Manter-se casado em um mundo em crise de valores

valores

Reverendo Padre Jorge Aquino

Uma das características que admiro em minha esposa é a pontualidade ou, pelo menos, o cuidado que ela tem em avisar caso vá chegar atrasada em algum evento ou reunião. Fiz esta pequena introdução para demonstrar que, como diz as Escrituras “quem é fiel no pouco também é fiel no muito” (Lucas 16:10).

Olhando para nossa sociedade percebemos logo que os valores que eram praticados no passado parecem estar sendo esquecidos. Pontualidade, veracidade, honestidade, fidelidade, etc., parecem palavras que já não têm sentido na vida de muita gente.

Mas como manter uma relação conjugal em meio a esta crise de valores? Patrícia Love e Steven Stosny nos dizem que a forma mais fácil de se manter fiel aos valores essenciais é invocar quatro inspirações:

  1. Melhorar. Se você buscar melhorar seu relacionamento você não vai desejar o mal, humilhar, atacar ou desvalorizar seu cônjuge. Mas você precisa desejar melhorar e se imaginar melhorando pois, desta forma, o seu neocórtex receberá mais recursos para realizar seu desejo. Começamos mudando nosso padrão mental e então, nos vemos melhorando em nosso relacionamento.
  2. Apreciar e admirar. O segundo elemento que devemos buscar é apreciar nosso cônjuge, ou seja, valorizar seu parceiro. Ao valorizar as virtudes de seu parceiro ele sentirá que você é atencioso e, portanto, não vai precisar se preocupar se você o elogiou o suficiente. Aprecie as qualidades de seu cônjuge e verbalize isso.
  3. Conectar-se. Isto significa que você tem que estar realmente preocupado com o que o outro está sentindo. Nutrir a intimidade é abrir as portas para saber o que seu parceiro está passando. É triste ver quantas esposas realmente acham que seus maridos são insensíveis. Muitas vezes não se trata de insensibilidade, mas de uma certa miopia que os impede de ver o obvio. Procure ser mais atencioso com os sentimentos de seu cônjuge.
  4. Proteger. Proteger seu marido significa ajudá-lo a aliviar-se do medo do fracasso como provedor, amante, protetor e pai. Proteger sua esposa é fazer com que ela saiba que ela jamais ficará só, isolada, privada ou desprotegida.

Estou ciente de que no mundo em que vivemos os valores que fortalecem as relações estão sendo relativizadas. Mas se queremos um relacionamento sólido, devemos edificar nossa casa sobre a rocha (Mateus 7:24). Rochas não se abalam frente às intempéries que surgem em nossa sociedade.

Padre Jorge Aquino no Casamento de Blake e Cláudia

Ontem no fim da tarde, tive a enorme alegria de encerrar minhas celebrações de casamento deste ano com uma belíssima cerimônia bilingue que uniu o texano Blake e a Natalense Cláudia no extraordinário cenário do Hotel Imirá. Foi uma cerimônia emocionante para mim, particularmente, por ver, nos olhos e na história deste casal todo amor que eles têm guardado um para o outro. Sou grato sempre à Deus quando me deparo com um casal tão apaixonado assim. Que Deus os guarde e acompanhe sempre, em todos os caminhos que vocês trilharem. Uma palavra especial ao apoio do cerimonialista Maz Soares e sua equipe.

Sermão do 1º Domingo depois do Natal

jorge

(Isaías 61:10-62:3; Gálatas 3:23-25, 4:4-7; João 1:1-18)

TEMA: Vivamos libertos da lei (Gálatas 3:23-25).

Introdução: Surpreendentemente muitas pessoas acreditam que ser fiel à sua religião significa ter que se submeter a uma série de mandamentos e normas que dizem respeito a quase todos os aspectos de sua vida. O mais surpreendente de tudo é que, quanto mais as pessoas se submetem, menos elas precisam pensar e menos têm que enfrentar a angústia de ter que escolher. Desta forma, o cumprimento cego das normas as tonam pessoas menos ansiosas, embora, mais aprisionadas.

