Por que procurar um Padre Anglicano para celebrar seu Matrimônio?

Padre Jorge Aquino_Palace

Reverendo Padre Jorge Aquino.

Uma das escolhas mais importantes que os noivos devem fazer para a celebração de seu casamento tem a ver, justamente, com aquela pessoa que irá presidir a cerimônia. Geralmente os noivos utilizam dois tipos de critérios. O primeiro deles é o critério subjetivo. Ele é usado quando existe algum tipo de relação pessoal entre o padre e os noivos. É muito comum, ou bem que o padre seja parente de um dos noivos ou bem que ele seja o padre da família a muitos anos. Isso ocorre quando foi ele que fez o casamento da mãe ou que batizou o bebê que agora cresceu e deseja casar.

No entanto, às vezes existem alguns impedimentos que fazem com que esse padre não possa presidir sua cerimônia. Neste caso você recorrerá a um outro sacerdote para realizar o enlace matrimonial. Para tanto, sugiro que você use alguns critérios objetivos:

primeiro critério deve ser a formação do sacerdote. Ele fez teologia ou não? Há Ministros em algumas igrejas por aí que não são bacharéis em teologia, fizeram apenas um curso médio ou técnico, mas não são bacharéis. Ele fez teologia em Seminário interno ou fez apenas aulas à distância? Ele tem alguma pós-graduação? Algum mestrado? Por que isso é importante? Porque se você pode ter o melhor, porque teria apenas alguém “bonzinho” ou que “dê para o gasto”? Afinal, se você precisasse de um bom advogado você contrataria qual? Um com especialização e mestrado na área ou um neófito que acabou de passar no exame da Ordem? Particularmente, sou bacharel em teologia em um seminário feito em regime de internato, especialista em teologia, licenciado em Filosofia pela UFRN, especialista em Direito Civil e Mestre em Teologia e em Filosofia pela UFPB.

segundo critério que você precisa levar em conta é a experiência naquilo que se pretende que ele faça. Usando este critério eu pergunto: quem você chamaria para fazer uma cirurgia no coração de sua mãe? Um médico com mais de vinte anos de experiência no assunto ou um recém formado da faculdade? Da mesma forma, se você tem a sua disposição um sacerdote que celebra Matrimônios desde 1991, porque chamaria um que tem apenas 5 anos? Neste momento, falar com postura, conhecendo bem a língua, expressando-se bem e com segurança é fundamental. É triste ver um padre gaguejando ou que não pronuncie corretamente a língua portuguesa.

terceiro critério é a competência. Hoje em dia você consegue saber praticamente tudo sobre qualquer pessoa. Cheque a internet. Veja se ele tem Facebook, Blog ou Instagran. Leia o que ele escreve, com cuidado. Examine suas ideias e verifique se ele tem algum conteúdo. Veja bem. Há padres que não produzem nada na esfera intelectual, pastoral ou acadêmica. Eles apenas recortam e colam, e não passam de fazer citações banais e pueris afirmando a mesmice e o que todos já sabem. O famoso “óbvio ululante”. Sugiro que leia com cuidado meu Blog e veja as informações contidas nele. Além do mais sou autor de livros como:  Pequeno vocabulário AnglicanoAnglicanismo: uma introdução, Sociologia Jurídica, Hermenêutica Jurídica, co-autor em Novas tendências no direito constitucional (em homenagem ao Dr. Paulo Lopo Saraiva) e Ensaios pós-metafísicos, além de autor do verbete “Anglicanismo”, no Dicionário Brasileiro de Teologia, publicado pela ASTE; isso sem falar nas dezenas de artigos acadêmicos escritos em revistas jurídicas e teológicas, publicadas no Brasil e na Inglaterra.

quarto critério é a relação conjugal. O padre que vai fazer seu casamento é um padre casado e feliz? Ele tem o poio de sua esposa? O relacionamento dos dois é satisfatório? Entre os Anglicanos, não apenas aceitamos que os padres se casem como, eventualmente, que se divorciem. Nesse caso, o padre que vai fazer sua cerimônia está pessoalmente resolvido sobre seu divórcio? Ele reconstruiu sua vida? Está feliz?

quinto critério tem a ver com o pecado cometido por aqueles que são chamados por são Paulo de pessoas que vivem “andando em astúcia” e “mercadejando com a palavra de Deus” (II Coríntios 4: 2). Todos sabemos que alguns padres da cidade têm uma taxa fixa que pedem para celebrar casamentos. Mas quando um padre pergunta: “Quanto ele pediu? Eu faço pela metade”, então, meu amigo, está óbvio que você não está tratando com um padre, mas com um comerciante e um mercenário. Neste caso, o barato pode sair caro.

Eu apresentei apenas estes critérios, mas poderia apresentar outros mais. Creio, contudo que estes já são suficientes para fazer você pensar em que tipo de pessoa você quer para presidir a cerimônia que realizará os sonhos que o casal sonhou junto por tanto tempo. Que Deus lhe dê lucidez nessa escolha.

Saiba que muita gente me procura para celebrar matrimônios. Mas boa parte delas o fazem por indicação de amigos ou porque já assistiram uma de minhas celebrações e gostaram. No entanto, para encerrar, gostaria de dar mais algumas boas razões para que você me procure para celebrar seu casamento:

  1. Porque como anglicano posso fazer sua cerimônia fora da Igreja. Portanto, além de baratear os custos, você casará em um ambiente muito mais natural que tanto pode ser uma recepção, uma praia ou uma fazenda, sem precisar fazer duas decorações nem exigir o deslocamento dos convidados.
  2. Porque como anglicano posso celebrar o matrimônio de pessoas que são divorciadas. Em outras palavras, os anglicanos não têm dificuldades com o novo casamento.
  3. Porque mesmo sendo divorciado você terá acesso, caso deseje, à Comunhão Eucarística durante a cerimônia. Um juiz de paz não pode fazer isso porque não é ministro religioso, apenas um funcionário do cartório.
  4. Porque como anglicano posso fazer casamentos ecumênicos, ou seja, de pessoas de religiões diferentes, sem exigir que ninguém mude de religião.
  5. Porque como anglicano posso fazer casamentos Religiosos com Efeito Civil, ou seja, no momento do casamento assumo também o papel de Juiz de Paz. Desta forma você tem assegurado um casamento feito por um religioso com implicações na esfera jurídica.
  6. Porque se você casar apenas com um juiz de paz seu casamento só será reconhecido civilmente e não religiosamente. Da mesma forma, para um mero “Celebrante leigo” – sem reconhecimento de uma religião instituída e com CNPJ -, de nada adiantará “se fazer passar por um padre ou pastor” fazendo orações, trocando as alianças ou distribuindo bênçãos. Ele nunca poderá te dar uma certidão de casamento religioso, oficiar uma cerimônia válida e muito menos dar a Sagrada Eucaristia aos noivos.
  7. Porque no casamento anglicano você terá a liberdade de formatar toda a cerimônia pessoalmente comigo. Ou seja, você tanto poderá fazer uma cerimônia conservadora como poderá fazer uma cerimônia mais descontraída, inclusive retirando elementos que são desnecessários.
  8. Porque o casamento anglicano é reconhecido em todas as igrejas cristãs (inclusive a igreja Romana, Evangélica e Ortodoxa), quando feito sem impedimentos dirimentes.
  9. Porque para a realização do matrimônio, só exigimos que um dos cônjuges seja batizado.

Por tudo isso, se você deseja casar e quer que aquele momento seja único na sua vida, pode nos procurar, pois estaremos à sua inteira disposição. Nossos contatos são: email: pe.jorge.monicab@gmail.com; Instagram: @padrejorgeaquino_

ACERCA DA PRIMEIRA COMUNHÃO

comunhão ortodoxa

Reverendo Padre Jorge Aquino.

