A IGREJA E O CUIDADO COM OS CASAIS

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Rev. Cônego Jorge Aquino

Um dos temas que precisam ser sempre objeto de estudo e de cuidado, por parte da Igreja cristã, em todos os momentos, diz respeito às questões que envolvem a vida em família, sua origem, dificuldades e perigos. Lamentavelmente nem todos percebem o quão importante é investir nesses temas para a saúde das pessoas e, dessa forma, de toda a comunidade. Sempre que esquecemos de olhar para cada indivíduo, acabamos por nos esquecer também de cada família e da comunidade na qual ela está inserida. No entanto, quando aprendemos a ser pastores de almas, não apenas aprendemos a conviver com o fracasso cotidiano das pessoas, mas também aprendemos a investir mais nessa esfera tão esquecida da vida em comunidade. Pensando na importância desse tema, entendemos que a Igreja precisa investir na vida dos casais de, pelo menos, quatro formas bem significativas.

Em primeiro lugar, investiremos mais na vida dos casais quando dedicarmos a esse tema nossa pregação e ensino. É claro que todos nós temos ciência da importância que o púlpito e a cátedra têm em nossa atividade pastorais. No entanto nem sempre dedicamos o tempo necessário, em nossos sermões e no nosso ensino, para instruir as pessoas sobre uma vida familiar mais significativa e cheia de sentido. Muita gente passa por dificuldades nessa área e não ouvem nada sobre o assunto da parte de seus pastores. Essa é uma lacuna que precisa ser vencida.

Em segundo lugar, investiremos mais na vida dos casais quando dedicarmos a esse tema nosso tempo na preparação daqueles que vão contrair matrimônio. Particularmente estou cada vez mais inclinado a afirmar que cada comunidade precisa ter um ministério voltado especificamente para cuidar das dificuldades por que passam as pessoas casadas. Esse ministério deverá ser, obviamente, dirigido por pessoas casadas. No entanto, acima de tudo, deverá ser dirigido por pessoas que tenham o coração aberto para ouvir, compreender e investir nessa área com dedicação. Seria importante que cada comunidade tivesse um curso de preparação para o casamento que abrangesse os grandes tópicos que essa temática se nos apresenta.

Em terceiro lugar, investiremos mais na vida dos casais, quando dedicarmos a esse tema celebrações litúrgicas significativas. Muita gente nem sequer imagina a importância que uma celebração adequada e centrada na bíblia tem na vida daqueles que a assistem. Quantos casais não são tocados pela simples celebração de um matrimônio? Quantos não se veem desafiados em refazer seus votos ao ouvirem um casal fazer os seus? Não devemos esquecer que os Anglicanos acreditam como oram – lex credendi lex orandi-, e que devemos buscar celebrar os matrimônios com toda a dedicação e o esmero que aquele momento exige.

Finalmente, investiremos mais na vida dos casais quando dedicarmos nossa atenção ao cuidado pastoral aos casais. É claro que os ministros religiosos jamais se furtarão da responsabilidade de ajudar e orientar qualquer casal, em suas dificuldades. No entanto, esse tipo de cuidado é sempre algo ocasional e contingente. Acredito, no entanto, que em nosso ministério, devemos nos dedicar para compreender sempre mais e melhor sobre esse tema. Ao fazermos isso, estaremos auxiliando os casais e fortalecendo-os para que eles sejam aptos em guardar sua aliança conjugal de uma forma mais plena e cheia de sentido.

Dizem que, em uma escola para crianças, uma professora entregou um mapa-múndi recortado para que as crianças pudessem montá-lo colocando cada pais ao lado do outro. O problema é que, naquela idade, quase nenhuma das crianças tinha a noção de onde ficam as nações do planeta. Ao observarem o lado de trás de cada peça, no entanto, elas perceberam que havia a figura de um corpo humano impressa lá. Foi nesse momento que tiveram uma grande ideia. Elas, então, viraram todas as peça e formaram a figura do corpo, vez que era mais fácil. Ao final, depois de unir todas as peças do quebra-cabeças, viraram a imagem completa e eis que viram o mapa-múndi completamente feito. Qual a lição que aprendemos? Aprendemos que quando somos capazes de reconstruir o homem, reconstruímos, também, o mundo. Se investirmos nosso tempo e nosso ministério nas pessoas e nas famílias, estaremos dando nossa contribuição para termos um mundo melhor.

Sermão do Domingo da Ascensão do Senhor

padre jorge

(Daniel 7:9-14; Efésios 1:15-23; Lucas 24:49-53)

TEMA: Há um Deus que dirige a história (Daniel 7:9-14).

Introdução: A academia sempre se preocupou em discutir sobre o sentido da história. Desde os seguidores de Hegel, até os estudiosos de Nietzsche, passando pelos marxistas, pelos positivistas e pelos seguidores da Escola dos Annales de um Marc Bloch e Jacques Le Goff, muita gente discutiu sobre o sentido da história. Afinal, pergunta-se, existe um sentido na historia? Existe uma razão que orienta nossa existência? Ainda que escutemos com emoção a música de Geraldo Vandré que dizia: “Os amores na mente, As flores no chão, A certeza na frente, A história na mão”, que revela uma certa inclinação marxista ou existencialista, somente a fé pode nos dizer que existe um sentido na vida e na história, e que esse sentido é dirigido pela vontade de Deus.

Elucidação: Quando olhamos para o contexto do texto em pauta, imediatamente nos deparamos com uma descrição simbólica dos impérios que marcariam a historia da antiguidade. Os animais descritos nos versos 1 a 8 são metáforas dos impérios babilônico, medo, persa e helênico. Estamos, portanto, diante da apresentação de um recorte da história como grande exemplo para nós de que Deus é que realmente dirige todas as coisas. Daniel, por seu turno, se encontra na Babilônia faz cinquenta anos. Seu povo está cativo e já cansado de sofre as aflições próprias de quem vive no exílio. É nesse contexto em que Daniel recebe suas revelações e assegura aos desamparados do cativeiro que “Há um Deus que dirige a história”. E é com base nesse tema que refletiremos, hoje, sobre três consequências que essa afirmação nos faz assumir, fundados no texto lido.

