(Eclesiastes 1: 18-23; Colossenses 3: 5-11; Lucas 12: 13-21)
TEMA: As exigências da nova vida em Cristo (Colossenses 3: 5-11).
Introdução: Estamos prestes a assistir uma nova Olimpíada, agora em nosso pais. Milhares de atletas estão chegando ao Rio de Janeiro na busca de alcançar uma medalha de ouro. Todos ele, no entanto, têm algo em comum: eles treinaram muito para isso. Sempre que se deseja algo é preciso pagar um preço.
Elucidação: Nos versículos anteriores, Paulo está ensinando à igreja de Colossos que, se alguém está em Cristo, essa pessoa foi ressuscitada com ele e, por conseguinte, é uma nova criatura. Esta mudança que ocorre em nossa vida atinge, principalmente nossa mente e por isso, passamos a pensar, não nas coisas meramente humanas, vazias e fúteis, mas nas coisas que são do alto, onde Cristo está. Mas esses pensamentos precisam produzir um comportamento que lhe seja consequente. Em outras palavras, no texto que lemos, Paulo está nos dizendo que o novo nascimento – a ressurreição -, implica em, pelo menos três grandes exigências para aqueles que se dizem cristãos:
I. EXIGE A EXTERMINAÇÃO DAS INCLINAÇÕES CARNAIS (v. 5-7)
A primeira palavra que Paulo usa é “exterminar” e ela vem do grego nekrôsaté – de onde vem a palavra “necrose” -, que significa “fazer morrer”, “mortificar” e “considerar morto”. A ideia na mente do autor é que, aquele que já ressuscitou para uma nova vida deve fazer morrer, de dentro de si, aquelas inclinações de nossos membros, ou seja, inclinações de nosso corpo. Obviamente uma vida plena em Cristo não pode ser cheia de elementos que manifestam nem “contém” Cristo. Por isso precisamos abrir mão de uma série de elementos.
- Prostituição. Paulo sabia que ressuscitar para uma nova vida não garantia uma vida de santidade. Por isso era preciso se esforçar para vencer os principais inimigos do cristão. E o primeiro que ele nomeia é a prostituição ou, em grego, pornéia, que melhor seria traduzido por “imoralidade”, porque esta palavra implica em muito mais coisas do que apenas o tráfico do sexo. Em seu sentido mais íntimo ela fala de um comportamento semelhante ao de uma prostituta, que vende seu corpo, mas, em nossa sociedade, há quem venda seus valores, sua fé, e a própria a religião. E isso também é pornéia.
- Impureza. Ao usar a palavra akatarsían, Paulo estava fazendo menção a qualquer forma de impureza sexual ou moral, mas certamente ele também estava incluindo as impurezas espirituais que sempre são consequências das duas primeiras.
- Paixão. No texto grego original a palavra usada é pathos, que aponta para a “paixão” ou para o “desejo irrestrito” que é tão forte que faz doer e nos domina. São interessante as considerações de Champlin quando ele diz que “Tal vocábulo pode indicar anelos bons e maus, dependendo do modo como é empregado. Pode indicar uma emoção passiva ou ativa; mas, usualmente, é usada para indicar paixões violentas e prejudiciais, que irrompem na forma de cólera, de ira descontrolada”.
- Concupiscência, ou seja, “a constante ambição por algo mais” (R.E.O. White) e que é, em I Co 5:10; 6:9s, colocada ao lado da pilhagem e do roubo. É interessante saber que a palavra grega epithumían, nos fale de “anelos” e “desejos”, nos manuscritos P46 e G, vem acompanhada do adjetivo kakên, que significa “maligno”. Isso, certamente indica que os leitores deveriam entender esse desejo como algo negativo. Nem tudo o que se quer é certo.
- Avareza. Este é o pecado de se desejar “o que pertence a outros, a cobiça pela fama, pelo lucro ou pelas vantagens terrenas” (Champlin). Em seu termo original – pleonexian -, também pode significar insaciabilidade. Para Paulo, esse pecado também pode ser chamado de idolatria. Erra quem pensa que a idolatria é apenas a adoração de uma imagem. Ela tanto pode significar “a adoração procurada como um meio de prosperidade” (Barcley), como “fazer do lucro um deus” (Ashby). Sempre que alguém coloca algo em lugar de Deus, comete idolatria.
E, contra aqueles que cometem esses pecados e, portanto, revelam que naõ “ressuscitaram com Cristo” e que não possuem uma “nova natureza”, virá, inevitavelmente, a ira de Deus (orgê tou theou). Mais uma vez destacamos, essa ira virá sobre aqueles que são identificados (pela prática destes gestos) como “filhos da desobediência”, um hebraísmo que indica aqueles que, por natureza, são desobedientes.