Pelo batismo, todos nós passamos a fazer parte da comunidade dos cristãos e, portanto, da família de Deus. Mas eis que, terminado esse assunto, logo surge um outro que vem gerando debates até os dias de hoje: a questão da “Primeira Comunhão”. O grande problema é: a partir de quando devemos oferecer a comunhão às crianças?

Entes de iniciarmos qualquer forma de argumentação, gostaríamos de dizer que entre os Anglicanos co-existem, pacífica e respeitosamente as duas correntes de forma bem distintas. Existem aqueles que praticam a Primeira Comunhão quando a criança já está em uma idade que lhe permita conhecer – ainda que em parte – o significado e o sentido daquele gesto, e existem aqueles que dão a comunhão eucarística às crianças desde o momento do batismo, portanto, quando ainda bebês.

Qual a argumentação utilizada por ambas as correntes? Aqueles que esperam que as crianças tenham uma certa idade chamada de “idade da razão”, entendem que as crianças precisam ter algum conhecimento mínimo sobre o sentido e o significado do rito eucarístico com a finalidade de evitar que eles comam “sem discernir o Corpo de Cristo”, como diz são Paulo aos Coríntios, e assim não recebam as condenações citadas por Paulo no texto.

Aqueles que argumentam que a comunhão deve ser ministrada às crianças desde o batismo se utilizam de outros argumentos. Primeiro eles entendem que quando Paulo batizou e deu a comunhão ao carcereiro de Filipos e à sua família, seria natural supor que existiam crianças entre eles. O mesmo argumento é utilizado para os demais textos que são conhecidos como “ele e a sua casa”.

Mas existem outros argumentos. Os que pregam a pedocomunhão argumentam que, se as crianças podem receber o sacramento do batismo sem entender o que ele significa, também podem receber a comunhão. Ademais, existem muitos adultos que comungam e não possuem qualquer conhecimento sobre o sentido do sacramento. Ademais, quando Paulo se refere aos que comungam sem “discernir o corpo”, ele está se referindo à Igreja de Corinto, que estava cheia de questiúnculas internas dividindo os irmãos. Comungar sem “discernir” o que está acontecendo é que é significa “comer e beber para sua própria condenação”.

Um outro fator importante é que aquele texto de Coríntios só pode ser aplicado aos que podem fazer um auto-exame para se aproximarem da Mesa do Senhor. Por isso Paulo diz: “Examine-se, pois e coma”. Ora, nenhuma pessoa em sã consciência, depois de se auto-examinar pode se julgar digna de participar do Corpo e do Sangue de Cristo. Mas será que podemos dizer que um bebê recém batizado é igual a um adulto? Se nós, pecadores, nos aproximamos da Mesa do Senhor confiados em sua graça, muito mais uma criança que sequer cometeu pecado algum.

Em segundo lugar os pedocomungantes dizem que, se a comunhão nasceu em uma festa do amor, da qual todos os cristãos faziam parte e celebravam a participação na mesma família, será que não seria correto dar o alimento sagrado às crianças desde cedo, para que elas se sentissem desde cedo, também, membros da família de Deus? Ou será que impedimos que nossos filhos almocem ou jantem conosco à mesa? Se nossos filhos têm acesso à mesa familiar, também devem ter acesso à mesa do Senhor e, dessa forma, desde cedo, saberão que participam de uma grande família. Ademais, esta festa do amor é um reflexo da páscoa judaica, na qual toda a família – inclusive as crianças – estão reunidas para celebrar e participar de todos os elementos.

Mas o principal argumento dos pedocomungantes tem sido o histórico. Segundo nos ensina Francisco Taborda: “A Igreja Oriental conserva, até hoje, a comunhão batismal de bebês. O adiantamento da eucaristia para quando a criança chegasse ao ‘uso da razão’, não pareceu decisão evidente, mesmo na Igreja Latina. (…) Até o séc. XII a comunhão batismal das crianças de colo era prática generalizada no Ocidente e ainda no séc. XVI é testemunhada, aqui e ali” (TABORDA, 2001, p. 23). É fato indiscutível que a Igreja Oriental ainda preserva a prática primitiva de dar a comunhão poucos minutos depois do batismo da criança.

De uma perspectiva meramente histórica, conforme já vimos, somente a partir do XII é que essa prática começa a declinar e, no Concílio de Trento, será proibida. A normatização mais recente desse tema foi feita pelo papa Pio X que, em 08 de agosto de 1910, lançou um decreto estabelecendo que a primeira comunhão seria admitida a partir dos 7 anos.

Quanto aos Anglicanos, todos entendem que na Primeira Comunhão a criança se torna um participante pleno na comunidade dos redimidos e na família de Deus. Entendem também que, por meio dessa experiência sacramental os comungantes tendem a crescer de fé em fé, sempre em comunhão com Cristo e com sua vontade (João 6: 52-54). Mas diferem sobre em que momento esse processo deve ter início.

Particularmente, me insiro entre os pedocomungantes, que dão a comunhão às crianças desde o batismo e que, em um momento certo – a idade da razão – inicia a preparação da criança para que seja confirmada pelo bispo.

 

Referência Bibliográfica:

TABORDA, Francisco. Nas fontes da vida cristã. São Paulo: Loyola, 2001

O BATISMO É NOSSA RESPOSTA À PROPOSTA DE DEUS

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Reverendo Padre Jorge Aquino.

Pelo batismo, todos nós passamos a ter uma relação mais íntima com Deus e com a comunidade dos cristãos. É preciso que nos lembremos sempre que, em todos os relacionamentos, nós tanto damos quanto recebemos. Por isso, um relacionamento é uma “via de mão dupla”. Assim como recebemos dEle a redenção e adentramos em sua família, pelo batismo, é preciso que respondamos e nos comprometamos com Ele, assumindo alguns compromissos.

Em primeiro lugar, precisamos assumir o compromisso de renunciar ao mal, sem importar para as formas que ele acaba assumindo em nossa sociedade. Muitas vezes o mal vem em forma de um sistema político, ou em forma de um sistema econômico. Ele pode vir na forma de uma oportunidade de lucro que implica na ruína de alguém ou em sua humilhação. Como cristão, no batismo renunciamos a todas as formas de mal.

Em segundo lugar, renunciamos a Satã e as forças espirituais da maldade. Estas forças da maldade estão presentes cotidianamente em nossas vidas nos convidando a seguir o caminho mais largo, mais fácil, a abandonar nossa cruz e a abraçar o lucro que o sistema pode nos dar. Essa mesma tentação veio sobre Jesus e, como ele – e com ele – seremos vitoriosos.

Em terceiro lugar, renunciamos a todos os desejos pecaminosos que nos assediam. Isso significa arrepender-se de todos os pecados cometidos e seguir caminhando em outra direção: o caminho que nos leva à presença de Deus.

Em quarto lugar, pelo batismo, nos comprometemos a crer em todos os elementos da fé cristã. Isso significa confiar em um Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo.

Em quinto lugar, nos voltarmos para Jesus Cristo e recebe-lo como Salvador e Senhor de nossas vidas. Por meio dele recebemos o perdão de todos os pecados e a força para seguirmos a vida cristã, levando nossa própria cruz.

Em sexto lugar, nos comprometemos a colocar toda nossa confiança em sua graça e em seu amor. Isso significa que temos que reconhecer que em nós mesmos nada somos e nada temos que nos garanta a salvação. E que é somente a maravilhosa graça de Deus – motivada por seu divino amor – que nos alcança e nos salva.

Em sétimo lugar, pelo batismo nos comprometemos a obedecer sempre a vontade de Deus. Isso significa estabelecê-la como padrão para nossa vida e nosso comportamento.

Todos os Pais e Padrinhos fazem essas promessas quando trazem seus filhos ao batismo. Que esse gesto não seja apenas uma tradição social, um rito de passagem ou algumas “sagradas mentiras” ditas conscientemente, apenas para satisfazer um rito que não lhe diz nada. Que essas promessas sejam, para você, um compromisso sincero de criar aquela criança dentro dos verdadeiros ideais cristãos, formando assim, uma nova sociedade com pessoas compromissadas com os valores do Reino de Deus. Por fim, que seu compromisso seja verdadeiro o suficiente para que, no final de tudo, a criança – agora na idade da razão -, seja levada ao bispo, para confirmar tudo o que os pais, por ela, prometeram.