I. Que um julgamento está para vir (v. 9, 10). A primeira consequência que o texto nos revela diante da afirmação de que Deus dirige a história, é acreditar que um julgamento está para vir.

  1. Eis a razão do trono. A palavra que lemos aqui é o substantivo aramaico masculino korse’ que é traduzido por “trono”. A ideia de um trono nos remete à de um soberano e senhor. Somente um monarca pode, adequadamente, se assenta no trono. Ele, portanto, aponta para a existência de alguém que a tudo observa e que tudo dirige com sua vontade, seu poder, e que querer. Somente sobre Deus se pode dizer “velle est posse”, ou seja, “querer é poder”.
  2. Aquele que está assentado é o Ancião de Dias. Esta figura só aparece nesse capítulo da Bíblia (ver versos 13, 22). Estamos diante de hebraísmo que designa uma pessoa com idade e aspecto venerável. Trata-se, portanto, de uma figura de Deus, o justo juiz de todos, está assentado no trono e cercado pelos intermediadores de sua ação na história. Estes o servem e estão às suas ordens.
  3. As nações se postam para o grande momento. A sessão do grande tribunal começa e os livros são abertos. Eles apontam para o registro da vida e das ações de cada um de nós. Todos temos nossos gestos e escolhas escritas no grande livro que será aberto naquele dia. Nesses livros estão registradas as acusações e também nele ficarão escritas as sentenças (Ap 20: 12). Esse é um sinal de que nada do que fazemos passa despercebido pelo Deus da história.

Aplicação: Comparecer diante de um juiz é sempre uma experiência cheia de significados e de extrema gravidade. O que fizemos, nossos atos, nossas escolhas e mesmo nossas omissões, serão postas às claras e seremos julgados com base nelas. Nosso Deus tem toda autoridade para se assentar no trono como nosso juiz. Naquele momento estaremos em suas poderosas mãos. Como você se sente ao saber disso? Você tem a segurança de que tem, ao lado, o maior de todos os advogados ou está certo de sua condenação? As Escrituras nos ensinam que devemos nos preparar para nos encontrarmos com Deus. Prepare-se para esse grande e inevitável dia, meu amigo.

II. Os impérios desse mundo serão destruídos (v. 11, 12). A segunda consequência que o texto nos revela diante da afirmação de que Deus dirige a história, é acreditar que os impérios desse mundo serão destruídos.

  1. Apesar de suas palavras insolentes. Depois de descrever o que ocorria nos céus, o autor se volta para descrever o que ocorre no âmbito dos animais, ou seja, da história. Ele tem sua atenção voltada para as “palavras” que são proferidas pelo “pequeno chifre”. Boa parte dos comentaristas entendem que aqui temos uma referência a Antíoco IV Epífane (175-163 a.C.). Enquanto os dez chifres seriam os reis da dinastia grega dos Selêucidas, o ultimo chifre seria, portanto, uma referência a Antíoco. No entanto, imediatamente se diz dele: “e vi que o animal foi morto”. Segundo comenta Joyce G. Baldwin, “Nada mais há que dizer sobre o pequeno chifre ou qualquer dos outros, pois foram destruídos com o quarto animal, cujo corpo é consumido pelo fogo”.
  2. Apesar da imagem de poder que procura impor. Os outros animais traziam consigo uma imagem que representava seu domínio. Aqui o texto anterior nos fala do leão, do urso, e do leopardo. Todos esses animais traziam consigo uma imagem que nos remete a seu domínio e seu poder. Contudo, o texto diz que “o domínio lhes foi tirado”.
  3. Até a sobrevida que possuem lhes fora dada por Deus. Como sinal de que o Senhor é que permite sua existência. Eis a fera sendo julgada por Deus, aquele que está assentado no trono! Estas palavras indicam que o poder humano lhes foi entregue apenas por um prazo de tempo estabelecido. Os reinos desse mundo não possuem sequer o poder de se perpetuarem indefinidamente seus domínios. Nenhum dos grandes impérios da história foram capazes de evitar seu ocaso e sua ruína. Seu futuro é, portanto, limitado pela vontade de Deus.

Aplicação: No texto de Efésio, lido hoje, vemos Paulo ensinar que Deus estabeleceu a Cristo como senhor de todos os principados, potestades, poderes e domínios da terra, fazendo-o assentar nos lugares celestiais. De fato, Deus colocou todas as coisas debaixo dos pés de nosso Senhor para que ele fosse o cabeça de tudo. Ao ser recebido nos céus, Jesus foi estabelecido como Senhor de tudo. Mas seu Reino, que já está entre nós, ainda não se apresentou plenamente. Para que isso venha a ocorrer, todos nós precisamos nos submeter a seu domínio e confessá-lo como nosso Senhor e nosso Deus. Você já o acolheu como Senhor de sua vida?

III. Que o Messias estabelecerá seu Reino (v. 13, 14). A terceira consequência que o texto nos revela diante da afirmação de que Deus dirige a história, é acreditar que o Messias estabelecerá seu Reino.

  1. Vindo do céu. Ele vem com as nuvens do céu. O substantivo aramaico masculino singular que é usado aqui, ‘nan, se traduz por nuvem e é uma hapaxlegomena que só aparece aqui em todo o Antigo Testamento. Notemos que no Antigo Testamento as nuvens eram o ambiente no qual Deus se manifestava (ver Salmo 104: 3 e Isaías 19: 1). Com isso em mente, entendemos que ao “vir com as nuvens”, o autor quer dizer que o Filho do Homem tem origem celestial e de lá vem por iniciativa divina.

Há aqui um jogo de palavras interessante. Fala-se na vinda do Filho do Homem, e em seguida, fala-se que ele dirigiu-se ao Ancião de Dias, que está no céu. Essa é uma vinda que não se concretiza porque fica nas nuvens à espera daqueles com quem comparecerá perante o que está assentado no trono.

