ACERCA DE DEUS 02: DEUS EXISTE?

Rev. Padre Jorge Aquino.
Não conheço nenhum professor universitário que não tenha se deparado com este tipo de pergunta, muito menos quando ele é ou foi sacerdote. Afinal Deus existe? Esta não é uma pergunta muito simples de responder. Para tanto, invocarei o pensamento de Emil Brunner, teólogo Reformado suíço do século XX. Para ele, as cordilheiras do Himalaia existem; a cadeira na qual estou sentado existe; existe o planeta Marte. Mas Deus não existe. Pelo menos não como uma coisa entre as demais coisas que também existem. Ele não é como um selo a mais a fazer parte de uma coleção. Ele não é “algo” a mais no mundo que nos cerca. Se é isso que estamos querendo saber quando perguntamos sobre a existência de Deus, com certeza ele não existe. Melhor seria dizer que ele É. Ele É o fundamento de todas as coisas que existem porque, de fato, nada do que existe existiria sem que existisse nEle. Em resumo, a relação dele com todas as coisas do universo não é a relação de um igual, mas a relação de um criador para com sua criatura. E ele está em uma condição tão elevada que pode muito adequadamente ser chamado de o totalmente outro. Ao ser totalmente outro ele se desloca de sua criação, mas seu afastamento continua sendo um afastamento cuidadoso porque ele se interessa e ama sua criação. De fato é ele quem dá existência ao que existe e chama para seu lado sua criação.

ACERCA DE DEUS 01

Rev. Padre Jorge Aquino
Esta semana fui interpelado por um ex aluno da faculdade de direito acerca de meu relacionamento com a Igreja. Imediatamente respondi que estava cada vez ais afastado da estrutura de poder e, surpreendentemente, mais perto de Deus.
A primeira verdade que gostaria de enfatizar neste texto é a de que Deus nada tem a ver com as Instituições religiosas. Esta afirmação pode parecer até mesmo herética, afinal, S. Cipriano afirmava que “fora da igreja não havia salvação”. Em outro texto ele afirmou que ninguém pode ter Deus como Pai sem ter a igreja como mãe. Hoje mesmo o papa Francisco afirmou que ninguém pode dizer “sim” para Deus e dizer “não” para a igreja.
Datíssima vênia o que pensa a igreja, não consigo me convencer de que Deus possa ser aprisionado por uma instituição que detenha o copiright de seus gestos. Tenho dificuldades em aceitar que todo o que a igreja fez foi feita com a chancela de Deus, como se ele tivesse entregado um cheque em branco para esta instituição humana. Não consigo aceitar que as torturas, as fraudes pias, as mentiras, as lutas pelo poder na cúria, as punições e excomunhões, etc. tenham todas a chancela de Deus. Qualquer conhecedor da história sabe que a igreja errou e erra diuturnamente. Atribuir estas posturas a Deus é, no mínimo, desonestidade.
Deus é essencialmente diferente de tudo o que o homem pode criar, inclusive a igreja. E seus “representantes” na terra precisam encontrar outros critérios para nos fazer compreender esta aproximação. O que sabemos, é que cada vez mais estamos nos distanciando das “marcas” mais comuns, associadas à paramentos luxuosos e insígnias coloridas.
Outra informação importante é registrar que nas Escrituras a “Igreja” nem assume um papel tão relevante assim. Este papel é assumido pelo “Reino de Deus”, o que nos faz entender que a igreja é apenas uma das instituições do Reino, mas não sua substituta nem pode se confundir com ela. Em resumo, Deus não é Anglicano, Católico, Evangélico, Ortodoxo ou Protestante.
Diante do exposto, não tenho mais pudores em afirmar que mais importante do que uma freqüência regular a uma instituição religiosa, minha maior preocupação consiste em louvá-lo e adorá-lo diariamente em meu período de devocional.
Hoje entendo que talvez Deus esteja sensibilizando as pessoas a compreenderem o que não se compreendia na época de Cisto. Seu maior interesse não é uma construção apoteótica ou uma liturgia perfeita, mas um coração contrito e humilde, ele não recusará.