Elucidação: O texto de Paulo aos Gálatas, foi escrito para enfrentar a heresia dos judaizantes que, além da fé em Cristo, ensinavam ser necessário guardar os mandamentos e as obrigações instituídas por Moisés. Para Paulo, a lei tinha uma função: nos mostrar que éramos incapazes de cumpri-la e apontar para o único que a satisfez: Jesus Cristo. Se depositarmos nossa fé nEle, seremos justificados. Portanto, há três verdades que este texto revela:

I.ANTES DA FÉ ESTÁVAMOS ENCARCERADOS PELA LEI (v. 23)

  1. A lei nos colocava sob tutela. Quando Paulo disse que estávamos sob a “tutela” da lei ele usou a palavra “phroureô” que apontava para uma proteção com guardas militares. Stott nos diz que “quando aplicada a uma cidade, era usada tanto no sentido de manter os inimigos fora como de guardar os habitantes dentro dela”. Desta forma, a lei, qual uma guarda militar, nos mantinha sob tutela.
  2. A lei nos encarcerou. O segundo verbo que Paulo usa é “sungcleiô” que é traduzido por “encarcerar” ou “encerrar”. A ideia é de “engaiolar” ou de “apanhar”, assim como os apóstolos “apanharam” grande quantidade de peixes” em Lucas 5: 6. Desta forma, os dois verbos faziam menção de que, antes do nascimento de Cristo a lei e os mandamentos nos mantinham em uma prisão de tal forma que não pudéssemos escapar. A tradução da Bíblia na Linguagem de hoje diz: “A lei nos guardou como prisioneiros”.

Aplicação: No texto do profeta Isaías já podemos ver um dia o povo de Deus se alegraria por vestir-se com vestidos de salvação e cobrir-se com um manto de justiça. Além disso, essa nova realidade seria estendida à todas as nações, pois todas elas verão Sua justiça e todos os reis a glória do Senhor.

II. A LEI NOS LEVOU À FÉ (v. 24)

  1. A lei nos serviu de aio. Quando Paulo utilizou a palavra “aio” ele se serviu do termo grego “paidagôgós”, de onde nos vem a palavra “pedagogo”. O que não sabemos, conforme ensinam Storniolo e Balancin, é que “no mundo grego-romano, o pedagogo era um escravo severo que tinha como tarefa vigiar, admoestar e castigar o comportamento das crianças de uma família”. E ela cumpriu esse trabalho nos mostrando o quão pecadores somos.
  2. A lei nos conduziu até Cristo. Eis o papel da lei, nos mostrar que o homem era incapaz de salvar-se a si próprio por meio do cumprimento das exigências da lei. A lei nos mostrava que éramos incapazes de cumpri-la cabalmente e, desta forma, nos dizia ser necessário um outro caminho para se chegar à salvação. Por isso ela aponta para aquele que em tudo cumpriu a lei em nosso lugar. Ademais, os aios guiavam apenas crianças. Aqueles que já alcançaram a maturidade em Cristo, não precisam mais de guias.

Aplicação: No primeiro capítulo do Evangelho de hoje, João nos diz que Jesus veio para os seus, mas que os seus não o receberam. Todos, porém o que receberem, seriam transformados em filhos de Deus (Jo 1: 12), e encerra, “a saber, aos que creram em seu nome”. Na Nova Aliança não nos tornamos filhos porque cumprimos obrigações, mas porque recebemos a Cristo pela fé em nossos corações.

III. A FÉ NOS LIVROU DA LEI (v. 25)

  1. Já não estamos mais debaixo do aio. O aio ou o guia, só servia para orientar as crianças e guia-las enquanto frequentava a escola. Agora, na nova realidade trazida pelo nascimento de Cristo, vivemos em uma Nova Aliança que nos libertou das garras da lei. Por isso a palavra usada por Paulo (ypó) nos diz que não estamos mais “subordinados” ao aio. Nossa realidade agora é totalmente diferente.
  2. Estamos agora ligados à fé. Quando Paulo escreve este versículo ele coloca o artigo antes da palavra “fé”. Por isso, quando ele escreve “tês pisteôs” ele não está se referindo a uma fé qualquer, ou num sentido geral, como no caso de Abraão. Mas num tipo específico de fé centralizada em Cristo. Nossa fé em Cristo nos livra da exigência de ter que cumprir mandamentos para sermos salvos. Somos salvos por meio da nossa fé em Cristo.

Conclusão:

A grande lição dos textos deste primeiro domingo depois do Natal é que, com a vinda do Cristo, entra em cena, também, uma Nova Realidade onde a fé substitui o mero cumprimento de regras e normas. Na Nova Aliança nossa justificação diante de Deus se dá por meio da fé e não do cumprimento de normas. Não são mais exigidas a compra de indulgências ou qualquer tipo de sacrifício corporal ou espiritual. Deus nos dá de graça, o que a lei era incapaz de dar, a condição de sermos Filhos de Deus.