  1. Como Filho do Homem. Quando olhamos para o aramaico, sabemos que quando se fala em “Filho do Homem”, se quer falar sobre “um ser humano”. Joyce G. Baldwin, comentando esse texto diz que “O efeito da expressão, assim, é intensificar a qualidade em questão, de tal modo que ‘filho de homem’ acentua a humanidade da pessoa em foco”. Há uma distinção entre aquele que é chamado de “Filho do Homem” e os “animais”. Esta distinção diz respeito, antes de mais nada, à natureza daqueles que são descritos no texto. Se, de um lado, temos animais, do outro, temos alguém plenamente humano. Se com o pecado os reinos foram como que animalizados, em Jesus, o homem novo passa a gerar uma nova história fundada em um novo Reino. É importante registrar que esta mesma expressão é utilizada pelos Evangelhos sinópticos – e doze vezes no Evangelho de são João -, para se referir a Jesus. Nenhum outro título foi usado com mais frequência por Jesus para falar de si mesmo.
  2. Na presença do Ancião de Dias. Agora o texto nos diz que o Filho do Homem é levado para receber três sinais de sua majestade: poder, glória e o Reino. É na presença de Deus que o Filho do Homem, segundo comenta Joyce G. Baldwin, recebe a investidura das mãos daquele que está no trono. De fato o texto nos diz que ele foi levado até o Ancião de Dias, revelando a presença de um certo ato cerimonial que nos faz pensar em uma investidura celestial. Deus acolhe o Filho que assumiu a condição de homem e o entroniza como Senhor, dando-lhe as três maiores joias de sua coroa: o Reino, a glória e o poder.
  3. E todos o servirão. Vindos de todos os povos e nações e línguas da terra. E seu Reino não passará já que seu domínio é eterno. É ainda Baldwin que afirma, “Todos os povos, nações e línguas, em vez de adorarem uma estátua sem vida (3: 4, 5) servirão a esse homem. O fato de os reinos dos animais ou bestas não serem ‘para sempre’ torna ainda mais agudo o contraste entre eles e o novo governante da terra, porque é total alegria a constatação de que o Seu reino será eterno e nunca passará”.

Conclusão: No texto do Evangelho de hoje lemos que nosso Senhor promete nos enviar a “promessa de meu Pai”. Para tanto, os discípulos deveria permanecer na cidade até serem “revestidos” de poder”. Diz o texto que Jesus os levou até Betânia, os abençoou e, enquanto os abençoava, foi sendo elevado até o céu. Essa imagem causou imensa alegria nos discípulos que, cheios de alegria, adoraram a Jesus, voltaram para Jerusalém e estavam sempre presentes no templo, louvando a Deus. A gloriosa ascensão do Senhor e seu recebimento nos céus, apontam para nossa própria chegada na presença de Deus, que se faz por meio dele. É Ele que nos eleva até a presença de Deus, preparando nossa vida pela presença santificadora do Espírito Santo e nos habilitando com a “promessa do Pai”. Nossa vida nessa realidade onde o Reino Já, mas ainda-não, foi estabelecido entre nós, deve ser marcada pelo júbilo e a alegria que somente a certeza de que Deus dirige a história, pode nos dar. De fato, Ele tem dirigido pessoalmente a história de muitos, mas também está disposto a dirigir a sua, querido ouvinte. Você está disposto a permitir-se ser guiado e dirigido pelo Senhor?

BREVE REFLEXÃO SOBRE O CATECISMO DA IGREJA ANGLICANA NA AMÉRICA DO NORTE – Para Ser um Cristão

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Rev. Cônego Jorge Aquino

15. O que você deve fazer quando se voltar para Deus para a salvação em arrependimento e fé?

Se eu ainda não fui batizado, seguindo a instrução adequada, eu deveria ser batizado na morte e ressurreição de Jesus Cristo, e assim ser membro do seu Corpo, a Igreja. (Mateus 28: 19-20, I Coríntios 12:13)

 Comentário:

A grande questão que esta pergunta levanta diz respeito ao primeiro passo que devemos tomar, logo após nos voltarmos para Deus por meio do arrependimento e da fé. Muito embora o arrependimento e a fé sejam eventos salvíficos que ocorrem na esfera íntima do indivíduo, o Catecismo agora aponta para um evento que ocorre na esfera pública: o batismo. Com isso em mente, somos apresentados pela resposta à essa questão, a três temas bem específicos.

Em primeiro lugar, o início da resposta leva em consideração a possibilidade de que o indivíduo já tenha sido batizado. É por isso que a resposta afirma: “se eu ainda não fui batizado”. Essa expressão, por certo, aponta para a mesma direção apontada por Santo Agostinho quando, em seu debate com os Donatistas, repudiava a prática do rebatismo. Devemos lembrar que os seguidores de Donato acreditavam que, em caso de uma apostasia ou do abandono da fé, caso houvesse uma volta à fé cristã, a pessoa deveria ser rebatizada. Os Anglicanos, portanto, tem essa mesma postura, ou seja, não rebatizam aqueles que já receberam o sinal externo dessa graça interna por meio do sacramento do batismo.

Um segundo elemento que é exposto pela resposta do Catecismo é que nosso batismo é uma forma de nos relacionarmos com “a morte e a ressurreição de Jesus Cristo”. Em sua carta aos Romanos, Paulo argumenta que aqueles que já morreram para o pecado não podem mais viver nele. E arremata dizendo: “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados em sua morte? (…) para que, como Cristo ressuscitou dos mortos (…), andemos nós também em novidade de vida” (Rm 6: 3,4). Nossa união com Cristo, em sua morte e ressurreição, toma forma no nosso batismo, pelo qual expressamos que com Ele morremos para essa realidade temporal e ressuscitamos para viver uma nova vida.

Um terceiro ponto que pode ser encontrado na resposta contida no Catecismo é que, por meio do batismo nos tornamos membros do “corpo de Cristo, a Igreja”. O texto de Paulo aos Coríntios faz referência à nossa entrada no Corpo de Cristo que é a Igreja, por meio de um evento descrito por ele como nosso batismo “em um Espírito” (I Co 12: 13). Quando somos batizados em um Espírito, portanto, passamos a fazer parte da comunidade dos que creem. No entanto, é preciso que essa fé se expresse de forma externa. O texto do Evangelho de São Mateus é significativo porque coloca o Batismo como algo que ocorre depois do “ensino”. Quando o texto diz: “portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”, ele quer nos dizer que o batismo é o resultado esperado depois de que os discípulos “foram” e “ensinaram”. O resultado dessa ação dos discípulos é o batismo em nome da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Os Anglicanos, portanto, não apenas valorizam a missão e o ensino, mas também entendem que o batismo só deve ser praticado em nome da SS. Trindade. Qualquer outra fórmula deve ser rejeitada.