QUESTÕES SOBRE O MATRIMÔNIO

Rev. Padre Jorge Aquino

Nestes últimos anos de atuação ministerial tenho sido interpelado por inúmeras pessoas acerca de temas relacionados com o matrimônio. Hoje, tomei para mim a incumbência de responder a algumas destas questões trazendo, quem sabe, um pouco de tranqüilidade para aqueles que me Leem.
O que é o matrimônio?
A primeira grande questão diz respeito ao que é, de fato, o matrimônio. Particularmente me identifico com os setores do anglicanismo que vêem no matrimônio um rito sacramental que aponta para a relação entre Cristo e sua igreja. Ele é, sim, um rito de passagem – numa perspectiva antropológica; ele é, sim um evento social e um fato jurídico. Mas é mais que isso. Para os que creem, o matrimônio é uma aposta no projeto de Deus para que o homem não tivesse uma vida solitária. O matrimônio é a resposta de Deus tanto para a falta fundamental de um companheiro(a) que esteja ao nosso lado em cada minuto da vida,como também é o projeto que está na base da formação e desenvolvimento de uma família.
Quem pode me casar?
Esta resposta dependerá de cada denominação. Em geral as igrejas históricas entendem que o ministro ordinário do casamento é o bispo e seus representantes, os presbíteros e diáconos. No entanto, tanto a igreja Romana quanto a Anglicana entendem que leigos também podem presidir a cerimônia do casamento. Isto pode ser lido, no caso da igreja Romana, por exemplo, no Cânon 1112 que, na falta de sacerdotes e diáconos, “o Bispo diocesano, obtido previamente o parecer favorável da Conferência episcopal e licença da Santa Sé, pode delegar leigos para assistirem a matrimônios.” O parágrafo segundo orienta o tipo de leigo a ser escolhido dizendo: “Escolha-se um leigo idôneo, capaz de instruir os nubentes e apto para realizar devidamente a liturgia matrimonial”.
Em resumo. Podem celebrar os matrimônios, ordinariamente, o bispo, o sacerdote e o diácono. Mas, também, podem presidir, leigos aptos para instruir os noivos.
Em razão da crença do “Sacerdos in aeternum” e no caráter indelével do sacerdócio a igreja católica também admite a possibilidade de que padres casados – portanto fora do exercício do sacerdócio – também possam presidir a cerimônia de casamento.

Os noivos é que se casam? Como assim?
Outro tema interessante para se colocar e que a esmagadora maioria das pessoas desconhece é que, no caso do matrimônio, os oficiantes do rito sacramental são os próprios noivos, e não o sacerdote. Nos demais sacramentos é o sacerdote quem pronuncia a “fórmula” (que no casamento chamamos “votos”). Mas no caso do matrimônio, são os próprios noivos que pronunciam a fórmula, portanto, que se casam. O padre é apenas o presidente da cerimônia. Ocorre que, em uma realidade social extremamente sacramentalista e clericalista, muito pouca gente sabe disso. Até porque não interessa aos carreirista ligados ao poder, fazer com que as pessoas conheçam estas verdades.

O que é essencial para o casamento?
No que diz respeito ao rito do matrimônio há pelo menos três elementos que são essenciais, ou seja, que não podem faltar jamais. O que é essencial é a declaração de vontade, os votos (ou fórmula) e as alianças (sinal visível da graça invisível). Tudo o mais, como entrada, leituras, sermão, músicas, etc., é acessório.
Onde pode ser feito o matrimônio?
Na Idade Média o casamento ocorria ao lado do leito nupcial. Depois da bênção, os noivos se deitavam e consumavam o casamento. Com o passar dos tempos, as igrejas se tornaram lugares mais apropriados. Mas hoje, não há como negar que o casamento pode ser celebrado em qualquer lugar em que a liturgia possa ser digna e reverentemente assistida. Porque a catedral de Deus – a abóbada celeste – seria menos importante do que um templo feito por mãos humanas?