Da Validade do Matrimônio Anglicano

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Reverendo Cônego Jorge Aquino [1].

Introdução:

Como ministro anglicano em um país de maioria romana eventualmente me vejo diante de pessoas que perguntam acerca da validade ou não dos matrimônios celebrados em nossas comunidades. Muitas destas pessoas nos procuram depois de conversar com sacerdotes romanos que, sem qualquer cerimônia, simplesmente declaram a invalidade do matrimônio anglicano (assim como do batismo) sem sequer refletir sobre as consequências e a veracidade do que está sendo dito. A impressão que tenho é que na cabeça desses sacerdotes somente os atos realizados na igreja de Roma possuem validade para com Deus. Mas será que as coisas são de fato assim? Afinal, nossas celebrações são válidas ou não? Diante desses questionamentos, resolvi fazer algumas considerações no intuito de esclarecer aqueles que, por alguma razão, possuem dúvidas acerca do matrimônio anglicano.

1.Reconhecimento de quem?

A primeira consideração que gostaria de expor é que, ao que parece, muitos daqueles que estão preocupados com a validade do matrimônio anglicano estão, na verdade, preocupados em saber se a Igreja Romana vai reconhecer esse casamento. Para estes eu perguntaria: afinal, de que reconhecimento realmente precisamos? Ou, qual o reconhecimento que efetivamente buscamos? Quem deveria efetivamente reconhecer nosso casamento? Para responder essa pergunta é possível citar pelo menos três instâncias: Deus, a sociedade e a Igreja.

Vamos usar um pouco nosso raciocínio e perguntar, em primeiro lugar, o seguinte: será que Deus reconhece como válidos os casamentos que foram realizados pela Igreja Anglicana nos últimos 1700 anos? É minha absoluta convicção que sim, e mais adiante procurarei expor minha argumentação. De fato, acho muito difícil que alguém com o mínimo de conhecimento de história da teologia possa duvidar da validade do matrimônio anglicano. É claro que estou falando de alguém que levou a sério o estudo da teologia e não de algum animador de auditório que mercadeja a Palavra de Deus procurando simplesmente agradar seus ouvintes.

Mas se Deus aceita o matrimônio anglicano como sendo válido, será que a sociedade, os noivos ou suas famílias o rejeitaria? Ainda usando da razão, me parece pouco provável que os noivos, suas famílias e, por via de conseqüência, a sociedade, rejeitaria a validade do matrimônio anglicano e, mesmo assim, procurasse a Igreja para ministrar esse sacramento. Seria uma total e absoluta contradição. Será que a sociedade inglesa, americana, canadense, australiana, neozelandesa, e todas as outras sociedades na qual a Igreja Anglicana está presente desde sempre, rejeitaria como inválidos os casamentos celebrados por essa Igreja?

Voltando os olhos para nosso país, sabemos que nossas leis estabelecem as normas necessárias para que as celebrações religiosas (de qualquer religião visto que vivemos em um Estado laico) recebam o necessário efeito civil e oportunizem o reconhecimento do Estado. A simples existência desse reconhecimento já demonstra inquestionavelmente que a sociedade brasileira reconhece o matrimônio anglicano.

Finalmente, pergunto pela Igreja romana. Será que esta Igreja reconhece o matrimônio celebrado nas Igrejas anglicanas? Se quisermos buscar uma resposta a esta pergunta, teremos que procurar em pelo menos três fontes: (1) as declarações oficiais dessa Igreja, (2) os documentos produzidos pelas comissões comuns e, (3) comparar a teologia das duas Igrejas.

2. A Igreja romana reconhece?

Acerca das declarações formais da Igreja Romana, podemos invocar, em primeiro lugar, o conhecido Guia Ecumênico que foi produzido pelo clero romano. Lá, encontramos a seguinte declaração: “Não é fácil expor a posição dos anglicanos ou episcopais, em relação ao matrimonio, por causa da comprehensiveness ou pluralismo de sua teologia. Para a corrente majoritária, o matrimônio está incluído entre os “sacramenta minora”, considerados de instituição eclesiástica, à imitação dos “sacramente maiora”, de instituição divina” (CNBB, 1984, p. 185, 186).

Aparentemente, com estas palavras o Guia Ecumênico da Igreja romana, acaba impingindo uma certa dúvida acerca da validade ou não dos matrimônios anglicanos em razão da existência, dentro do anglicanismo, de correntes que colocam o matrimônio ora entre sacramentos maiores – ou seja, os instituídos por Deus, ora entre os menores, ou seja, aqueles que foram estabelecidos pela Igreja.

Apesar destas palavras dúbias o próprio Guia reconhece que “a Igreja Católica considera que o matrimônio entre batizados é verdadeiro e próprio sacramento, sempre que à sua celebração não se oponha um impedimento dirimente” (CNBB, 1984, p. 186). Devemos esclarecer que os impedimentos dirimentes são aqueles que tornam o matrimônio inválido, ou, conforme está escrito no Código de Direito Canônico (CDC), no Cânon 1073 “o impedimento dirimente torna a pessoa inábil para contrair validamente o Matrimônio”. Dentre estes impedimentos estão a impotência, a consangüinidade próxima, o rapto ou o ato contra a vontade, etc. Comentando o cânon 1073 do CDC, Jesús Hortal assim se expressa: “Impedimentos dirimentes são proibições legais, baseadas em circunstâncias pessoais de caráter objetivo, que constituem um obstáculo à celebração válida do matrimônio. Trata-se, pois, de uma lei inabilitante” (Código de Direito Canônico, p. 474).

Em outras palavras, desde que os nubentes sejam validamente batizados, aptos para gerar filhos, não sejam parentes próximos nem estejam sendo coagidos a este gesto, estamos diante de um sacramento válido. É por isso que o cônego católico-romano José Luiz Villac afirma, com respeito aos luteranos, que: “Na igreja evangélica luterana, em que o batismo é válido, o casamento entre os fiéis dessa confissão é reconhecido também como válido pela Igreja Católica, inclusive como sacramento, pois o contrato matrimonial entre cristãos batizados é sempre sacramento” (A palavra do sacerdote. Disponível em <http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=1CFD7480-3048-560B-1C9DE101FAB64D65&mes=Junho1998> acessado em 30 de dezembro de 2014).O mesmo raciocínio é utilizado com respeito aos anglicanos. No entanto, para que não haja mais qualquer dúvida acerca do matrimônio na igreja Anglicana, citamos o Guia Ecumênico da Igreja romana, que diz: “Diversas Igrejas batizam, sem dúvida, validamente; por esta razão, um cristão batizado numa delas não pode ser normalmente rebatizado, nem sequer sob condição. Essas Igrejas são: (…) c) Igreja Episcopal do Brasil (“Anglicanos”)” (CNBB, 1984, p. 26, 27).

Ora, se a Igreja romana reconhece o matrimônio daqueles que foram legitimamente batizados e não possuem qualquer impedimento dirimente, e se, a Igreja romana reconhece a validade do batismo das Igrejas anglicanas, deduz-se logicamente, que ela reconhece os matrimônios celebrados nessas comunidades, desde que não estejam presentes aqueles impedimentos dirimentes.

Esta posição da Igreja romana é coerente com sua teologia, afinal, para esta Igreja, “O ser sacramental do matrimônio deriva do ser cristão dos nubentes e não da concepção teológica das Igrejas” (CNBB, 1984, p. 186). Esta posição confirma o que afirmamos acima, ou seja, que a Igreja romana reconhece como sacramento os casamentos realizados entre cristãos batizados desde que os cônjuges não sejam, por exemplo, parentes ou divorciados.