Em resumo, toda conversão à Cristo, implica na assunção de nossa condição de servos e, portanto, em obedecermos seu mandamento, recebendo o batismo e nos unindo à sua Igreja. Que, na condição de cristão, possamos realmente tê-lo como Senhor de nossa vida e que o sirvamos obedientemente, assumindo todas as consequências para os quais aponta o rito batismal.

RELACIONANDO-SE COM AS REDES SOCIAIS

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Rev. Cônego Jorge Aquino

Não há como negar a absoluta necessidade que temos hoje de conviver com as chamadas “redes sociais”. Qualquer pessoa, em qualquer rincão de nosso planeta, tem hoje, que conviver com essa realidade absolutamente onipresente. É difícil encontrar alguém hoje, que não possua um e-mail, que não esteja no facebook, que não visite o youtube, que não utilize o instagram ou que não se comunique por meio do whatsapp.

O problema é que a utilização desses recursos que, a bem da verdade, otimizam nossa vida, pode trazer sérios problemas para nossa vida diária e, dessa forma, ao invés de serem instrumentos de ajuda acabam por prejudicar as pessoas tanto de uma perspectiva emocional quanto relacional. Para que evitemos essas complicações, acredito que podemos investir em três cuidados essenciais.

Em primeiro lugar, precisamos cuidar para não nos preocuparmos muito com a quantidade de amigos ou seguidores que temos. Já está mais do que comprovada a ação destrutiva das redes sociais sobre os nossos mecanismos de satisfação mental. Isso significa que os níveis de dopamina se elevam à proporção que nos relacionamos mais e melhor com mais pessoas. Ora, como sabemos, a maioria das recompensas aumenta o nível de dopamina no cérebro da mesma forma que as drogas aumentam a atividade neuronal da dopamina. Encontrar algo ou alguém, efetuar uma pesquisa ou uma compra, pode redundar em uma enorme satisfação. Essa satisfação pode se retroalimentar de tal forma que a pessoa acaba por se encontrar aprisionada em um círculo vicioso de prazer que nos enreda tanto quanto as drogas. Ademais, essa espécie de sistema de satisfação trabalha a partir de um dado absolutamente falacioso: o de que o número de amigos que você tem é igual ao de pessoas que estão no seu facebook. Acredite, você não tem tantos amigos assim. Falando francamente, os bons amigos que você tem podem ser reduzidos aos dedos de suas mãos. Portanto, não morra de preocupação com a quantidade de pessoas que você tem em seu facebook. Somente pessoas altamente superficiais ou aprisionadas pelo sistema de retroalimentação e satisfação da rede realmente “precisam” de tanta gente pra ser feliz.

Em segundo lugar, precisamos cuidar para não nos tornamos escravos das “curtidas” ou “compartilhamentos”. É verdade que os seres humanos precisam ser aceitos em um determinado grupo para serem felizes. Afinal somos seres gregários e sociais. No entanto, o mecanismo de retroalimentação e satisfação da rede é tão forte que, quando publicamos algo, temos a absoluta necessidade de ver que o que publicamos foi muito “curtido” ou até mesmo, “compartilhado”. Se ninguém “curtiu” nossa publicação, então fomos desprezados e ninguém nos deu atenção. Acredite, isso é realmente devastador para uma pessoa que necessita da “aprovação” dos outros para ser feliz, ou seja, para aquelas pessoas que não vivem sem serem reconhecidas pelo que fizeram ou pelo que pensa. Há pessoas que chegam até à depressão em circunstâncias como essas. Mas, acredite, nós realmente não precisamos disso para viver ou para sermos felizes.

Finalmente, precisamos cuidar para que não precisemos reagir com celeridade aos estímulos do sistema. Estudos revelam que as pessoas dão aquela “olhadinha” em seu celular, mais de cem vezes por dia, para ver se há alguma mensagem ou e-mail para responder. Essa necessidade de estar sempre “on-line” no fundo revela uma imensa necessidade de retroalimentação em seu mecanismo de satisfação. Ela precisa estar atenta às novas oportunidades que aparecem para comprar ou vender algo; precisam responder com celeridade a quem lhes enviou alguma mensagem; precisam saber o mais rápido possível o que está ocorrendo no mundo. Pessoas assim, acabam se tornando escravas das oportunidades que as novas tecnologias lhes apresentam. O mais triste é que essa escravidão está ocorrendo cada dia mais precocemente. Tudo começa quando vemos que as crianças não conseguem mais largar o celular, presas que estão pelos joguinhos virtuais. Crianças assim acabarão se tornando adultos dependentes da internet ou da rede de satisfação como estivessem dependentes de alguma droga. Pior, se tornarão adultos com uma enorme dificuldade de desenvolver um relacionamento pessoal mais intenso com alguém que não esteja do outro lado de uma tela.

Estou cada vez mais convencido de que só conseguiremos superar essas armadilhas oriundas das novas tecnologias se começarmos a exercitar nossos valores com bastante disciplina. Por isso, além de possuir bons valores, precisamos pô-los em prática na nossa vida cotidiana. Lembremos das palavras da letra escrita por Renato Russo que diz: “disciplina é liberdade”. Somente assim seremos realmente aptos para resistir à tentação que a rede nos impõe.

Sermão do 6º Domingo da Páscoa

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Rev. Cônego Jorge Aquino

(Isaías 41: 17-20; I Pedro 3: 8-18; João 15: 1-8)

TEMA: A plena restauração do povo de Deus (Isaías 41: 17-20).

Introdução: Às vezes me pego pensando naqueles judeus que foram levados para o Campo de Concentração em Auschwitz, no sul da Polônia, e que vivenciaram a libertação em janeiro de 1945. Muitos testemunharam ali, a morte de quase 1.3 milhão de pessoas; sofrerem com a fome, a sede, o frio, e a absoluta falta de esperança de um dia retornarem para seus lares e familiares. Muitos perderam tudo ali. No entanto, no dia da libertação, imagino que eles se lembraram do Salmo 126 que diz: “Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha”. A história está cheia de momentos em que, diante da absoluta desesperança, Deus nos visita com o milagre da restauração.