Sagrada Família

1.Os filhos da sabedoria formam a assembléia dos justos, e o novo que compõem é, todo ele, obediência e amor.

2.Ouvi, meus filhos, os conselhos de vosso pai, segui-os de tal modo que sejais salvos.

3.Pois Deus quis honrar os pais pelos filhos, e cuidadosamente fortaleceu a autoridade da mãe sobre eles.

4.Aquele que ama a Deus o roga pelos seus pecados, acautela-se para não cometê-los no porvir. Ele é ouvido em sua prece cotidiana.

5.Quem honra sua mãe é semelhante àquele que acumula um tesouro.

6.Quem honra seu pai achará alegria em seus filhos, será ouvido no dia da oração.

7.Quem honra seu pai gozará de vida longa; quem lhe obedece dará consolo à sua mãe.

8.Quem teme ao Senhor honra pai e mãe. Servirá aqueles que lhe deram a vida como a seus senhores.

9.Honra teu pai por teus atos, tuas palavras, tua paciência,

10.a fim de que ele te dê sua bênção, e que esta permaneça em ti até o teu último dia.

11.A bênção paterna fortalece a casa de seus filhos, a maldição de uma mãe a arrasa até os alicerces.

12.Não te glories do que desonra teu pai, pois a vergonha dele não poderia ser glória para ti,

13.pois um homem adquire glória com a honra de seu pai, e um pai sem honra é a vergonha do filho.

14.Meu filho, ajuda a velhice de teu pai, não o desgostes durante a sua vida.

15.Se seu espírito desfalecer, sê indulgente, não o desprezes porque te sentes forte, pois tua caridade para com teu pai não será esquecida,

16.e, por teres suportado os defeitos de tua mãe, ser-te-á dada uma recompensa;

17.tua casa tornar-se-á próspera na justiça. Lembrar-se-ão de ti no dia da aflição, e teus pecados dissolver-se-ão como o gelo ao sol forte.

18.Como é infame aquele que abandona seu pai, como é amaldiçoado por Deus aquele que irrita sua mãe!

Padre Jorge Aquino no matrimônio de Rommel e Talita

Esta tarde tive o prazer e a alegria de unir em matrimônio um casal de arquitetos que, com toda certeza, foram levados um ao outro pelos propósitos  de Deus. A cerimônia com efeito civil, realizada em Pirangi, contou com a presença dos amigos, parentes e pais do casal, que, com muita alegria celebraram o amor e o companheirismo deste casal que, visivelmente, demonstra muita atenção e carinho mútuos. Que Deus os guarde sempre e os carregue sempre em seus braços carinhosos de Pai.

 

Rev. Padre Jorge Aquino

Pe. Jorge Aquino25

O Rev. Pe. Jorge Aquino é graduado especialista e mestre em Teologia, graduado e mestre em Filosofia e especialista em Direito Civil. Foi Sacerdote de Igreja Episcopal Anglicana do Brasil por 12 anos assumindo os cargos de Pároco, Reitor do Seminário Anglicano de Recife, Arcediago da sub-região norte e representante da IEAB no CONIC-RN, CENACORA, além de participar como membro da Junta de Educação Teológica (JUNET) e do Centro de Estudos Anglicanos (CEA). De lá saiu por discordar da falta de transparência na administração diocesana e pela ausência de atividade pastoral de seu Bispo. Em Natal atuou como Vice Presidente do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular por sete anos, chegando a ganhar o Prêmio Estadual de Direitos Humanos. Atualmente ensina matérias relacionadas à Filosofia e Hermenêutica Jurídica em Instituições de Ensino Superior, na pós-graduações dos cursos de Direito em Natal. Casado com Mônica Aquino, é autor de 6 livros e diversos artigos em livros e revistas jurídicas e religiosas, além de verbetes em dicionários. Foi também Coordenador do Núcleo de Pesquisa em Direito e Coordenador Editorial da Revista Jurídica Ágora, da Faculdade de Natal. Seu ministério se volta hoje para a formação de novos clérigos e também  para o aconselhamento de casais e a realização de Bodas, Bênçãos religiosas e casamentos religiosos com efeito civil em Português, Inglês. espanhol e Italiano. Atuou como Reitor para as regiões Norte e Nordeste do Brasil da Diocese do Japi, onde foi nomeado Cônego Teológico e trabalhou como Diretor de Formação da Free Church of England. Atualmente é Ministro Associado à Paróquia de São Jorge em Rio Claro/SP e ligado à Iglesia Episcopal Anglicana de Chile. (TIM: 84-99904-8850; OI: 84-98871-4375)

Sermão da Vigília do Natal

jorge

Rev. Padre Jorge Aquino

(Isaías 9:2-4, 6,7; Tito 2:11-14; Lucas 2: 1-14)

TEMA: A manifestação da graça de Deus (Tito 2:11-14).