Aplicação: A leitura do livro de Eclesiastes nos lembra que “tudo é vaidade”, ou seja, que nada nesse mundo é duradouro, estável, importante e tão relevante a ponto de impedir que vejamos que somente em Deus podemos viver uma vida plena. De nada adiantará o dinheiro, o poder, a fama, o sexo, a condição social ou qualquer outro elemento que o faça pensar que você é superior a alguém. No fim de tudo, você irá para o mesmo lugar: uma sepultura. Porque, então, valorizar tanto o que é tão fútil?
II. EXIGE A PRIVAÇÃO DE ANTIGOS HÁBITOS (v. 8, 9)
Além de exterminar aquelas inclinações carnais, o cristão é alguém que busca se provar de certos hábitos que não cabem mais na vida de quem “pensa nas coisas que são do alto” e que ressuscitou com Cristo para uma nova vida. Para Paulo, é preciso se privar, ou como no original grego – apothesthe – diz, “tirar de si mesmo”, “remover”, “se despir” de uma velha roupa com a finalidade de usar outra mais adequada e nova. O verbo está no imperativo médio para nos lembrar que este gesto é uma ordem que Deus nos dá e que o ato é realizado por nos mesmo, e não por Ele. Assim, precisamos jogar fora ou nos despir:
- Da ira. Ou como Paulo escreveu no original, Orgên, que é uma obra da carne (Gl 5:20) característica das pessoas insensatas (Pv 12:16) e que pode vir acompanhada, ou levar à crueldade.
- Da cólera. O termo grego usado por Paulo, thumón, também se traduz por “raiva abrasadora” ou “indignação”. Ela também é uma obra da carne (Gl 5: 20) e se refira à “ira apaixonada” e “explosão de ira”. Enquanto a ira é algo fixo, a cólera é uma manifestação súbita e inesperada.
- Da malícia. Esta palavra no grego – kakia – é traduzida não só por “malícia”, mas por “maldade”, “malignidade” e, por uma série de outras palavras que, em geral, refere-se à natureza viciosa que se inclina a fazer o mal para as outras pessoas.
- Da maledicência. Esta palavra, mesmo no original grego, é conhecida de todos nós. Paulo usa o termo blasfêmian para se referir a “fala abusiva contra Deus ou contra os homens”. Trata-se aqui, do pecado da difamação ou da injúria contra a honra ou a reputação de outrem. Parece-nos que Paulo vai fazendo uma sequência que começa dentro de nós, com a ira, e que vai se exteriorizando cada vez mais.
- Das palavras torpes. Quando Paulo usa o termo aischrologian, que, segundo Lightfoot, significa “linguagem abusiva, ofensiva e torpe”. Mas o termo também pode significar “palavras obscenas”. Segundo Maclaren, citado por R.E.O. White, “O que flui de palavras ociosas, palavras tolas, palavras que ferem… inunda o mundo”. Uma vez que estas palavras saem, diz o texto, “de vossa boca”, e considerando que a raiz do termo usado por Paulo é aischros, que significa “feio”, “vergonhoso” ou “aviltante”, podemos traduzia a frase como “abuso de uma boca suja”.
- Da mentira. Ao usar a palavra pseudesté, Paulo está se referindo a algo muito sério e que diz respeito a uma exortação fundamental para uma comunidade de cristãos. Segundo nos ensina Ralph Martin, “A mentira leva a um rompimento da comunhão cristã, porque engendra a suspeita e a desconfiança, e assim destrói a vida em comum no corpo de Cristo (Rm 12:4) mediante a qual somos ‘membros uns dos outros’”.
A razão para que nos privemos desses antigos hábitos é apresentada por Paulo quando ele diz: “uma vez que vos despistes do velho homem com seus feitos” (v.9). Paulo está usando a metáfora de alguém que joga suas roupas velhas e sujas fora, para se revestir de novas vestimentas.
Aplicação: Alguém já disse que a maledicência “é o que acontece quando alguém que não tem nada de útil a fazer, resolve gastar seu tempo falando da vida de outra pessoa, prejudicando a troco de nada alguém que, com certeza, ele inveja”. Ela é a irmã mais nova da mentira e da falsidade e só pode produzir o que é ruim. Como acreditar que um cristão seja capaz de subir pela escada de pecados apresentada por Paulo, que começa na ira, vai para a cólera, e daí segue para a malícia, maledicência, palavras torpes até chegar à mentira? O verdadeiro cristão não tem alegria com a mentira. Afinal, diz a Bíblia, “os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor” Pv 12: 22. Quem se despiu do velho homem, com seus feitos, deve viver em novidade de vida (Rm 6: 4).