Elucidação: Um dos maiores eventos no qual Deus revelou seu poder e sua misericórdia, foi a restauração de Israel do cativeiro Babilônico. Depois de quase duas gerações escravizado em estranha, o povo de Deus vislumbrou sua salvação e passou a imaginar a chegada daquele dia maravilhoso. De acordo com o pensamento de A. R. Crabtree, nesta passagem do profeta Isaías, podemos vislumbrar uma resposta “às dúvidas e aos problemas que os exilados enfrentavam nos seus pensamentos sobre a volta do cativeiro para a sua terra”. O que povoava a mente do povo naquele momento eram os problemas e os sofrimentos que teriam que enfrentar em sua longa peregrinação, através do deserto, desde a Babilônia até a Palestina. Inevitavelmente eles pensavam no sofrimento das crianças, no cansaço dos mais velhos, bem como na sede e na fome de todos. É nesse contexto em que o povo de Israel busca água, mas só encontra o deserto, que o profeta apregoa “A plena restauração do povo de Deus”. É com base nesse tema que refletiremos, hoje, sobre três aspectos que essa restauração nos revela.

I. Uma necessidade vislumbrada (v. 17).

No versículo 17 o profeta descreve o lugar em que o povo de Deus as vezes se encontra: o deserto. Este lugar é privilegiado nas Escrituras como um lugar em que não apenas nossa necessidade se torna mais visível, mas também como o lugar em que Deus se apresenta como um Pai gracioso. Segundo Schökel e Diaz, este texto trata da “situação difícil no deserto, a eterna experiência da sede, que num momento é questão de vida e morte”. Aqui vemos que:

  1. O povo de Deus é descrito como aflito e necessitado. Os judeus aqui são chamados de “aflitos” porque eles são vítimas de violência e agressão. A origem etimológica desse adjetivo se encontra no latim (Affligere) e é o resultado da união de dois termos: o prefixo “Ad”, que significa “para” e a raiz “Fligere”, que significa “bater” ou “golpear”. Todos os que passam pela experiência da prisão sentem, no corpo e na alma, a agressão que lhes é imposta. Ser necessitado, aponta para algo acerca do qual não podemos abrir mão. A origem dessa palavra é o latim (Necessitas) e tem o prefixo negativo “Nec” que significa “não” e a raiz “Cedere” que significa “recuar” ou “ceder”. Assim, o necessitado é alguém que sente falta daquilo que é absolutamente essencial e que não pode ceder ou abrir mão. O aflito e necessitado é aquele que vive em condição de angústia e tristeza.
  2. A causa dessa situação é a ausência de água. Conforme ensina o verso 17, essa aflição e necessidade são causadas pela ausência completa de água. Como postula J. Ridderbos, “A sua angústia é comparada com a de uma sede extrema; eles procuram água, mas ela não existe; de forma que as suas línguas ficam secas”. Devemos perceber que utilizar a sede como uma metáfora para a mais extrema pobreza é uma figura muito comum no Antigo Testamento. Essa figura é muito significativa para os habitantes da Palestina e dizem respeito não apenas a uma angústia física e temporal, como também a uma profunda aflição espiritual (ver Salmo 42: 1). De fato, viver como escravo ou mesmo migrar pelo deserto em busca da terra prometida, é uma experiência física e existencialmente extenuante, que nos remete a um sofrimento indizível.

Aplicação: Aprendemos da leitura do Evangelho de João 15: 1-8 que, assim como os ramos recebem a vida por meio da seiva que vem da videira, todos os que estão unidos à Cristo recebem dele a vida espiritual que lhes permite viver em completa abundância e de frutificar em todas as coisas. Somente assim seremos verdadeiros discípulos de Cristo. Meu querido amigo, você tem manifestado em sua vida os frutos próprios de quem está em uma nova vida com Deus?

II. Uma provisão revelada (v. 17b-19).

Diante da necessidade vislumbrada de forma clara, como uma fratura exposta, Deus agora apresenta a provisão para seu povo. Essa provisão é composta de alguns itens fundamentais.

  1. Um Deus que nos ouve (v. 17b). O versículo 17 termina nos dizendo que o Senhor, o Deus de Israel, nos ouvirá e não nos desamparará. A palavra hebraica usada aqui é “’azabh”, que quer dizer “abandonar”, “permitir”, “entregar” ou “deixar”. Isso significa que Deus não nos “deixará”, como o povo o “deixou” para seguir a outros deuses. Se Ele negativamente não nos abandonará, positivamente, Ele nos ouvirá. Sabemos que esse “ouvirá” pressupõe “que na sua ansiedade em busca de água estava implícito um clamor à Deus” (Ridderbos). O povo clamará a seu Deus e esse o ouvirá; e assim será porque nosso Deus está sempre disposto a nos ajudar e a atender a todos os nossos reclamos.
  2. Um Deus que nos responde com abundância (v. 18). O verso 18 nos diz que Deus, com seu extraordinário poder, vai fazer com que as fontes irrompam por toda parte; sejam os altos, sejam os vales. Os desertos se tornarão em açudes e os desertos em mananciais. Com a água abundante virá a vida para o povo de Deus.
  3. Um Deus que nos dá uma flora exuberante (v. 19). O cedro, a acácia, a murta e a oliveira vão brotar em meio ao deserto formando uma estrada para que o povo escolhido trilhe e chegue até a terra santa. Segundo Ridderbos, esse texto nos fala de uma “recriação da natureza (…) mediante a qual o deserto se transforma em um paraíso”. A realidade de escassez dá lugar a uma exuberância que alimenta o povo de Deus tanto espiritual, quanto materialmente.

Aplicação: O texto de I Pedro 3: 8-18 nos deixa claro que, assim como Cristo reagiu com longanimidade e paciência, frente aos seus acusadores e detratores, os cristãos também são capacitados a praticar o bem e a amar fraternalmente à semelhança de seu Senhor. Aqueles que experimentaram a sede e a fome são agora convidados a provarem de uma vida abundante e exuberante que se reflete claramente nos relacionamentos modificados. Quem conheceu a abundância e a exuberância da vida no Espírito, tem o compromisso de reagir de forma diversa à acusação e violência. 