Introdução: Eu preciso confessar que o período do Natal é um momento que me deixa bastante frustrado com nossa sociedade. Parece que a cada ano que passa o verdadeiro sentido do Natal vai sendo modificado e transmutado nos corações e nas mentes das pessoas que fazem nossa sociedade. A cada ano o menino Jesus vai sendo cada vez mais esquecido e o papai Noel vai assumindo o poder; ao invés de fazermos juntos, em família, o presépio, todas as atenções se voltam para montar a árvore de Natal e, ao contrário de pensarmos em partilha e fraternidade, pesamos em consumo e presentes. Mas, esperar o que de uma sociedade consumista e pós-cristã?

Elucidação: No texto que destacamos para nossa reflexão hoje, vemos uma carta escrita por Paulo ao seu amigo Tito. Ele escreveu esta carta a algumas comunidades que estavam misturando as verdades do Evangelho com teses advindas dos judaizantes e exigindo a prática de certos gestos e a guarda de certos dias, para se poder alcançar a salvação. Era preciso relembrar àquela comunidade em Creta, que a salvação havia sito trazida ao mundo por Cristo e, para tanto, Paulo, lá pelo ano 64 ou 65, escreve esta carta ao seu delegado pessoal, para ressaltar, neste que é o texto central da carta, pelo menos três verdades sobre a manifestação da graça de Deus.

I. TROUXE SALVAÇÃO A TODOS OS HOMENS (v. 11)

  1. Foi uma manifestação. A ideia de “manifestação” está associada à de epifania ou à de teofania. Na primeira temos uma grande verdade ou uma luz que nos é dada, e que nos é comunicada “vinda do alto” (epi, significa, de cima). Esta é justamente a palavra que é usada aqui por Paulo: epefanê. Na segunda palavra, também temos uma manifestação (fania, do grego fânero), mas ela nos é dada pelo próprio Deus.
  2. Foi uma manifestação da graça. A palavra “graça” vem do grego “karis” e significa “um favor imerecido”. A graça é algo que você recebe sem ter feito nada para merecê-lo. Ao vir ao mundo Nosso Senhor inaugurou um momento de graça, onde as pessoas são recebidas no Reino de Deus, não em razão de algum sacrifício que fizeram, mas apenas e tão somente, porque receberam pela fé o presente de Deus.
  3. Foi uma manifestação da graça de Deus. Somente Deus poderia agir dessa maneira. Em todas as outras manifestações religiosas sempre existe uma espécie de barganha na qual o homem faz algo que o torna “digno” de receber o que Deus tem para nos dar. Não é assim no cristianismo. Deus, gratuitamente, não apenas nos dá, mas, sobretudo, se dá, se doa por nós, por causa de seu amor. Champlin nos lembra que “No original grego é usado e genitivo possessivo, porque o favor lhe pertence; mas também ‘vem dele’”.

Aplicação: Parece que muita gente não entende a óbvia contradição entre a graça que perdoa e a doutrina tão divulgada do karma. Ora, o que é o karma? É a doutrina que afirma que você terá que receber o retorno de tudo o que fez em sua vida. Você mesmo terá que pagar, em uma outra vida, os erros que cometeu nessa. Esta tese não pode coexistir com a graça e com o perdão de Deus. Se Deus, diante de um pecador arrependido, perdoa TODOS os seus pecados, porque ele terá que voltar em outra vida para pagar tudo outra vez? Amigo, você terá que escolher entre a graça e o karma. Mas não dá pra conviver com as duas simultaneamente.