Outra forma de saber sobre o pensamento da Igreja de Roma sobre o matrimônio anglicano é examinar os documentos produzidos pelas comissões bilaterais. Ora, conforme todos sabem, desde a década de 60 que o Bispo de Roma e o Arcebispo de Cantuária criaram uma comissão que discutiria o diálogo entre estas duas tradições cristãs. Esta comissão se chama ARCIC, ou seja, Anglican—Roman Catholic International Commission. Boa parte dos encontros e dos relatórios produzidos por essa comissão dizia respeito à teologia das duas Igrejas. Contudo, existe uma outra comissão que trata do Diálogo entre Anglicanos e Católicos, o ARCCM.

No texto da ARCCM que trata acerca do matrimônio misto, aprovado em 1975, fica-se entendido que, quando se trata de casamento envolvendo uma situação padrão – noivos adultos, exercendo sua liberdade, sem grau de parentesco e solteiros ou viúvos, “No casamento, a Comissão não encontra nenhuma diferença fundamental de doutrina entre as duas Igrejas, no que diz respeito ao casamento de sua natureza ou aos fins que é ordenado servir.”. O texto deste documento é revelador. No número 21, assim se expressa o documento: “A linguagem do Vaticano II na Gaudium et Spes (47-52), fundamentando o casamento na ordem natural, no pacto mútuo ou pacto (pactum, foedus) dos cônjuges, é totalmente uno com a interpretação da aliança do casamento escrita no Liturgias anglicanas. A natureza sacramental do casamento é também afirmada, em parte no sentido moral da obrigação duradoura (sacramentum) expressa no voto matrimonial, parcialmente no sentido de signo (signum): um sinal para o mundo do que o casamento na ordem natural da parte de Deus ordenança é e deveria ser; um sinal para o mundo e para a Igreja da aliança irrevogável de Cristo com a Igreja e do amor mútuo que encontra expressão entre Ele e a Igreja, e que deve existir entre os membros da Igreja; e um sinal para as pessoas casadas, para o mundo e para a Igreja, de que a continuidade dentro da aliança depende da graça perdoadora e renovadora de Deus; e finalmente em ser feito por Cristo em um sinal efetivo de graça quando é celebrado entre os batizados. É de tudo isto, com a continuação da vida sacramental da Igreja, que o casamento cristão assume o seu carácter específico e alcança a sua plenitude. O casamento natural teve, no começo, todo o potencial de ser feito sacramental na ordem da redenção. o significado sacramental foi declarado como parte do “mistério” (sacramentum) dispensado e revelado na plenitude dos tempos por Deus através de seu Filho e reconhecido como tal pelo apóstolo; Assim, a linguagem de Efésios 5, interpretando o amor conjugal em termos do amor de Cristo pela Igreja e vice-versa, exprime adequadamente nossa teologia comum do casamento, e é tão apropriadamente entrincheirada em nossas liturgias matrimoniais respectivas. Essa convergência substancial na doutrina, apesar das diferenças a linguagem usada para expressá-lo, é um fato bem-vindo de nosso tempo, precioso demais para nos permitir repousar nas polaridades sugeridas pelas formulações condicionadas pelo tempo da Reforma e da Contra-Reforma” (Disponível em <https://iarccum.org/archive/ARCCM/ARCCM-33B.pdf&gt; acessada em 30 de dezembro de 2014).

Um conhecido teólogo católico também cita este documento registrando o que se segue: “A doutrina anglicana, formalmente expressa em sua liturgia, concebe o matrimônio como uma ordenação de Deus na ordem da criação, assumido por Cristo e pela Igreja na ordem sacramental como representação da união de aliança entre Cristo e a Igreja, e significando efetivamente a santificação do matrimônio e seus membros dentro da comunhão de Cristo e da Igreja” (ARCIC 1975 apud FLÓREZ, p. 267, 268, n. 39).

Ainda uma outra informação interessante pode ser encontrada no documento da Anglican—Roman Catholic International Commission intitulado “Vida em Cristo: moral, comunhão e a Igreja”, escrito em 1993. Lá, à altura do número 61, as duas igrejas afirmam ser o matrimônio, na ordem da criação,sinal e realidade do amor fiel de Deus, e, assim, tem uma dimensão naturalmente sacramental. Desde que ele também aponta para o amor salvador de Deus, imbuído no amor de Cristo pela Igreja (cf. Ef 5,25), ele se abre para uma sacramentalidade ainda mais profunda dentro da vida e da comunhão do próprio Corpo de Cristo (ARCIC apud Paulinas, 2001, p.42).

Em outras palavras, do que foi exposto acima, com base nos textos escritos pela Igreja Romana e pelas comissões bilaterais, não temos porque duvidar da validade dos casamentos realizados pela Igreja Anglicana. Mas continuemos nossa reflexão.

Uma última forma de demonstrar que o matrimônio das duas Igrejas são igualmente válidos é apresentar sua teologia comum. No que tange à teologia da Igreja anglicana, nós encontramos sua maior expressão em sua liturgia presente no Livro de Oração Comum. Ora, um exame deste texto revelará – conforme afirmou a ARCIC – que nada existe que ponha em dúvida a validade do matrimônio anglicano.

Quando nos debruçamos sobre a liturgia anglicana vemos que ela preserva os quatro elementos fundamentais para que um matrimônio seja válido, quais sejam: (1) matéria válida, (2) fórmula correta, (3) intenção – ao menos virtual – do ministro em realizar o que a Igreja deseja com o rito, e (4) intenção por parte do sujeitos em fazer livremente o que estão a fazer. Isto posto, considerando que os ministros anglicanos usam o Livro de Oração Comum como texto das celebrações matrimoniais e, considerando que esta liturgia exige os quatro elementos indispensáveis para sua validade, então, não há dúvida de que os matrimônios anglicanos são válidos.

É bem verdade que, em função de dogmas bastante peculiares – que particularmente acho compreensível embora não convincentes – a Igreja Romana não aceita os casamentos que envolvam nubentes divorciados. Estes casamentos, para os romanos, seriam inválidos vez que postulam a unidade e a indissolubilidade do casamento. Nem mesmo um casamento realizado dentro da Igreja Romana, por um padre romano conferiria validade a este sacramento.[2] Entre os Anglicanos a realidade é um tanto variável. Cada Província (igreja) anglicana possui suas próprias regras e interpretações. Se, de um lado, a Igreja da Inglaterra (Church of England) permite a separação a thoro et mensa (de cama e mesa) com uma caução contra o novo matrimônio, enquanto viver o outro cônjuge, outras Províncias entendem de forma diversa. Conforme registra Flórez,

“A maioria das igrejas rejeita a celebração religiosa do novo matrimônio dos divorciados, mas os aceita como marido e mulher na plena comunhão da Igreja (às vezes, depois de uma abstenção voluntária da comunhão) quando seu matrimônio consta no regime civil. Algumas igrejas (Canadá, Estados Unidos, Nova Zelândia, Austrália) abandonam o princípio estrito da indissolubilidade e dão normas, através dos sínodos provinciais, para a admissão controlada de pessoas divorciadas que contraem novo matrimônio” (FLÓREZ, 2008, p. 270, n. 46).

Esta postura mais dilatada que caracteriza, além das igrejas canadenses, americana, australiana, etc., também as Igrejas Anglicanas do Brasil, em geral, buscam seu apoio em uma teologia que aponta a capacidade da graça para libertar, perdoar e recriar a realidade. Para estas igrejas a indissolubilidade não é uma marca da essência do matrimônio, mas um desejo ou um alvo de Deus e da Igreja para todos os matrimônios.[3]

3. Um pouco de história da teologia

Uma outra linha de pensamento diz respeito à posição anti-pelagiana historicamente aceita pelos anglicanos. Ora para os anglicanos (e romanos) a validade dos sacramentos ou atos sacramentais, independe tanto da dignidade do sacerdote quanto da consciência ou não de estarmos diante de um ato sacramental. Ora, no início deste texto citei o Guia Ecumênico da Igreja Romana afirmando existir uma diferença entre grupos anglicanos acerca da forma como a sacramentalidade do matrimônio é encarada. Para muitos essa dês-crença implicaria na invalidade do sacramento anglicano. Pergunto: a ausência da crença de que o matrimônio é um sacramento maior retira seu caráter sacramental? Claro que não.