III. Uma justificação apresentada (v. 20).

A consequência da ação histórica de Deus, afirmam Schökel e Diaz, será o “reconhecimento”, ou seja, a “aceitação com fé da revelação feita em palavras e ações. Os olhos veem a história, a fé reconhece o protagonista”.

  1. Para que todos saibam. Deste verso compreendemos que o Deus que cria o novo é aquele que quer que todos tenham ciência de que somente Ele pode fazer novas todas as coisas. A palavra hebraica usada nesse texto é “yadha‘”, uma palavra que pode ser traduzida por “conhecer” ou “saber”, mas que possui uma grande variedade de sentidos figurados e literais. O sentido mais comum desse verbo é “saber”, “aprender”, “discernir”, “conhecer relacionalmente alguém” ou “ser informado de algo”. É isso que Deus deseja que o mundo tenha ciência: de que Ele fará novas todas as coisas.
  2. Que a mão do Senhor fez isso. Como nos ensina Ridderbos, a Sua maravilhosa intenção “será tão esplêndida que se tornará claro para todos os que virem, que só a mão do Senhor o poderia ter feito”. A “mão” do Senhor é uma metáfora de seu poder. A palavra usada aqui, “yadh”, significa não apenas “mão” e “força”, mas, metaforicamente, significa “poder”, “autoridade” ou “direito” para fazer algo.

Conclusão: Assim como o povo de Deus experimentou a plena restauração ao retornar à sua terra, depois de tanto tempo de exílio, ainda hoje somos convidados a compreender que, eventualmente, poderemos experimentar a sede e a ausência de vida por algum tempo, para que saibamos experiencialmente que Deus jamais nos deixará ou nos abandonará. Muito ao revés, Ele se manifestará no tempo certo para salvar seu povo da destruição e revelará oportunamente uma realidade ainda mais elevada do que aquela em que seu povo estava antes. E isso será assim, porque a ressurreição de Cristo nos garante a vitória sobre todas as forças do mal. Em Cristo somos convidados a ter uma vida muito mais rica e cheia de vida do que aquela que nos oferece o mundo. Será que você está disposto a viver uma vida plena em Jesus?

IGREJA LIVRE DA INGLATERRA HOSPEDARÁ FÓRUM

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Em 8 de junho de 2017, os bispos da Igreja Livre da Inglaterra irão hospedar um fórum ao qual uma ampla gama de anglicanos tradicionalistas foram convidados. O fórum será moderado pelo Reverendíssimo Bispo Foley Beach, Arcebispo da Igreja Anglicana na América do Norte. A esperança é que um processo possa ser iniciado para reunir o testemunho, até agora fragmentado, de anglicanos tradicionalistas no Reino Unido.

BREVE REFLEXÃO SOBRE O CATECISMO DA IGREJA ANGLICANA NA AMÉRICA DO NORTE – Para Ser um Cristão

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Rev. Cônego Jorge Aquino

14. Como alguém pode se arrepender e por sua fé em Jesus Cristo?

Qualquer pessoa pode se arrepender e por sua fé em Jesus Cristo a qualquer momento. Uma maneira de fazer isso é fazendo ora oração sincera, semelhante a Oração de Arrependimento e Fé apresentada acima (João 15:16, Atos 16: 31-34, Romanos 10: 9, Hebreus 12:12).

Comentário:

O tema do Arrependimento e Fé é sempre significativo na teologia cristã. Independentemente da chamada Ordo Salutis, estes dois elementos são vistos como básicos para a salvação. Pensando nisso, é importante compreender que o arrependimento e a fé se relacionam intimamente. Dessa forma, o arrependimento e a fé são atos internos, condições e não meios para a salvação e coexistem harmonicamente no movimento do pecador em voltar-se em direção a Deus.

A resposta apresentada pelo Catecismo ensina que qualquer pessoa pode se arrepender e depositar sua fé em Jesus Cristo. Vindo depois da Regeneração e antes da Justificação na Ordo Salutis, percebemos que o arrependimento – conforme a visão mais apropriadamente Reformada do termo -, é natural naqueles que foram predestinados e eficazmente chamados para a salvação por meio da Regeneração.

O próprio Catecismo faz referência a uma forma de externalizar seu Arrependimento/Fé apresentando a Oração de Arrependimento e Fé que aparece no início da seção que trata das questões relativas à salvação. Essa oração é como se segue: “Senhor Jesus Cristo, confesso as minhas falhas, faltas, pecados e atos rebeldes, e peço-te que me perdoes. Eu te abraço, Senhor Jesus, como meu Salvador e Senhor. Obrigado por tua morte expiatória na cruz, em obediência à vontade do Pai de pôr de lado os meus pecados. Eu te entronizo, Senhor Jesus, para estar no comando de cada parte de minha vida, e peço que habite em mim e me habilite com seu Espírito Santo, para que eu possa viver como teu fiel seguidor de agora em diante. Amém”.

O texto do Catecismo encerra sua exposição apresentando quatro textos bíblicos que servem de base para o desenvolvimento teológico que dá suporte a esse pensamento. Os textos são: João 15:16, Atos 16: 31-34, Romanos 10: 9, e Hebreus 12: 2. O texto do Evangelho de João 15:16 nos diz que não fomos nós que escolhemos ao Senhor, antes, foi Ele que nos escolheu e nos nomeou para darmos frutos e que nosso fruto permanecesse. O texto de Atos 16: 31-34 nos diz que Paulo e Silas respondem a pergunta feita pelo carcereiro de Filipos sobre o que ele deveria fazer para ser salvo, dizendo que ele deveria crer no Senhor Jesus Cristo para que ele e sua família fossem salvos. Diz também o texto que naquela noite Paulo e Silas pregaram o Evangelho à família do carcereiro e todos foram batizados como sinal de sua fé. O texto da Epístola aos Romanos 10: 9 ensina que se com a nossa boca confessarmos o Senhor Jesus, e em nosso coração crermos que Deus o ressuscitou dos mortos, seremos salvos. Por fim, temos o texto de Hebreus 12: 2 afirmando que devemos manter nossos olhos em Jesus, o autor e consumador de nossa fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, foi capaz de suportar a agonia da cruz, desprezando a afronta que lhe fora feita, e assentou-se à direita de Deus, em seu trono, sendo estabelecido como Senhor.

