Rev. Padre Jorge Aquino
Quando meu primeiro filho tinha cerca de seis anos de idade, me dirigi a ele com uma pergunta razoavelmente estranha para uma criança: “se o ser é… o não-ser…” ao que ele respondeu com sua voz infantil: “não é”. Claro que fiquei feliz ao ver meu filho dar os primeiros passos no debate filosófico. Bom, o tempo passou e ele resolveu trilhar os caminhos jurídicos ao invés dos filosóficos. Não fico triste com isso.
O interessante é ver como estas duas palavras sempre estiveram presente na obra dos grandes pensadores ocidentais nos últimos 2400 anos. O ultimo grande pensador a tratar deste tema foi, segundo meu e entendimento, Martin Heidegger. De fato, ele, na introdução de sua mais famosa obra (Ser e Tempo) pergunta: “porque antes o ser e não antes o nada?”.
Como primeiro elemento a ser destacado, devemos pontuar ser interessante ressalvar que esta pergunta opõe o Ser ao Nada, como se a oposição ao ser fosse exatamente a experiência da nadificação. Ou somos ou não somos. A alternativa para se Ser é não-Ser, ou nadificar-se. É importante ressalvar que, diferente de Heidegger, um outro grande pensador do século XX chamado J-P Sartre, escreverá um livro com o título: o Ser e o Nada.
Ora, conforme sabemos, em Sartre, uma vida que expressa adequadamente o Ser é chamado de vida autêntica. O contrário é a vida inautêntica. Se o Ser nos fala da vida autêntica, é forçoso compreender o não-Ser como a expressão da vida inautêntica. Ora, quem vive a vida autêntica vive na expressão mais elevada do Ser.
Em segundo lugar, devemos nos perguntar qual a relação que existe entre o Ser e o Tempo. Discutindo essa pergunta descobrimos que o Tempo é a esfera de manifestação do Ser. O Ser que hoje é, amanhã, não será. Ou melhor, será um não-Ser. Quando nos aproximamos da designação usada por Heidegger para se referir a este Ser, o vemos usar a expressão Dasein, que em uma tradução livre designaria o “Ser-aí”. Assim, se antes temos o Ser dialogando com sua temporalidade, agora temos o Ser dialogando ou sendo perpassado pela sua espacialidade. Temos uma limitação espaço-temporal para a expressão do Ser. Ou melhor, o Ser só se manifesta em uma relação espaço/tempo.
Em resumo, a única forma de realização autêntica do Ser só pode ocorrer adequadamente no aqui e no agora, ou seja, dentro do tempo e dentro do espaço. Isto significa que toda nossa realização ocorre na vida e no mundo. A mundanidade e a temporalidade são as únicas realidade que perpassam o Ser. Fora disso só temos o nada, ou o não-Ser.
O mundo e o tempo, a mundanidade e a temporalidade se constituem nos dois vértices que nos determinam enquanto Ser. Porque somos Dasein (ser-aí) precisamos realizar nossa existência autêntica neste lebenswelt (mundo vivido) de nossa existência.
Para viver esta existência de forma autêntica, além de viver com consciência de nossas limitações no tempo e no espaço, precisamos nos abrir para aquele que É o fundamento de Todo Ser. O Fundamento do Ser, porque Fundamento do Tempo e do Espaço é aquele que, por ser o Totalmente Outro, não pode ser nominado, mas apenas adorado como o nosso maior exemplo de imersão na nossa história e no nosso kairós. Ao fazer isso Ele foi metaforicamente chamado de Deus conosco.
Rev. Padre Jorge Aquino