Ora, conforme sabemos, somente em torno do século IV é que surgem as primeiras liturgias cristãs do matrimônio e que este só seria reconhecido universalmente como um sacramento[4] ao lado dos outros seis, em torno do século XI. Fiorenza, por exemplo, ao tratar desse assunto nos informa que, “A incorporação do matrimônio na ordem dos sacramentos ocorreu durante o período medieval entre o século XI e o XII. (…) De fato, as primeiras afirmações oficiais explícitas do matrimônio como sacramento ocorrem em declarações condenando os cátaros. Em 1184 o concílio de Verona, sob o papa Lúcio III, anatematizou os cátaros por suas opiniões sobre o matrimônio. Em 1208, o papa Inocêncio III exigiu como condição para o retorno ao catolicismo que os valdenses subscrevessem uma profissão de fé que aceitava todos os sacramentos da igreja, incluindo o matrimônio” (FIORENZA, In FIORENZA; GALVIN, 1997, p. 407, 408).

Outro dado interessante é saber que, conquanto os teólogos escolástico-primitivos houvessem incluído o matrimônio entre os sete sacramentos da igreja, diferindo de todos os demais, eles não lhe atribuíram nenhum efeito de graça. Franz-Josef Nocke vai claramente afirmar que “somente no século XIII, com a valorização da sexualidade, se abriu caminho para admitir um efeito de graça” (NOCKE in SCHNEIDER, 2001, p. 331) sobre o sacramento do matrimônio. E isso se deu em função da influência aristotélica de que o “natural é bom”. Dessa forma os atos conjugais passam a ser definidos como bons e meritosos, ou seja, que efetivamente confere alguma graça.

Isto significa que durante mais de 1000 anos os padres cristãos romanos, que celebravam casamentos não acreditavam estar celebrando, em essência, um sacramento com o mesmo status que o batismo e a eucaristia. Se a ausência da crença nessa sacramentalidade do matrimônio invalida o casamento, então, além dos sacerdotes anglicanos de tradição reformada, todos os padres romanos até o século XII, casaram pessoas invalidamente. Honestamente, não creio que a Igreja de Roma tenha coragem ou esteja disposta a afirmar algo assim.

Até aqui apresentamos uma demonstração simples e despretensiosa da validade do matrimônio anglicano. A prova mais cabal e recente de que a Igreja de Roma reconhece os matrimônios realizados na Igreja Anglicana, no entanto, pode ser encontrada no convite feito pelo Papa Bento XVI em outubro de 2009 aos padres anglicanos casados que desejassem migrar para a Igreja Romana. No documento que expressa esta posição da Igreja de Roma, está claro que, quando não há qualquer impedimento, os padres anglicanos casados são recebidos sem a exigência de um re-casamento.

Que há algumas diferenças entre a forma romana e a anglicana de ver a sacramentalidade do matrimônio, não há dúvidas. No entanto, há inquestionavelmente mais pontos em comum do que discordâncias. Estas diferenças, no entanto, estão dentro daquilo que poderíamos descrever como elementos secundários[5] da interpretação teológica. Nesta linha de pensamento, cito um dos parágrafos mais significativos presente no Decreto “Unitatis Redintegratio”, que versa sobre o ecumenismo: “Resguardando a unidade nas coisas necessárias, todos na Igreja segundo o múnus dado a cada um, conservem a devida liberdade, tanto nas várias formas de vida espiritual e de disciplina, quanto na diversidade de ritos litúrgicos, e até mesmo na elaboração teológica da verdade revelada. Mas em tudo cultivem a caridade. Agindo assim, manifestarão, sempre mais plenamente, a verdadeira catolicidade e apostolicidade da Igreja” (nº 4, 1984).

A Carta Encíclica “Ut Unum Sint”, parece seguir na mesma linha quando ressalta, à altura do número 65 que “as ‘discrepâncias’ acima acenadas, ainda que importantes, não excluem, portanto, influencias e complementariedades recíprocas” (Ut Unum Sint, nº 65, 1995).

Diante de tudo o que foi exposto, particularmente espero (espera-se) que os padres Romanos sejam mais dedicados ao estudo de sua própria teologia e evitem emitir juízos sem um conhecimento mais aprofundado acerca da credenda e da agenda das demais igrejas, particularmente, dos Anglicanos. Na mesma linha de raciocínio, se algum casal tem dúvidas sinceras acerca da validade dos matrimônios anglicanos, o melhor a fazer é buscar sua igreja de origem e conformar-se com sua doutrina. Quanto ao mais, satisfaço-me em acreditar no que a minha razão, a história e a teologia me mostram. Estas três instâncias me tranqüilizam e me fazer acreditar completamente na absoluta validade dos matrimônios anglicanos.

 

Referências bibliográficas:

ARCIC, Vida em Cristo: Moral, Comunhão e a Igreja. Paulinas: São Paulo, 2001.

CNBB, Código de Direito Canônico. Loyola: São Paulo, 1983

CNBB, Guia Ecumênico. Paulinas: São Paulo, 1984

CNBB, Ut Unum Sint. Paulinas: São Paulo, 1995

FIORENZA, Francis; GALVIN, John (orgs.). Teologia Sistemática: perspectivas católico-romanas Vol. 2. Paulinas: São Paulo,1997

FLÓREZ, Gonzalo. Matrimônio e família. Paulinas: São Paulo, 2008

SCHNEIDER, Theodor (org.) Manual de Dogmática Vol. II.Vozes: Petrópolis, 2001

UnitatisRedintegratio, In Compêndio do Vaticano II. Vozes: Petrópolis, 1984

http://www.prounione.urbe.it/dia-int/arcic/doc/e_arcic_classific.html acessado em 18 de janeiro de 2011

http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=1CFD7480-3048-560B-1C9DE101FAB64D65&mes=Junho1998 acessado em 18 de janeiro de 2011

 

NOTAS

[1] O Rev. Cônego Jorge Aquino é presbítero anglicano ligado à Paróquia Anglicana de São Jorge. Atua especialmente na área de aconselhamento e realização de matrimônios em Natal-RN. Graduado, especialista e mestre em teologia, licenciado e mestre em filosofia, é também especialista em direito. Autor de vários livros nas áreas teológicas e jurídicas. Ensinou Filosofia do Direito, Hermenêuticas Jurídica, Sociologia Jurídica e outras cadeiras propedêuticas do currículo jurídico em várias faculdades em Natal.

[2] Para fins de ilustração, deve-se ressaltar que o direito canônico romano entende que o matrimônio é nulo quando ocorre uma das seguintes causas: a) impedimento dirimente, b) falta de consentimento, e c) falta de forma.

[3] Um debate bastante promissor acerca deste tema teria que considerar os aspectos exegéticos e teológicos do texto de Mt 19,6. Para uma discussão introdutória desse tema sugerimos a leitura de um texto de nossa lavra intitulado Reflexões sobre o divórcio, publicado na Revista Inclusividade, vol2 em 2002.