PRESBÍTEROS E SACERDOTES NA IGREJA ANGLICANA

Nicholas_Ridley

Rev. Cônego Jorge Aquino

Na Igreja Anglicana ainda mantemos as três ordens oriundas da igreja primitiva e que são: diácono, presbítero e bispo. No entanto, os presbíteros também têm sido chamados de sacerdotes. Qual a razão do uso desse termo? Seria correto utilizá-los para indicar os presbíteros anglicanos? Pensando em responder a essas questões, faremos as seguintes considerações.

Antes de mais nada, é preciso saber que a palavra “presbítero” é originária do termo grego “presbyteros“, que significa “ancião” ou “mais experiente”. No inglês antigo, esta palavra era pronunciada como preost e, posteriormente, priest. Deve ser digno de nota que ela não é equivalente ao termo latino sacerdos, que origina a palavra “sacerdote”, ou seja, aquele que oferece um sacrifício.

Embora os Anglicanos também utilizem a palavra “sacerdotes”, é preciso compreender que nós não a utilizamos no sentido de sacerdos, e sim como presbyteri. A diferença é fundamental. Primeiramente, dentro de uma perspectiva bíblica e litúrgica, ou seja, tanto o Novo Testamento quanto o Livro de Oração Comum, entendem essa palavra como essencialmente pastoral, e nunca como uma atividade mediadora. Isso significa que o múnus do presbítero é o de pregar, administrar os sacramentos e pastorear o rebanho de Deus. A atividade sacrificial ou mediadora só vai ser associada ao ministério presbiteral com a entrada, na Igreja Cristã, das multidões oriundas do paganismo, com a conversão do Imperador Constantino. É nesse momento que práticas e nomenclaturas pagãs passaram a ser utilizadas pelos cristãos.

Eis o segundo aspecto, o teológico. Muito embora a Igreja Latina tenha absorvido a teologia pagã que associava o exercício presbiteral ao de um sacerdote pagão – que oferecia sacrifícios aos deuses, muitos setores da igreja resistiram a essa postura. Dessa forma, embora a Igreja Romana entenda que a missa é uma “renovação incruenta do sacrifício de Cristo”, no qual Cristo é novamente sacrificado na forma de hóstia (do latim: vítima) nos altares diariamente, pelas mãos dos sacerdotes, os Anglicanos não comungam dessa leitura.

Desta forma, fica claro que entre os Anglicanos – embora ainda seja utilizada a palavra “sacerdote” para designar seus presbíteros, queremos com isso, unicamente, fazer referência ao aspecto pastoral de quem tem a obrigação de pregar a Palavra de Deus e de administrar os Sacramentos – conforme ensina o Novo Testamento e nossa liturgia. A ideia de alguma atividade sacrificial está absolutamente ausente de nossa teologia, bem assim de nossa liturgia e prática pastoral.

Por fim, é importante registrar que este tema precisa ser compreendida, também , a partir da virada linguística (linguistic turn) que ocorreu no início do século XX por pensadores como Ludwig Wittgenstein. Para esse movimento, as palavras são marcadas por três características: a ambiguidade, a vagueza, a porosidade. Isso significa que a linguagem é um terreno mais difícil de percorrer do que imaginávamos. Quando falamos em “ambiguidade”, por exemplo, lembramos que uma mesma palavra comporta sentidos diferentes. É assim com a palavra “pena”, que tanto pode indicar um sentimento, um elemento da plumagem das aves ou uma forma de punição atribuída a um infrator. Quando falamos da “vagueza”, descobrimos que a palavra nem sempre esgota ou não preenche todo o sentido que pretende. Por fim, quando falamos em “porosidade”, lembramos que um vocábulo se permite influenciar, absorve outras leituras, visões e sentidos.

É com o estudo da Linguística de  Ferdinand de Saussure que encontraremos outra grande contribuições sobre a  língua como sistema semiológico. Partindo da conhecida esquematização da comunicação baseada entre emissor e receptor, Saussure opera uma separação entre os elementos psíquicos, físicos e fisiológicos. Se, por um lado, a linguística estuda o ato individual da fala, por outro ela também se envereda pelo estudo da dimensão psíquica na medida em que se centra no fato social, ou seja, no fato de que todos os indivíduos reproduzem – ainda que aproximadamente – os mesmos signos unidos aos mesmos conceitos. Ele também vai distinguir no signo o significado e o significante. O significante são os elementos concretos, materiais e perceptíveis de uma palavra, o que ele chamava de imagem acústica. O significado é o elemento inteligível, conceitual, ou seja, é uma imagem mental que surge quando ouvimos ou lemos o significante. A união desses dois elementos é o signo. O referente, por sua vez, nos fala do objeto particular a que a palavra corresponde no caso concreto da circunstância ou do uso. Tudo isso nos fala o estudo empreendido por Saussure sobre a língua. Aliás, normalmente entende-se por “língua”, um sistema que expressa de forma verbal e/ou escrita, um pensamento. Esse sistema, para ser visto como tal, precisa ter um conjunto de regras bem definidas chamada, comumente, de gramática. Quando a língua expressa cabalmente um pensamento, estaríamos diante de uma linguagem.

Um estudo sério dessa questão, portanto, não pode ser realizada sem levar em consideração aspectos históricos, linguísticos e, por fim, teológicos. A tese teológica que está por trás dessa leitura do termo “sacerdote”, inclui o termo dentro da verdade bíblica de que todos os cristãos são sacerdotes e que não precisamos de ninguém que nos leve diretamente – na condição de mediadores – até Deus.

AS GRANDES DISCIPLINAS MEDIEVAIS

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Rev. Cônego Jorge Aquino

A Idade Média, lamentavelmente, tem sido chamada de “A Idade das Trevas”. Particularmente não comungo dessa opinião, até porque ela é fruto de um ponto de vista que precisava impingir sobre o período anterior uma visão inferior. Refiro-me ao Iluminismo, que se julgava um período de Luzes, de pessoas iluminadas pela razão e que viera para trazer o esclarecimento (aufklärung) para toda a humanidade. Foi durante esse momento que a Idade Média foi associada às trevas.