O NOVO

Reconheço que o novo traz um certo receio
Um certo medo
É normal que seja assim.
É assim porque o novo aponta para o desconhecido
e preferimos sempre a segurança
por pior que seja a situação.
Preferimos nossa antiga zona de conforto
Ao invés de enfrentar o que não conhecemos.
Como dizem: preferimos o certo ao duvidoso.
E, na dúvida, preferimos nos satisfazer com migalhas que se acham no chão da vida.
Mas o novo também traz consigo
junto com o receio
a promessa.
A promessa de que o futuro
além de diferente
pode ser melhor,
bem melhor,
extraordinariamente melhor.
E será melhor.
Porque somos melhores hoje do que antes.
Queremos isso e nos prometemos isso.
E quando se fala em promessa
de um lado temos o que promete que,
porque promete,
se com-promete.
Mas do outro temos o que ouve e que,
porque ouve,
pode ou não exercer a fé.
Acreditar ou não.
Dar crédito ou não à promessa feita.
Cabe observar nesta relação,
o caráter do promitente e do ouvinte.
Se o que protete tem,
ou não,
um histórico de cumprir com sua palavra.
A vida nos levou para um novo lugar.
Para uma nova situação.
Para uma nova realidade.
Ela re-novou nossas existências.
Nossos sonhose nossos alvos.
Por isso,
meu amor,
diante do novo,
estamos com as portas
–ou melhor –
Janelas, abertas para ver mais longe
e para sonhar mais alto.
Juntos re-novaremos nossas vidas
assim como renovaremos nossos votos e nossas promessas e confiança.
Juntos realizaremos e juntos viveremos nossos sonhos.
O novo é sempre uma retomada,
Um recomeço.
Só que não do início
Mas de uma realidade onde se sabe mais,
Se conhece mais,
De onde se pode ver com mais atenção e acuidade.
O recomeço parte de experiências já vividas
Por isso todo recomeço é mais rico
E enriquecedor
E o que mais se enriquece
No novo
De novo
É o amor
Que, como diz as Escrituras,
Se renova a cada manhã.
Te amo demais e de novo, a cada dia.

Jorge Aquino

A CONDUTA DA ESPOSA CRISTÃ

Rev. Padre Jorge Aquino

“As mulheres sejam submissas a seus próprios maridos, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo. Como, porém, a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres estejam em tudo submissas ao seu marido” (Efésios 5:22-24). “A esposa respeite o seu marido” (Efésios 5: 33b).

