.

O mundo e o tempo, a mundanidade e a temporalidade se constituem nos dois vértices que nos determinam enquanto Ser. Porque somos Dasein (ser-aí) precisamos realizar nossa existência autêntica neste lebenswelt (mundo vivido) de nossa existência.

Para viver esta existência de forma autêntica, além de viver com consciência de nossas limitações no tempo e no espaço, precisamos nos abrir para aquele que É o fundamento de Todo Ser. O Fundamento do Ser, porque Fundamento do Tempo e do Espaço é aquele que, por ser o Totalmente Outro, não pode ser nominado, mas apenas adorado como o nosso maior exemplo de imersão na nossa história e no nosso kairós. Ao fazer isso Ele foi metaforicamente chamado de Deus conosco.

Rev. Padre Jorge Aquino

THOMAS KUHN E O CONHECIMENTO EM PLATÃO…

thomas kuln

Inserido dentro do contexto cultural dos anos 60, Thomas Kuhn realizará uma mudança fundamental na esfera da ciência com sua noção de “paradigma”. Depois de expor detalhadamente as diversas formas sobre como se pode compreender este termo, ele nos dirá que a história da ciência se processa por meio de grandes revoluções paradigmáticas que acabam por desmontar o edifício científico anterior e construir outro em seu lugar.

Ao que parece, a crítica de Kuhn ao pensamento platônico segue na esteira dos pensadores nominalistas do fim da Idade Média. Ela se dá fundamentalmente na negação da existência de um mundo das formas perfeitas e universais que viesse a servir de base para verdades absolutas. Esta crítica ao fundacionismo platônico – e, portanto à existências de verdades últimas – é uma crítica à metafísica e uma tomada de posição ao lado da empiria e, portanto, da mudança e do vir-a-ser. Ao contrário da estabilidade preconizada por Platão e baseada em um mundo das Ideias, o mundo da ciência é um mundo da mudança e em constante devir…

A TECNICA EM HEIDEGGER

heidegger

Heidegger supera a tese comum acerca da Techne na proporção em que, ao invés de transforma-la em algo distinto ou separado do ser – mero objeto de sua produção, passa a vê-la como uma forma de expressão do Ser-aí.

É nesse sentido que se pode afirmar que a essência da técnica não é, em absoluto, algo aprisionado à tecnologia. O tecnológico, e creio ser possível identificar aqui uma forte influência da Escola de Frankfurt, é da esfera da cultura, enquanto a Techne é da esfera do Ser. Ela passa a ser uma forma de manifestação do Ser-aí em sua mundanidade. Desta forma, estar diante da Techne, significaria, mais propriamente, estar diante da expressão do que Heidegger chama de In der welt sein.

POR QUE?

POR QUE?

Por que refugar se queremos o abraço?

Por que machucar que queremos o afago?

Por que gritar se queremos o sussurro?

Por que escarrar se queremos o beijo?

Por que dizer não se queremos dizer sim?

Por que partir se queremos ficar?

Por que calar se queremos falar?

Por que chorar se queremos rir?

Por que tanto riso se precisamos chorar?

Por que magoar se amamos tanto?

Por que duvidar se no fundo sabemos da verdade?

Por que acusar se queremos dar o perdão?

Por que odiar se queremos amar?

Por que o silêncio se carecemos de respostas?

Por que a opinião de qualquer um é melhor que o sentimento de quem amamos?

Por que tanto, se precisamos apenas de tão pouco?

Estranho este sentimento chamado amor…

E este ser racional chamado humano…

Jorge Aquino