O que conhecemos por Idade Média, surge com a queda do Império Romano Ocidental e vai até o movimento conhecido como Renascimento, abrangendo um período que vai do século V até o século XV. O que as pessoas em geral desconhecem é que esse foi um período de extremo desenvolvimento da filosofia, da literatura, da cultura e das técnicas. Muito do que sabemos hoje, devemos aos intelectuais do Medievo que, não apenas preservaram o conhecimento, mas, muitas vezes o traduziram para as línguas vulgares da época e espalharam cópias pelos antigos monastérios existentes.

Uma das reflexões mais comuns desse período dizia respeito às disciplinas espirituais. Para os monges do Medievo, era preciso desenvolver disciplinas que nos instruíssem a viver uma vida cristã mais significativa e cheia de sentido. Para tanto, era preciso vencer os três grandes inimigos dos cristãos: a riqueza, a luxuria e o poder. Para vencer a cada um desses três inimigos, os religiosos precisavam fazer seus “votos” para com Deus. Isso não significa que um dia seriam capazes de vencer todas as dificuldades e tentações, mas que é preciso disciplinar a alma e o espírito por meio desses compromissos com Deus. Conforme afirmamos, isso não significa que venceremos sempre, mas que tentaremos vencer. Como disse Tomas Merton, “Não queremos ser iniciantes, mas que nos convençamos do fato de que nunca seremos nada mais do que iniciantes, a vida inteira”.

Para os religiosos desse quartel da história, a única forma de disciplinar os ministros contra a riqueza seria fazê-lo optar por fazer o conhecido “voto de pobreza”. É claro que a visão medieval é um tanto quanto exagerada no que tange ao dinheiro. Mas, quando olhamos para nosso dias, enxergamos muitas comunidades que se dizem cristãs valorizando tanto o dinheiro e centrando tanto seu tempo e suas mensagens sobre esse tema, que temos a impressão que elas não passam de reflexos religiosos de uma cultura fortemente capitalista. Esse reflexo quase chega a transformar a célebre frase de Descartes em algo do tipo: “Consumo, logo existo”. Exercitar o desapego é fundamental para os cristãos. Não temos que nos prender às coisas ou acumular bens em nossas vidas. Paulo já nos instruía em sua primeira carta a Timóteo “tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos” (I Tm 6: 8). Os que buscam a riqueza e os bens, acabam por cair em tentações, armadilhas, e mergulham na ruína e destruição. A disciplina dos bens é fundamental. Não que tenhamos que viver uma vida de pobreza extrema, mas que aprendamos a viver uma vida mais simples e frugal, sabendo que, quando possuímos algo, esse algo também nos possui.

O segundo grande inimigo da vida consagrada, segundo os pensadores medievais, era a luxuria. A luxuria é o apego desmedido ao que é relativo à carne e a seus prazeres relacionados à sensualidade e sexualidade. A única forma de vencer esse inimigo era por meio do “voto de castidade”. Discordamos da visão medieval que associa o sexo ao pecado. No entanto, entendemos que a sexualidade e a sensualidade precisam ser disciplinadas sob pena de nos perdermos no mar do desejo desmedido. Em nossos dias a sexualidade parece não ter limites ou disciplina alguma, tendo se transformado em verdadeira obsessão ou perversão para muita gente. O sexo é um artigo que pode ser encontrado em qualquer esquina e a nossa sociedade consome esse artigo com avidez. Contudo, quando experienciado de forma indisciplinada e descontrolada, o sexo pode ser o início da ruína para qualquer cristão.

O ultimo grande inimigo da vida cristã, segundo a cosmovisão medieval, era o poder. Ter poder na sociedade medieval significava fazer parte de uma das castas superiores. Ou bem a pessoa era um nobre, um cavaleiro ou um membro da hierarquia eclesiástica. Seja como for, exercer poder sempre fascinou a humanidade. Para vencer esse ultimo inimigo era necessário fazer um “voto de obediência”. Ainda hoje, há muitos que almejam o poder. Ao lado do poder estão todos os outros elementos que nos escravizam: o dinheiro e o sexo. O poder hoje, também é, ao lado do sexo e do consumo, uma obsessão para as pessoas, ou mais, é um ícone da vitória ou do sucesso. Quão dispare é o ensino de Jesus. Primeiro Ele nos ensina que aquele que quiser ser o maior deve aprender a ser o menor; em seguida nos diz: “sabeis que os governadores dos povos os dominam e que são as pessoas importantes que exercem poder sobre as nações. Não será assim entre vós” (Mateus 20: 25, 26); finalmente o próprio Jesus se apresenta como aquele que não veio para ser servido e sim para servir e dar a sua vida em resgate de muitos. Qualquer cristãos que queira seguir os passos de Jesus terá que abdicar do “poder” e aprender a “servir”.

Embora um tanto quanto exagerado, como de resto seria comum dentro da realidade sócio-cultural da época, os pensadores espirituais do Medievo nos legaram muitas e excelentes instruções. Uma delas diz respeito aos três votos que os ministros deveriam fazer e que devem ser experimentados – de forma atualizada, é claro – por cada cristão hoje. As verdadeiras disciplinas hodiernas que libertam o cristão dos grandes inimigos de uma vida espiritual mais plena são, portanto a simplicidade de vida, a sexualidade amadurecida e o serviço ao outro ou ao “próximo”. Amemos a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos e, dessa forma, cumpriremos a lei de Deus e disciplinaremos nossas vidas e práticas.

Rev. Cônego Jorge Aquino no Matrimônio de Mariana e Wellington

Embora tenham se conhecido no maternal da Escola Doméstica, a administradora Mariana Pinheiro e o procurador Wellington Fernandes só começaram a dar seus primeiros passos juntos em um show realizado no Imirá em maio de 2006. Onze anos e um dia depois, no mesmo local, eles resolveram se unir em Matrimônio. Bom, eu tive a honra de ser convidado para presidir a cerimônia dessa data memorável e tive o prazer de ouvir o “sim” dito pelos dois e de abençoá-los ao final. Meus queridos, sejam sempre companheiros, gentis e carinhosos um com o outro até o final de seus dias, e que Deus os acompanhe sempre.