II. TROUXE O ENSINAMENTO DE UMA NOVA FORMA DE VIVER (v. 12)

  1. A graça ensina. Paulo começa esse versículo usando a palavra “educando-nos”, oriundo do verbo grego “paideuo” que significa “educar” ou “disciplinar”. Quando a graça se manifesta em alguém, ela o educa e o disciplina a agir de uma forma diferente.
  2. Renunciar a impiedade. Aquele que já foi atingido pela graça de Deus deve renunciar ou abandonar a prática do pecado. Isso não significa que ele jamais cometa um erro, mas que em seu coração ele já renunciou (arneomai) ou repudiou toda espécie de erro, principalmente à impiedade (asabéia), que aponta para uma vida pagã.
  3. Renunciar às paixões mundanas. Aquele que foi atingido pela graça de Deus, além de renunciar à impiedade, mas também às “paixões mundanas” (epithumías sôfronôs). Quando uma pessoa continua inclinada às mesmas paixões ou desejos que tinham antes de “conhecer a graça de Deus”, isso apenas indica que essa pessoa nunca foi tocada pelo Espírito Santo.
  4. Viver de forma sóbria, justa e pia. Aquele que foi tocado pelo Espírito Santo e pela graça de Deus sua vida é marcada por uma vida justa (dikaiôs) e piedosa (eusebôs). A justiça deve ser o padrão de comportamento daquele que foi justificado por Cristo, e a piedade revela que esta pessoa tem uma boa (eu) reverência (sebos) para com Deus. Em resumo, ele demonstra reverência em sua vida.

Aplicação: O texto do evangelho de hoje descreve o nascimento de Jesus, fazendo referência à chegada da Sagrada Família até Belém da Judéia e a ausência de lugar para que a jovem Maria pudesse dar à luz a seu filho. O texto diz que “não havia lugar para eles nas estalagens” (lc 2: 7). Mas será que há lugar em seu coração para que a Sagrada Família possa pousar e Jesus possa nascer?

III. TROUXE A REVELAÇÃO ACERCA DA PESSOA DE CRISTO (v. 13, 14)

  1. Que devemos aguardá-lo. Segundo alguns exegetas, estas palavras podem fazer parte de um hino ou fórmula litúrgica cristã primitiva. No texto original em grego Paulo usa a palavra “prosdechomenoi”, que é o particípio presente de “prosdechoma”, uma palavra grega que se traduz por “esperar” ou “dar boas-vindas”.
  2. Como quem espera uma bem-aventurada esperança. A ideia de Paulo é que a esperança da volta de Cristo nos dá uma enorme felicidade espiritual. Conforme ensina o sacerdote e teólogo anglicano J.N.D. Kelly (1909-1997) e ex diretor do St Edmund Hall em Oxford, este versículo “contém uma expressão calorosa da expectativa escatológica da Igreja primitiva, que aguardava impacientemente a segunda vinda do Senhor à destra de Deus. Para o escritor esta expectativa é ainda vívida e real”.
  3. O aparecimento da glória. Eis que Paulo apresenta agora o objeto da esperança cristã: a “manifestação da glória”, ou como Paulo escreve originalmente: “epifaneian tês dóksês”. Aqui Paulo destaca a manifestação ou revelação espiritual do Cristo no último dia, quando ele virá em toda a sua glória.
  4. Do grande Deus e Salvador Jesus Cristo. Quando lemos o texto no original vemos que Paulo se refere à: “tou megalou Theou kai sôtêros”. Diferentemente do que defendem alguns pensadores que mais tardes seriam conhecidos por “arianos”, a ausência no grego do artigo definido antes de salvador, associado à frequente referência em fontes pagãs de um “Deus e Salvador”, sugerindo que Paulo poderia está sendo irônico com seus adversários, usando uma fraseologia pagã para descrever a crença primitiva da divindade de Cristo. Conforme o grande Reformador João Calvino (1509-1564), os arianos podem ser refutados com poucas palavras, já que, “Paulo, havendo falado da revelação da glória do ‘grande Deus’, imediatamente faz referência a ‘Cristo’, a fim de nos informar que essa revelação da glória será em Sua pessoa; como se dissesse que, quando Cristo se manifestar, então nos será revelada a grandeza da gloria divina”.

Conclusão: No texto de Isaías 9 encontramos uma linda profecia sobre a vinda do Messias que pode ser interpretada tanto em relação à sua primeira vinda, no Natal, quanto à sua segunda vinda, no Advento. O texto nos diz que o povo que andava nas trevas verá uma grande luz e que sua alegria seria multiplicada. Isto ocorreria porque “um menino nos nasceu, um filho nos foi dado; e o governo estará sobre seus ombros; e seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz” (Is 9: 6). Aquele que encontra verdadeiramente o menino Jesus em sua manjedoura, muda sua perspectiva de vida, transferindo-a desde esta realidade vazia e superficial na qual vivemos e passando a buscar os valores que o fazem voltar para a realização final, ou seja, para a manifestação gloriosa de Jesus Cristo no Advento, ou seja, em sua segunda vinda. Sua vida já mudou de perspectiva? Você já foi capaz de superar a busca desenfreada pelo consumismo e por tudo o que é vil, superficial e fútil por valores eternos e divinos, trazidos pelo Reino instituído pela sagrada criança que nasceu na periferia do mundo em uma pobre estrebaria?