III. EXIGE UMA NOVA VESTE (v. 10, 11)
- Vos vestistes do novo. Segundo comenta Ralph Martin, “Todos os comentaristas concordam que há um tema batismal nestes verbos, tirados da atividade de despir-se para o ato do batismo, quando o novo cristão entrava na água, e de vestir-se depois”. Em Cristo somos revestidos de um “novo homem”, regenerados e passamos a viver em novidade de vida. Esta novidade implica em que, cada um de nós, Que se renova para o pleno conhecimento. Ao usar a expressão “pleno conhecimento” ou em grego “epígnôsin”, Paulo está deliberadamente usando um termo gnóstico para indicar que o verdadeiro e pleno conhecimento é oriundo da nova vida em Cristo. Segundo ensina Hendriksen, “Este conhecimento supera em muito qualquer ‘conhecimento’ em que se gloriavam os falsos mestres que estavam perturbando as igrejas (…). Este conhecimento pleno tem a ver com o coração e a mente, é experimental e tem como meta a santa vontade de Deus (Rm 12:2)”. A renovação de nosso conhecimento ocorre, conforme Paulo ensina, segundo a imagem daquele que o criou, ou seja, Paulo nos diz que o modelo, o padrão e a medida desta renovação “é a imagem de Deus, como se estivesse falando de Adão. Em outras palavras, “o homem novo não é simplesmente a restauração de tudo o que pertencia ao primeiro homem antes da queda”. Mas assim como trazemos a imagem do primeiro Adão em nós, também trazemos a imagem do celestial (I Co 15: 49) que é Cristo.
- Em uma comunidade de iguais. Paulo neste texto faz referência à Igreja como sendo uma comunidade onde não existem diferenças ou privilégios espirituais relacionados ao nascimento, por isso ele se refere aos circuncidados e aos não-circuncidados (judeus e gregos). Em Cristo, as promessas feitas à Abraão se estendem à toda a humanidade, mesmo os mais bárbaros conhecidos – os citas – que assolavam toda a área do mar Mediterrâneo oriental, mostrando que também não existem diferenças culturais ou etnicas. Em Cristo não existem diferenças oriundas de aspectos ou estamentos sociais (escravo ou livre). Mas, a Igreja é vista como uma comunidade onde Cristo é tudo em todos, ou seja, o que importa é estar em Cristo. Segundo Hendriksen, “Sua morada pelo Espírito em todos os crentes de qualquer transfundo racial, religioso, cultural ou social, assegura a criação e gradual perfeição em todos e em cada um deles”. O próprio tema desta carta chega ao seu ápice nessa frase, uma vez que o Cristo, em quem habita toda a plenitude da divindade, agora compartilha seu ser com todos os seu, ou seja, com sua Igreja, a noiva do Cordeiro. Em Cristo entramos em um mundo novo e em uma nova realidade que prefigura o Reino que virá no escatón.
Conclusão: No texto do Evangelho de hoje, Jesus é interpelado por alguém do meio da multidão pedindo que ele impele seu irmão a repartir a herança que tinha direito, com ele. Jesus olha para aquele homem e diz: “Quem me fez árbitro ou juiz entre vós?”. Em seguida nos ensina a nos resguardarmos de toda espécie de ganância porque a vida não consiste na abundância de bens. Em seguida ele passa a contar uma parábola sobre alguém que construiu um grande celeiro para colocar todos os seus bens e que, ao final, disse a si mesmo: “Descansa, come, bebe e goza a vida!”. A este homem Jesus chama de tolo, pois sua alma seria levada naquela noite.
Hoje descobrimos que precisamos cumprir certas exigências para atestar que, efetivamente, estamos em Cristo. E, dentre as exigências expostas por Paulo se encontra, em resumo dois atos, um despir e um vestir. Despir-se de todos os gestos, atos, ações e obras que falam e apontam para o velho homem e revestir-se de um “novo homem” em Cristo Jesus, usando uma nova roupa. Uma roupa que aponta para uma nova pessoa e um novo comportamento. A maior marca deste comportamento é a capacidade de distinguir o que é vão ou vaidade, daquilo que realmente é importante em nossa vida. Você já é capaz de fazer essa diferença? Você já vive uma nova vida em Cristo Jesus?