[4] É bem verdade que Jerônimo traduziu a palavra mysterium de Ef 5,32 como sacramentum. No entanto esta tradução não deve ser vista como uma definição de que o matrimônio era um sacramento no sentido que terá na Idade Média. Efetivamente, seria mais conveniente entender esse sacramento num sentido mais lato, como ocorre, por exemplo, com Santo Agostinho. Para ele, afirma Fiorenza (In FIORENZA; GALVIN, 1997, p. 405),“há em todos os matrimônios, e não apenas nos matrimônios cristãos, um sacramento”. Conforme sabemos, Agostinho utilizou o termo sacramento em dois sentidos, geral e estrito. Em seu sentido geral, sacramento refere-se a “palavras, coisas e ações visíveis que são símbolos do que é invisível e transcendente. Em sentido mais estrito, sacramento refere-se especificamente aos sacramentos da igreja católica, entre os quais o batismo e a eucaristia possuem um papel predominante. Agostinho compreende o sacramento do matrimônio no sentido amplo e não no estrito, como é evidente em seu tratado sobre os benefícios do matrimônio” (FIORENZA, In FIORENZA; GALVIN, 1997, p. 405).

[5] Lembramos, aqui, da brilhante frase seguidas vezes atribuída a Agostinho e que diz: “No essencial, unidade; no secundário, liberdade; em tudo, amor”.

COMO NOS TORNAMOS UM CRISTÃO?

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Reverendo Padre Jorge Aquino.

É claro que quando falamos em nos tornamos cristãos, estamos caminhando pelos aspectos subjetivos e interiores de cada pessoa. Esta é uma decisão pessoal e intransferível que é motivado por ou determinado por aspectos pessoais, individuais e particulares. No entanto, esse convencimento interno e subjetivo exige e implica em uma tomada de decisões concretas com consequências para a vida real. Quem deseja tornar-se cristão deve, portanto, buscar o rito de iniciação à vida com Cristo, que se dá por meio do batismo.

Sobre o Batismo, é muito importante que saibamos e que tenhamos consciência de algumas verdades fundamentais. Em primeiro lugar, precisamos saber que o Batismo não é uma fórmula que produz um bebê já pronto (inoculado com uma espécie de vacina mágica contra o mal) nos fazendo esquecer de nossas responsabilidades de pais cristãos, até a hora da Confirmação.

Muito ao revés, precisamos compreender, em segundo lugar, que o Batismo é um Sacramento – ou seja, um sinal externo e visível de uma graça interna e invisível -, que exige fé, por parte de quem será batizado ou de quem apresenta seus filhos ao Batismo, e arrependimento que implica em tristeza pelos erros cometidos e a determinação de procurar ser uma pessoa melhor, com a ajuda de Deus.

Por fim, em terceiro lugar, devemos compreender que, por meio do Batismo, Deus (1) nos faz membros do corpo de Cristo. Isso pode ser visto na carta de Paulo aos Coríntios 12: 14-27, onde aprendemos que assim como uma mão faz parte do corpo, a vida do corpo leva vida à mão e que isso a torna uma serva viva do corpo. Dessa forma, se cada um de nós somos membros do Corpo de Cristo, por meio do Batismo, dele recebemos a vida espiritual que nos habilita a viver uma nova vida. Além disso, por meio do Batismo também (2) nos tornamos filhos de Deus. Na realidade, por meio do Batismo nós entramos em um tipo de relação única e íntima com Deus, com base no amor com o qual ele ama todos os seus filhos (Lucas 12: 6,7; João 17: 20,21). Por fim, devemos compreender que (3) o Batismo nos torna herdeiros do Reino dos Céus. De fato, todos os tesouros do Reino foram feitos nossos por herança em razão de nos tornamos filhos por adoção e coerdeiros com Cristo (Mateus 25: 31-46; Romanos 8: 17; Gálatas 4: 7).

Na condição de pais, temos o dever de levar nossos filhos até a presença de Deus e consagrá-los por meio do Batismo. Assim como não violamos a liberdade de nossos filhos quando escolhemos seus nomes ou quando os matriculamos na escola que escolhemos, tão pouco violentamos sua identidade quando os batizamos. Agindo assim, nos comprometemos a ensina-los a serem pessoas que lutarão contra o mal e a injustiça, que amarão a Deus e ao próximo e que reconhece a Jesus como seu Senhor e Salvador.

NÓS CONTINUAMOS ANGLICANOS

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Reverendo Padre Jorge Aquino.

Muito embora, ao que parece, depois do encontro da GAFCON III a Comunhão Anglicana vá ter que conviver com uma outra instituição que pretende ter as mesmas prerrogativas, ainda que assumindo uma postura oposta à que é predominante nos estamentos de poder da Comunhão Anglicana, acredito que esse é um bom momento para se refletir sobre o papel das Igrejas Anglicanas Continuantes.

Como sabemos, o Movimento Anglicano Continuante, que pode ser compreendido por meio da leitura da Afirmação de Saint Louis” -, emitida pela Sociedade dos Clérigos Zelosos em 17 de setembro de 1977, representa hoje uma parcela bastante significativa dos anglicanos no mundo, muito embora, bem menor do que os membros da Comunhão Anglicana. Pois bem, lendo a “Afirmação” que dá origem ao Movimento, percebemos claramente que seus membros não se consideram parte de uma outra comunidade de fé, mas acreditam fazer parte do mesmo Anglicanismo de seus pais.

Na seção que trata da “CONTINUAÇÃO DO ANGLICANISMO”, podemos ver qual o espírito que movia aqueles clérigos: Nós afirmamos que a Igreja de nosso pais, sustentada pela Trindade Santa, ainda vive, e que nós, temos sido movidos pelo Santo Espírito a caminhar unicamente neste caminho, estamos determinados a continuar na Fé Católica, na Ordem Apostólica, na Adoração Ortodoxa e no Testemunho Evangélico da tradicional Igreja Anglicana, fazendo todas as coisas necessárias para a continuação da mesma”.

Além de se verem como pessoas que desejam CONTINUAR sendo identificados como Anglicanos, é visível que, para eles, a figura do Arcebispo de Cantuária possui um papel de extrema importância. Eis a parte do documento que trata do assunto, chamada de: “DA CONTINUIDADE DA COMUNHÃO COM CANTERBURY”. Aqui, os reverendos dizem: Nós afirmamos que persistimos na relação de comunhão com a Sé de Canterbury e com todas as porções fiéis da Comunhão Anglicana Mundial”. E como consequência, continuam, “com a firme confiança na Divina Providência (…) nós afirmamos, comprometemo-nos e declaramos que nós, legais e leais membros das Igrejas Episcopais, hoje e no futuro continuaremos e seremos a Igreja Anglicana unificada e continuante na América do Norte, segundo a verdadeira e válida Sucessão Apostólica”. Se a Sé de Cantuária não se manifesta a respeito criando uma agenda positiva para fazer existir um diálogo que já está mais do que atrasado, paciência!

O restante do documento possui aspectos da agenda e da credenda que norteiam o Movimento Anglicano Continuante e apontam um caminho a seguir. No entanto, o que quero destacar, são as duas ênfases que estavam presentes na década de 70 do século passado nas mentes desses homens: Eles acreditavam que continuavam sendo Anglicanos, muito embora discordassem das decisões tomadas pelos Sínodos nacionais nos Estados Unidos e no Canadá, e eles acreditavam continuar sendo espiritualmente ligados ao Arcebispo de Cantuária. Esta “continuidade da comunhão” com Cantuária fez com que a Conferência de Lambeth 88 contivesse uma resolução pedindo para que os instrumentos eclesiásticos da Comunhão facilitassem o diálogo com os Anglicanos Continuantes.

Diante da polarização que se pode verificar hoje, o Movimento Continuante acaba sendo uma terceira via, que oficialmente ainda não dialogou nem com a Comunhão Anglicana nem com o GAFCON. Estou absolutamente convencido de que o Movimento Continuante precisa, antes de iniciar esse diálogo, ser capaz de – interna corporis – resolver suas questões e estabelecer ao menos um Instrumento que possa falar em nome das muitas Províncias e Igrejas Continuantes. Esse é um trabalho para os Bispos e Arcebispos de nossas comunidades: serem capazes de aglutinar a maior parte dos Anglicanos Continuantes, a fim de mantermos um diálogo minimamente representativo tanto com a Comunhão Anglicana quanto com o GAFCON e as Províncias a ele ligadas.