 

SOBREVIVENDO A UM CASO EXTRACONJUGAL

reconciliação

Revdo. Pe Jorge Aquino

Vivemos em uma sociedade na qual parece que os casos extraconjugais já são encarados com uma certa normalidade. Pelo menos é isso que vejo na maior parte das novelas e nas conversas com as pessoas. Tudo parece ser muito normal, até que aconteça com você. Aí você estará diante de uma das mais lancinantes dores que o ser humano pode sentir. E digo mais; não apenas a pessoa traída sofre, mas, se realmente há ou houve algum amor na relação, mesmo quem traiu também sofre por seu fracasso e sua incapacidade de cumprir seus votos.

Há, no entanto, algumas verdades acerca do caso extraconjugal que preciso pontuar antes de começar a tratar diretamente do assunto de como sobreviver a ele. Em primeiro lugar, temos que ter consciência de que um caso extraconjugal não é algo que acontece “de repente” ou sem explicação alguma. Ele nasce na mente de quem trai algum tempo antes de que o ato ocorra. Ele é alimentado e até desejado bem antes de acontecer. Ninguém acorda um belo dia, pela manhã, e diz: hoje eu vou cometer adultério. O caso, é o resultado de vários e intrincados fatores que nem sempre estamos dispostos a encarar.

A segunda verdade é que quando ocorre um caso extraconjugal, geralmente, o casal tem uma parcela de responsabilidade. É claro que quem traiu transgrediu as normas e quebrou suas promessas. Mas muitas vezes esta pessoa dá sinais de sua insatisfação com as expectativas que nunca foram supridas ou atendidas e que a tornou vulnerável à outra pessoa. Assumir a condição de vítima é, certamente, muito mais cômodo do que ter que admitir as expectativas frustradas e as promessas não cumpridas. Mas volto a dizer, isso não a desculpa do ato de quem foi infiel. Em resumo, nenhum casal com problemas é composto de um anjo e de um demônio, e não é demonizando um dos dois que se resolvem os problemas.

A terceira verdade fundamental é que homens e mulheres possuem necessidades físicas e emocionais básicas que precisam ser conhecidas e supridas pelo cônjuge para que a vida à dois possa ser fortalecida e a traição evitada. Se isso não acontecer, se essas necessidades não forem supridas, se nada for feito a respeito, é muito provável que um triângulo amoroso se forme.

A quarta verdade fundamental retiro das sábias palavras do Dr. Willard F. Harley Jr., que em seu livro Casamentos à prova de traição, nos diz: “a única maneira de o casal sobreviver a um caso extraconjugal é transformando seu casamento numa experiência apaixonante e plena de satisfação. Se não passarem a ter um relacionamento melhor do que o que tinham antes, os cônjuges não voltarão a ficar juntos” (HARLEY JR, 2014, p. 198).

Com isso em mente, nos perguntamos, como sobreviver a um caso extraconjugal? Existe vida depois de uma traição? Antes de mais nada quero dizer que acredito no perdão e na graça de Deus. Mas não em perdão que não exige mudança de comportamento nem em uma graça barata. Mas, quando ocorre um caso extraconjugal, alguns passos bem concretos precisam ser dados. Conforme nos ensina o Dr. Willard F. Harley Jr., existem pelo menos três passos a serem dados.