Na reflexão anterior tratamos do comportamento do marido cristão e neste texto faremos algumas considerações sobre como deve ser o comportamento de uma esposa cristã à luz do pensamento bíblico. É claro que temos ciência da dificuldade de tratar um tema como este em uma sociedade em que as realidades duras se fluidificaram e falar em uma regra comportamental neste mix epistemológico é quase um suicídio intelectual. No entanto é preciso ser honesto com o texto bíblico em tela e procurar retirar dele algumas lições para nossa vida de cristão no século XXI. Com base nisso, creio ser possível encontrar aqui algumas pistas para compreender melhor este texto e aplicá-lo aos nossos dias.
A primeira verdade que precisamos compreender aqui é que homens e mulheres, embora ontologicamente iguais, possuem diferenças emocionais e expectativas diferentes acerca da vida em família. Que os homens são diferentes das mulheres é um fato. Todo homem que quer satisfazer os desejos de suas esposas sabem que realizar isso é muito complicado. As mulheres, por seu turno, têm a mesma impressão. Isto ocorre porque homens e mulheres são efetivamente diferentes em muitos aspectos. Possuem perspectivas, anseios, necessidades, leituras e reações bem díspares.
Assim, de um lado, como as palavras de São Paulo exigem dos maridos um amor como o de Cristo para satisfazer às necessidades mais fundamentais das esposas, de outro, neste texto Paulo recomenda às esposas satisfazerem às necessidades básicas dos maridos.
Uma das necessidades mais prementes nos homens é a de ser respeitado. Claro que as mulheres também sentem esta necessidade, mas esta necessidade nos homens excede em muito à das mulheres. E esta diferença, em muito se deve a aspectos sociais e históricos que plasmaram comportamentos e estabeleceram expectativas procedimentais para ambos os sexos.
Mas, pergunta-se, de que forma uma mulher pode demonstrar respeito a seu marido? Qual seria a expressão máxima do respeito? A resposta de Paulo está na submissão. Ressalte-se, aqui, que obediência não é a mesma coisa que submissão. É possível obedecer por medo, mas o que está sendo exigido aqui é o respeito. Respeito é uma postura que se tem diante do outro. Ela não exige voto de silêncio nem a subserviência cega. Quem explica bem esta realidade é Patrick Morley quando diz: “Os homens precisam do respeito das esposas para terem auto-estima. Por isso a esposa precisa submeter-se ao marido, o que é praticamente impossível a menos que ela o respeite”.
Uma segunda informação relevante aqui nos faz observar que o tipo de submissão que a esposa deve ter para com seu marido deve ser semelhante a que a igreja tem a Cristo. Há, é claro, uma nítida obrigação exigível da esposa, aqui; mas, em contrapartida, também há uma clara responsabilidade sobre os ombros dos maridos: a de ser semelhante a Cristo no tratamento com suas esposas. Se as esposas se submetem a seus maridos como ao próprio Cristo eles devem tratá-las como Cristo as trataria, jamais de forma inferior.
Este é um tema difícil de abordar porque em nossos dias palavras como submissão, obediência, sujeição ou subordinação, são impopulares, inadequadas, e até ridículas. Diz-se que hoje a sociedade já prevê direitos iguais às mulheres e isto representa um progresso que foi conquistado a duras penas. Além disso, os inúmeros casos de violência doméstica parecem demonstrar que os maridos não sabem lidar bem com suas frustrações pessoais e acabam por transferir suas frustrações para a parte fisicamente mais frágil da relação por meio da força. Mas não é disso que estamos tratando. Todo tipo de violência doméstica deve ser tratada dentro dos rigores da lei.
Não estamos pregando a diferença ontológica entre pessoas de sexo diferentes; estamos falando de diferenças funcionais entre estas pessoas. O que devemos buscar é a complementariedade das vocações e das funções. O que estamos procurando aqui é ser o mais bíblico e o mais contemporâneo possível. Na tentativa de ponderar estes dois valores nosso critério mais significativo é a honestidade. Assim como não existe sociedade sem normas, e elas precisam ser obedecidas para que a sociedade sobreviva, qualquer ente social, seja uma empresa, uma escola, uma unidade de saúde, uma igreja, as forças armadas, um condomínio, uma prisão, um grupo de escoteiros, um Estado ou uma família, precisa de regras e de papéis bem definidos para seus membros, só isso. Não é sábio, em nenhuma sociedade – nem mesmo na família – achar que todos têm o mesmo papel e a mesma condição. O papel de liderança e condução é claramente colocado, nas Escrituras, sobre o marido, e ele, com sua esposa, conduzem seus filhos. É claro que este texto reproduz o pensamento de uma pessoa condicionada pelo seu tempo e pelo seu espaço, ou seja, é um pensamento culturalmente determinado. Paulo vivia em uma sociedade na qual os papéis eram bem delineados e a família era extremamente patriarcal. O princípio que fundava este comportamento estava fundado no aspecto econômico, ou seja, quem mantinha financeiramente a família era visto como o provedor e, portanto, deveria ser obedecido.
Em nossos dias, os aspectos funcionais podem ser intercambiáveis e isto não significa que quem deve estabelecer o papel de liderança seja, necessariamente quem ganha mais – que, inclusive, pode não ser o homem, mas a mulher. O princípio que rege nossos relacionamentos não é mais o econômico, mas o afetivo-funcional. Ademais, vemos hoje inúmeras famílias sem a figura masculina é claro que a liderança, em todos os aspectos, ficará com a mãe. Em uma realidade como a nossa, em que os papéis não são tão delineados como nos tempos bíblicos, há espaço de sobra para discutir até mesmo o tipo de liderança exercida pelo marido. É claro que quando se fala em liderança podermos pensar em uma escala que vai desde um líder autoritário até um laissez-faire. Ou seja, uma família onde a liderança é exercida militarmente ou aquela onde cada um faz o que quer sem dar satisfação a ninguém. Acredito que o equilíbrio seria de bom tom, quando se fala de família.
Tudo isso que expusemos acima deve ser levado em consideração em um texto que trate sobre um assunto tão delicado. Lamentavelmente a falta de compreensão sobre isso e a conseqüente luta pelo poder tem produzido muita dor e muita separação. Homens e mulheres precisam aprender que, na família, a luta não deve ser a pelo poder, mas sim a pelo serviço, porque todos temos a Cristo como referencial e ele, diz as Escrituras, “veio para servir dar sua vida em resgate de muitos”.
Para concluir, há outro texto bíblico que precisa ser citado aqui e que foi, propositalmente, deixado por último: em Cristo, diz as Escrituras, “não há homem nem mulher” (Efésios). Segundo este texto, em Cristo não há distinção de sexo. Isto significa que, embora cada cônjuge tenha suas necessidades mais prementes (amor e respeito, no caso das mulheres e dos homens), isto não significa que o que é exigido de um não se aplique ao outro. Assim, se as esposas devem respeitar seus maridos obedecendo-os e os maridos devam amar suas esposas santificando-as para si, isto não significa que as exigências não sejam intercambiáveis, ou seja, que as mulheres também amem e que os homens também respeitem. Muito ao revés. Homens e mulheres devem amar tanto quando homens e mulheres devem respeitar. Afinal, diz as Escrituras: “criou Deus o homem, a sua imagem, a imagem de Deus o criou, macho e fêmea os criou” (Gênesis 1:27), o que significa que há uma certa androgeneidade na humaniade em razão da androgeneirdade que existe em Deus. Explico: se somos (homem e mulher) imagem de Deus nenhum é superior ao outro, mas somos ontologicamente iguais e iguais a Deus.