Não resta dúvida que continuamos anglicanos. Se, no entanto, seremos capazes de por em prática os elementos básicos que nos fazem ser quem somos – a inclusividade e a compreensividade -, ao lado do desejo real de desenvolver um diálogo frutífero, o futuro nos dirá. Caberá aos nossos Bispos – sinais de unidade -, segundo nossa eclesiologia, darem os passos necessários para que o “encontro do povo de Deus” ocorra, ajudados pelos teólogos e pelos demais clérigos de nossas comunidades.

O QUE SIGNIFICA SER CRISTÃO?

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Reverendo Padre Jorge Aquino.

Dizem que certo dia, um pai caminhava com seu filho para a igreja quando este lhe perguntou: “Pai, o que é ser um cristão?”. Ao que o pai respondeu: “Ser cristão é amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo, é seguir o exemplo de Jesus na vida, é não falar mal dos outros, é tomar cada dia sua cruz sem reclamar, ser um exemplo para as outras pessoas e anunciar o evangelho para todos as pessoas”. Ao que a criança arrematou: “Pai, quando a gente passar por um o senhor me mostra?”. Esta pequena estória nos revela que ser um verdadeiro cristão não é exatamente o que a maioria das pessoas pensam.

Antes de mais nada, precisamos tratar o assunto de uma perspectiva negativa, ou seja, saber o que “não é ser cristão”, para começarmos a ter alguma noção do significado da questão. Sendo assim, eu afirmaria que ser cristão, não é a mesma coisa que ir à Igreja todos os domingos, cantar todos os louvores com a congregação e ouvir os sermões. Ser cristão não é a mesma coisa que saber fazer uma oração bonita diante de todos os presentes, saber o Credo Apostólico decorado e nem mesmo ler a Bíblia com uma certa frequência. Ser cristão não significa ter que usar um determinado traje e ter apenas um corte de cabelo e nem estar associado a uma norma de comportamento próprio de sua cultura. Por fim, eu diria que ser cristão também não é a mesma coisa que ser gentil com as pessoas e trata-las todas com deferência e respeito. Tudo isso é importante, mas não é isso que vai fazer de você um cristão.

Tratando o assunto de uma perspectiva positiva, poderíamos dizer que ser um cristão implica em algumas verdades fundamentais. Em primeiro lugar, um cristão é alguém que está “em Cristo”. Segundo São Paulo, “se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. Mas, todas as coisas provêm de Deus que nos reconciliou consigo mesmo por Cristo, e nos confiou o ministério da reconciliação” (II Coríntios 5: 17,18). Eis aqui uma grande verdade que precisa ser levada em consideração: o cristão vive em Cristo, ou seja, sob o domínio, o comando e na esfera de ação do Senhor. Isso não significa que você será perfeito em tudo, mas que agora Jesus estará no comando.

Em segundo lugar, ser cristão, é ser uma “nova criação de Deus”. Conforme já vimos, “se alguém está em Cristo, nova criatura é” (II Coríntios 5: 17). Agora, diz Apocalipse 21: 5, “Eis que faço novas todas as coisas”. Dessa forma, semanalmente, a nova criação se reúne para adorar o Criador e redentor de nossas vidas. Isso não significa que você nunca irá fazer algo associado ao “velho homem”, mas que isso não mais vai te satisfazer.

Em terceiro lugar, o cristão se alegra em ter uma relação íntima com Deus. O texto da carta de Paulo diz que “Deus que nos reconciliou consigo mesmo por Cristo” (II Coríntios 5: 18). A partir desse momento, em que fomos reconciliados, podemos nos aproximar e nos relacionar intimamente com Deus, ajudados pelo Espírito Santo que habita em nós. É verdade que muitas vezes caímos e nos rebelamos contra a vontade de Deus, mas o Deus que nos reconciliou por meio do sacrifício de Cristo, é misericordioso e perdoador.

Em quarto lugar, um verdadeiro cristão é um ministro e um servo de Cristo. O texto de I Coríntios 4: 1 diz que “Que os homens nos considerem, pois como ministros de Cristo e despenseiros dos ministérios de Deus”. A palavra “ministro” está relacionado aos que servem às mesas, portanto, ao serviço ao próximo. O cristão é um servo enviado por Cristo para servir aos outros. Já o termo “despenseiro”, aponta para aquele que administra a despensa que está repleta dos presentes de Deus para a humanidade. Ele é o ecônomo que distribui os dons de Deus aos homens, ou seja, o semeador que joga as sementes do Evangelho nos vários tipos de solo.

Em quinto lugar, jamais devemos nos esquecer das palavras de Jesus que disse: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mateus 16: 24). Engana-se quem pensa que existe cristianismo sem cruz, sem dor, sem sofrimento, sem perseguição, sem injúria, sem amargura, sem abandono, sem incompreensão. Seguir a Cristo é, antes de tudo, reconhece-lo como nosso Senhor e Salvador, e em seguida, seguir pelos mesmos caminhos que ele trilhou. Isso significa perder a vida por amor a Ele e andar no caminho mais estreito.

O maior sinal de que estamos no caminho certo, não está em nossas obras, mas na cruz de Cristo. Dizem que pouco antes de morrer, já velho e com a memória falha, o ex capitão de um navio negreiro John Newton disse: “Embora minha memória desvaneça, lembro-me claramente de duas coisas: Eu sou um grande pecador e Cristo é um grande salvador”. Foi ele que nos deixou uma pérola da música religiosa que diz: “I was blind, but now i see”. E isso ocorreu por causa da Maravilhosa Graça de Jesus.

Você pode, também, dizer que é um cristão? Ou que é apenas um igrejeiro ou um frequentador de igrejas? Talvez você esteja até entre os desengreijados, mas saiba, Jesus quer tê-lo ao lado. Ele deseja redimi-lo, perdoá-lo e transforma-lo em um de seus discípulos. Você gostaria de se tornar um verdadeiro crisitão?

Sta. Maria Madalena

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Pelo que lemos no Novo Testamento, sabemos que ela acreditava que Jesus Cristo realmente era o Messias. (Lucas 8: 2; 11: 26; Marcos 16: 9). Ela esteve presente na crucificação e no funeral de Cristo, juntamente com Maria de Nazaré e outras mulheres. (Mateus 27: 56; Marcos  15: 40; Lucas 23: 49; João 19: 25). Apos o por do sol do dia sagrado judaico, o sábado, quando este findava, segundo o costume bíblico ela comprou certos perfumes a fim de preparar o corpo de Cristo da forma como era de costume. Permanecera na cidade durante todo o sábado, e no dia seguinte, de manhã muito cedo, “quando ainda estava escuro” foi ao sepulcro. Maria estava da parte de fora, a chorar, debruçou-se para dentro do túmulo e viu dois anjos vestidos de branco sentados onde tinha estado o corpo de Jesus, um á cabeceira e outro aos pés. Perguntaram-lhe “Mulher porque choras?” E ela respondeu “porque levaram o meu Senhor e não sei onde O puseram”, dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus de pé, mas não O reconheceu. E Jesus disse-lhe: ” Mulher, porque choras? Quem procuras? Ela pensando que era o encarregado do Horto disse-Lhe: Senhor se foste tu que O tiraste, diz-me onde O puseste, que eu vou busca-l’O. Disse-Lhe Jesus: “Maria!” Ela aproximando-se exclamou em hebraico: ” Rabbuni!”- que quer dizer Mestre! Jesus disse-lhe; “Não me detenhas, pois ainda não subi para o Pai; mas vais ter com os meus irmãos e diz-lhes: “Subo para O meu Pai que é vosso Pai, para O meu Deus que é vosso Deus” :Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: “Vi o Senhor!” E contou o que Ele lhe tinha dito. (João 20:18;  Mateus 28: 1-10; Marcos 16: 1-11; Lucas 24: 1-10; João 20: 1,2) . Nada mais se sabe sobre ela a partir da leitura dos Evangelhos canônicos. Em Lucas 8: 2,  faz-se menção, pela primeira vez, de “Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios”. Não há qualquer fundamento bíblico para considerá-la como a prostituta arrependida dos pecados que pediu perdão a Cristo; também não há nenhuma menção de que tenha sido prostituta. Este episódio é frequentemente identificado com o relato de”Maria aos pés de Jesus” encontrado em Lucas, ainda que não seja referido o nome da mulher em causa.