  1. Primeiro passo: termine o caso. Isso nos parece óbvio, mas é muito mais sério. Não estou dizendo apenas que o “caso em si” precisa terminar, mas que é preciso cortar todo tipo de relação ou contato com o(a) amante e assumir a postura de quem nunca mais vai ver ou falar com essa pessoa. Não adianta acabar e continuar “amigos” ou mantendo algum tipo de contato social. Pode parecer drástico e de fato o é. Mas seu cônjuge, jamais o(a) aceitará de volta se todos os laços não forem rompidos. E, acredite, algumas pessoas terão que escolher entre sua família e seu emprego. A melhor maneira de fazer com que o caso que teima em persistir, termine é expô-lo para a família e os amigos. Manter a traição em segredo não resolve o problema, quando nosso cônjuge se recusa a acabar. É preciso expor a situação para que todos percebam a insensatez do que está acontecendo. Se isso não der certo e em se tratando de homens que traem, seria interessante que a esposa saiam de casa. Segundo as estatísticas, a saúde das mulheres traídas decai muito rapidamente quando se vive no mesmo espaço que o marido infiel.
  2. Segundo passo: criar transparência. Quando nos deparamos com uma pessoa que terminou um caso e que deseja reconstruir seu casamento, é preciso tomar algumas precauções para que não ocorra outra “queda”. Portanto, diz o Dr. Harley Jr. (2014, p. 202) é preciso ser transparente. Esta atitude tanto protege o casal de outro eventual caso quanto aumenta a intimidade entre os dois. Isto é muito importante: “Nada deve ser ocultado. Senhas, e-mails, mensagens de celular (SMS), números para os quais você ligou, histórico de navegação na internet e todas as outras formas de comunicação devem ficar disponíveis para seu cônjuge” (HARLEY JR., 2014, p. 203). O cônjuge traído deveria saber onde o outro está 24 horas por dia e ele deveria fazer o mesmo. Isto implicaria, também, em ligações frequentes entre os dois, para saberem onde estão e como. É claro que quem traiu vai se sentir vigiado, mas a ideia é justamente voltar a criar confiança no coração e na mente de quem foi traído.
  3. Terceiro passo: satisfaça as necessidades um do outro. A ideia é que, uma vez que o casal resolveu se reconciliar, geralmente quem foi traído aprende a satisfazer as necessidades, anteriormente atendidas pelo(a) amante, mais facilmente do que quem traiu. A ideia por traz dessa atitude é estabelecer “uma relação romântica que seja tão apaixonada quanto um caso amoroso. Não quero que a escolha deles seja entre paixão e razão – o extra-conjugal oferecendo a paixão e o casamento oferecendo a razão. Eu quero que eles tenham as duas coisas, algo que só pode ser encontrado no casamento deles” (HARLEY JR., 2014, p. 204). Desta forma ela poderá dar a ele satisfação sexual, companheirismo no lazer, poderá ser mais atraente para ele, dar mais paz e tranquilidade e admirar o que ele faz e é. Por outro lado ele poderá dar mais carinho, conversar mais com ela, ser sempre franco e honesto, dar apoio financeiro e ter mais compromisso com a família.

É claro que, afirma o Dr Harley Jr. (2014, 206) “é muito mais fácil aprender a satisfazer as necessidades um do outro depois de um caso extraconjugal do que teria sido antes”. Mas mesmo depois de uma traição, quando ainda existe vontade e amor, ainda é possível que um casamento sobreviva de forma gratificante a apaixonada se ambos estão dispostos a satisfazer as necessidades básicas do outro.

 

Referência bibliográfica

HARLEY JR., Willard F. Casamentos à prova de traição. Rio de Janeiro: sextante, 2014.

REFLEXÕES SOBRE A REVOLUÇÃO DIGITAL

Revolução digital

Revdo. Pe Jorge Aquino

Se há uma realidade inarredável de nossas vidas hoje é a da onipresença das tecnologias ligadas à internet e à comunicação. Parece que as crianças de hoje já nascem “chipadas” e com um conhecimento muitas vezes superior à de seus pais, no quesito manusear um computador ou um “smartfone”.

Sabemos que, de uma perspectiva tecnológica, o mundo passou por uma grande mudança em meados do século XVIII com a Revolução Industrial. Muito da vida cotidiana das pessoas foi afetada pela energia à vapor, pelas novas tecnologias têxteis e pelo incremento de novas máquinas e ferramentas.

Da 2º metade do século XIX até a 1ª Guerra Mundial o mundo assistiu a 2ª Revolução Industrial, também chamada de Revolução Tecnológica. Com ela tivemos a produção de ferro e aço em alta escala; a utilização do petróleo e de produtos químicos; o desenvolvimento da energia elétrica e, com ela, da comunicação.

A 3ª Revolução Industrial é chamada de Revolução Digital e é marcada pela substituição de uma realidade analógica, mecânica e eletrônica por tecnologias digitais que surgem em meados do século XX, chegando até ao desenvolvimentos dos PC’s e arquivos digitais oriundos do Vale do Cilício. Foi com a década de 90 que as coisas parecem ter dado um “boom” e atingido proporções nunca antes imaginadas.

Hoje, este mundo da hiperinformação, exerce uma enorme influência sobre nossas vidas, nossos relacionamentos e nossos comportamentos. Parece que, de uma perspectiva filosófica, nós voltamos ao dualismo platônico que dividida o mundo entre o mundo das ideias e o mundo real.