No livro Aos Pés de Jesus (2000), o escritor adventista Doug Batchelor levanta a hipótese de que Maria Madalena, a Maria de Betânia (irmã de Lázaro), a pecadora de Lucas 7 e a adúltera de João 8 teriam sido a mesma pessoa.

Recentemente muitas outras teorias vem surgindo acerca dessa personagem bíblica intrigante. Em 2003, Dan Brown escreveu O Código da Vinci, onde apresenta Maria Madalena como uma apóstola e esposa de Jesus, com quem Nosso Senhor teria iniciado uma linhagem de descendentes que estariam entre nós e que ela seria o Santo Graal. Esta tese, obviamente, é o resultado de uma série de meias verdades associadas à uma imaginação extremamente criativa e ao desejo de fazer uma releitura sobre essa figura bíblica incontestavelmente importante.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O GAFCON

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“Nem todos os Anglicanos Evangelicais apoiam os objetivos do movimento”

O terceiro encontro do GAFCON aconteceu no mês passado em Jerusalém. Certa manhã, houve uma empolgante interpretação do hino “Minha única esperança está em ti”, com a qual eu me juntei, através do fluxo do Facebook, como parte de minhas devoções matinais. Postei o refrão do hino “De manhã cedo até tarde da noite Minha esperança está em ti” na minha página do Facebook, levando um amigo a perguntar: “Você está bem?” Agora percebo que o contexto é tudo.

Se os anglicanos estão “bem”, esta é uma questão importante. Há certamente razões para se alegrar pelo fato de que a reunião em Jerusalém atraiu 1950 anglicanos (316 bispos, 669 clérigos e 965 leigos) de mais de 50 países. A Igreja da Inglaterra foi representada por dois bispos aposentados, dois servindo como bispos sufragâneos e muitos clérigos e leigos. Não havia nenhum bispo diocesano presente.

O texto “Uma Carta às Igrejas”, publicada no final da assembleia criticou não só a constituição informal e os instrumentos da Comunhão Anglicana, mas também expressou preocupação de que o evangelho não estava sendo pregado com clareza ou convicção. Houve uma reafirmação da singularidade de Cristo, e um lembrete de que a fé não poderia ser edificada sobre qualquer outro evangelho, seja o “evangelho da prosperidade” ou aquele revisado para se adequar às sensibilidades modernas e costumes culturais atuais.

A Carta também defendia que Lambeth 2020 deveria ser boicotada se o Arcebispo de Cantuária não convidasse tanto os bispos da Igreja Anglicana na América do Norte (ACNA) como os da nova Igreja Anglicana no Brasil para a Conferência, e se convidasse bispos das Províncias que autorizaram a bênção da união de pessoas do mesmo sexo.

FULCRUM é uma cadeia de trabalho teológico de Anglicanos Evangélicos, e um dos membros de nosso time de líderes, Dr Andrew Goddard, esteve presente ao GAFCON III em uma capacitação pessoal. Em seu retorno de Jerusalém, nós refletimos enquanto grupo e chegamos a algumas considerações.

Primeiro, a Carta do GAFCON cita seletivamente Lambeth 1.10. por exemplo, ele diz que Lambeth 1.10 “afirmava o Ensino de Jesus em Mateus 19 diz que existem apenas duas expressões fidedignas da sexualidade: o casamento entre um homem e uma mulher por toda a vida ou a abstinência”; “corretamente nos chamou para o cuidado pastoral para com aqueles que se sentem atraídas por pessoas do mesmo sexo”; e “descreveu a prática homossexual como ‘incompatível com as Escrituras’ e rejeitou tanto a autorização da Igreja para dos ritos para o mesmo sexo e a ordenação daqueles que estão em união com pessoas do mesmo sexo”.

A Carta, contudo, não cita a seção c de Lambeth 1.10, que nos compromete “a escutar[ando] a experiência das pessoas homossexuais e… a assegurá-las que elas são amadas por Deus e que todos os batizados, crentes e pessoas de fé, independentemente de sua orientação sexual, são membros plenos do Corpo de Cristo”. Nem reafirma, como a seção d da resolução, o chamado para “condenar o medo irracional dos homossexuais, a violência dentro do casamento e qualquer trivialização e comercialização do sexo”.

Segundo, embora apreciemos, como o site Church of England afirma, que a Comunhão “não seja mantida junta por uma constituição formal ou uma lei internacional das igrejas, mas antes, por uma tradição compartilhada, por formas de adoração e por relacionamentos — os ‘laços de afeição’ — entre seus membros ao redor do mundo”, nós estamos preocupados que GAFCON pareça ter atuado unilateralmente: qual é a base eclesiológica de sua reivindicação por autoridade? Como ela é capaz de definir o que constitui uma Província da Comunhão Anglicana?

Terceiro, a Carta é altamente crítica de frases atribuídas ao Arcebispo de Cantuária, tais como “Andando juntos” e “boa discordância”, que diz “são perigosamente enganosas na tentativa de persuadir as pessoas a acomodar falsos ensinamentos na Comunhão”.

Mas a Carta não leva suficientemente em consideração o contexto que fez surgir estas expressões. Após o encontro dos Primazes em janeiro de 2016, por exemplo, o Arcebispo Welby falou das diferentes partes da Comunhão “caminhando juntos, ainda que a distância”. A segunda parte é tão significativa quanto a primeira: caminhando “a distância” é preferível, certamente, que “caminhando separado”.

Quarto, nós notamos que, na GAFCON, existiram vozes que enfatizaram a importância de permanecer dentro da Comunhão. Elas incluíam o Arcebispo do Quênia, o Reverendíssimo Jackson Ole Sapit; o Bispo do Chile, Reverendíssimo Héctor Zavala; e o Arcebispo em Jerusalém, o Reverendíssimo Suheil Dawani. Nós nos surpreenderemos se essas vozes dissidentes continuarão sendo ouvidas agora que a supervisão do GAFCON passou do Primaz de uma Província da Comunhão, o Arcebispo da Nigéria, Reverendíssimo Nicholas Okoh, para o Primaz de uma Igreja que não é parte da Comunhão: Arcebispo Foley Beach, Primaz da ACNA.

OUTRAS HISTÓRIAS

Cuidado com a Church of England “gratis-para-todos”, adverte o novo Bispo da Gafcon para a Europa, Andy Line.

LAMENTAVELMENTE, GAFCON demonstra ter a intensão de caminhar separado, preparando uma estrutura alternativa assim como ramos e incluir bispos consultores, clérigos e representações leigas, que formarão um concílio sinodal que apresentarão recomendações, em uma forma que imita as estruturas e atividades da Comunhão.

Por 150 anos, a Conferência de Lambeth tem sido a forma principal por meio da qual os Anglicanos expressaram sua comunhão “em uma estrutura de relações e tomada de decisões conciliares. O GAFCON acredita que a Conferência de Lambeth teve seu tempo?

Existem muitos Anglicanos Evangelicais que não acreditam assim e, apesar das tensões na Comunhão, estão comprometidos a caminhar juntos, quer seja mais perto ou à distância.

(A Rev. Rachel Marszalek é Vigário da All Saints’, Ealing, e Secretária Geral da Fulcrum)

(Marszalek, Rachel. Some concerns about GAFCON, disponível em <https://www.churchtimes.co.uk/articles/2018/13-july/comment/opinion/some-concerns-about-gafcon&gt; acessado em 16 de julho de 2018)

Tradução e adaptação: Reverendo Jorge Aquino