Para Platão, o mundo das ideias era perfeito, pleno e servia de modelo para o mundo real, que era apenas uma “sombra” imperfeita daquele mundo superior e eterno. Hoje, também estamos divididos entre e vida digital e a real. E, à semelhança dos filósofos platônicos, acreditamos que o mundo real é apenas uma “sombra” daquilo que é muito mais importante, o mundo digital.

Nossa comunicação foi afetada por essa crença. Não há como negar que as relações humanas foram afetadas pelo surgimento da internet. Não olhamos mais nos olhos das pessoas. Temos que ter um smartfone, um tablete, um netbook ou notebook para poder acessar as outras pessoas. Sem isso estamos perdidos no mundo.

Além do mais, precisamos estar conectados em algum tipo de “rede social” tal como o facebook para que tenhamos existência. Quem não tem um, não “existe”. Ademais, se para existir nesse mundo temos que ter o facebook, temos que utilizá-lo para que todos saibam onde estamos e o que estamos fazendo. Pior, sem ele não teríamos “amigos” e ninguém “curtiria” nossas postagens. Imagine a pessoa que conseguiu chegar a ter 2.000 amigos no facebook. Agora imagine o que aconteceria se ela postasse algo e ninguém, nenhum de seus 2.000 amigos curtisse ou compartilhasse sua postagem. Você tem ideia da depressão que isso pode gerar em uma pessoa que vive no mundo digital? Isto é real! Há estudos que mostram que pessoas entram em depressão se suas postagens não forem “curtidas”. Até que ponto chegamos?! Não se engane, você não tem 2.000 “amigos”. Você está só em um mundo de ícones, informação e bytes. Seja sincero consigo mesmo, se você tiver muitos amigos, terá, no máximo, uns quatro ou cinco. O resto não conta pra nada.

Conheço inúmeras pessoas que já nem falam pelo telefone. Não adianta ligar. Elas só estarão disponíveis pelo WhatsApp. E mesmo a linguagem não é mais escrita em língua corrente, mas em um código cifrado que envolve contrações de palavras e a utilização de “emojis”. Concordo com a opinião de Noam Chomsky, quando diz: “(…) diz-se que aumenta a comunicação entre as pessoas. Mas trata-se de uma comunicação muito superficial. O que os jovens têm que aprender é a relacionar-se uns com os outros como seres humanos. Isto implica estar frente a frente. Nós não somos marcianos! (…) os jovens relacionam-se com pessoas imaginárias. E nesse sentido a internet é um perigo porque cria a ilusão de que se está em contacto com outros quando, na realidade, se está completamente isolado” (sic) (CHOMSKY, In CAVALCANTI. s.d. p. 40). Esta é a grande mudança que está ocorrendo na comunicação mundial. Estamos vivendo em um mundo de relacionamentos superficiais onde a profundidade está cada vez mais perdida.

Este é o mundo que é valorizado em nossa geração. O mundo onde os fatos só são verdades se fazem parte e aparecem no mundo virtual. O real não nos interessa mais. O toque, o cheiro, o olhar, o tom da voz, tudo isso foi substituído pelo teclado de seu smartfone e pela “conexão” que o WhatsApp promete proporcionar.

Afinal, não estaríamos mesmo ressuscitando o dualismo platônico? Será que nosso tempo, dinheiro, atenção, enfim, será que toda a nossa vida não está voltada hoje para o mundo digital? Será que nosso sonho de consumo não é comprar o novo lançamento da Apple? Se nossa resposta for positiva, então realmente podemos começar a ter uma séria preocupação com o futuro de nossos filhos e de nossa humanidade. Sim, porque diante de nós, nos espera um mundo onde as dores reais e concretas de nada valerão; um mundo onde os valores mais cobiçados estarão relacionados ao consumismo e à aquisição, ao invés da justiça, da solidariedade e do amor. Quem viver verá.

Padre Jorge Aquino no casamento de Thiago e Vitória

A praia do Y, que testemunha a união entre o rio e o mar, foi banhado esta tarde por um lindo sol que aqueceu os corações de todos os que presenciaram o encontro e o “sim” de Thiago e Vitória em uma linda cerimônia religiosa com efeito civil. Este expressivo casal, marcado pela alegria, pela felicidade pelo bom humor e pelo gosto pela aventura, deram início hoje à mais extraordinária aventura entre um homem e uma mulher: a vida a dois. Que este casal que se conheceu em um momento festivo viva sob o signo da alegria até o fim de suas vidas, sempre guiados por Deus.