(Ezequiel 37: 1-14; Romanos 8: 6-11; João 11: 1-45)
Rev. Cônego Jorge Aquino
TEMA: Quaresma: momento em que a morte vira vida. (Ezequiel 37: 1-14).
Introdução: Quando as tropas aliadas, já no final da campanha da Europa, chegaram à Polônia e encontraram o Campo de Concentração de Auschwitz, o mundo inteiro ficou perplexo com as imagens que registravam até onde a animalidade humana é capaz de ir. Milhares de corpos foram encontrados em valas comuns e milhares de outros jaziam insepultos. Durante o julgamento de Nuremberg o próprio primeiro comandante do Campo, Rudolf Höss, confessaria que mais de 3 milhões de pessoas foram eliminadas ali; 2,5 milhões gaseificados e 500 mil de fome e doenças. Seguramente aquele lugar até hoje produz uma enorme comoção em todos aqueles que adentram seus portões.
Elucidação: No texto da leitura do Antigo Testamento de hoje vemos uma das cenas mais impactantes da Bíblia. Ela é a resposta dada por Deus ao momento mais cheio de desalento e de desesperança que o povo de Deus passou: o exílio na Babilônia. Muitas vezes estamos vivenciando a mesma realidade de cerceamento e de aprisionamento; a angústia parece que vai prevalecer, mas Deus chama o profeta até aquele lugar que representa toda a miséria de seu povo e promete que a realidade posterior será muito superior à glória do passado. Pensando nisso somos convidados hoje a refletir sobre o tema: Quaresma: momento em que a morte vira vida. Diante da visão que Ezequiel vislumbrou, acreditamos ser possível encontrar três grandes momentos que se repetem, também em nossas vidas:
I. UMA REALIDADE DESALENTADORA (v. 1, 2).
- Às vezes é o lugar para onde somos levados por Deus. O texto do capítulo 37 de Ezequiel começa com a declaração de que a “mão do Senhor veio” sobre o profeta. Esta expressão indica que tudo o que ocorrerá agora, será fruto da ação divina.
Logo em seguida o verso primeiro nos informa que o profeta foi levado “pelo Espírito do Senhor” e colocado no meio de um vale que estava cheio de ossos. A indicação de que o profeta fora levado pelo “Espírito do Senhor” é mais um detalhe que atesta que devemos estar sempre dispostos a sermos levados para onde o Senhor quiser.
- Às vezes este é um lugar de morte. O texto nos diz que o “Espírito do Senhor” levou o profeta para um vale cheio de ossos, indicando, talvez, uma vala comum ou um local onde dois exércitos se debateram até a morte. Não estamos, portanto, diante de um cemitério comum, mas de um campo de batalha coberto com os cadáveres que ali tombaram.
O profeta andou por entre aqueles ossos e percebeu que eles estavam sequíssimos, o que indica não apenas que a mortandade havia ocorrido a algum tempo, mas que a situação era irreversível.
Aplicação: O texto do Evangelho de hoje fala da ressurreição de Lázaro, um grande amigo de Jesus. Seu corpo já havia sido sepultado fazia quatro dias. Mesmo assim Jesus ordenou que retirassem a pedra. Relutantes, porque imaginavam que já cheirava mal, as pessoas foram e retiraram a pedra da sepultura. Diante disso, Jesus disse em voz alta: “Lázaro, vem para fora!”. E aquele que estava morto reviveu porque ouviu a voz de Jesus chamando seu nome. Da mesma forma Jesus chama nosso nome quando estamos já considerados mortos e cheirando mal. Cabe a nós ouvir a voz do Senhor, atender seu chamado e sair da sepultura. Por mais que esse momento de escuridão dure, Jesus sempre chama nosso nome. Abra seus ouvidos para ouvir o Senhor chamar seu nome na hora de sair do reino da morte e vir para o reino da vida.
II. UMA PERGUNTA PERTURBADORA (v. 3)
- Deus nos questiona quando vislumbramos a realidade. No verso terceiro Deus faz uma pergunta perturbadora ao profeta: “Filho do homem, acaso, poderão reviver esses ossos?”. O profeta não entende a razão da pergunta. Os ossos estão sequíssimos e isso indica a impossibilidade de que haja vida naquele lugar. A realidade que cerca o profeta é de completa prevalência da morte, mas é sobre essa realidade que Deus resolve questionar o profeta.
- Nossa ignorância nos faz afirmar que somente Deus tem todas as respostas. Sem saber exatamente o que responder, o profeta simplesmente diz: “Senhor Deus, tu o sabes”. Que é o profeta para responder às grandes questões sobre a vida e a morte? Deus, contudo, sabe de todas as coisas e por isso, é Ele que pode dar as respostas certas sobre essas questões. Na realidade, o que ocorre aqui é que, ao vislumbrar tamanha carnificina o profeta se cala pasmado frente a realidade que, muitas vezes nos acomete.
Aplicação: Muitas vezes, como cristãos, somos colocados em situações difíceis. Enfrentamos a dor, o sofrimento, a prisão, a solidão, o abandono, e achamos que até Deus se esqueceu de nós. Mas eis que, diante da maior agonia que possamos sofrer, ouvimos a doce voz de Deus a nos acalentar dizendo: “A graça minha graça te basta, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. E aí, quando nos julgamos fracos e derrotados é que somos fortes e vencedores! De fato não sabemos as razões de todas as coisas que nos acontecem, mas Deus transforma cada uma delas em instrumento de crescimento, de maturidade e as vê como a coroa da glória!
III. UMA MUDANÇA TRANSFORMADORA (v. 4-13)
- Exige que o homem de Deus profetize (v. 4-6). Mesmo sem responder a pergunta feita ao profeta, Deus lhe dá uma ordem: “Profetiza a esses ossos e dizei-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do Senhor”. Esta parece ser uma ordem absurda! Profetizar para um amontoado de ossos que já a muito perderam a vida parece ser algo sem sentido. Mas essa é a exigência de Deus e por isso o profeta profetiza. E em sua profecia Ezequiel diz que o Senhor fará entrar novamente o espírito neles, em uma referência ao sopro de vida. Cada elemento do corpo será reconstruído. O texto pala nos tendões, na cerne e na pele.
- Exige um homem de Deus que obedeça (7,8). E, diante da ordem de Deus o profeta profetiza a palavra do Senhor. Logo em seguida ocorreu um ruído, barulho de ossos batendo um contra o outro, os tendões e ligamentos se juntando, a carne crescendo ao redor e a pele se estendendo sobre cada um deles. Os corpos estavam, agora, fisicamente restaurados. Mas faltava algo.
- Exige que o homem de Deus invoque o espírito (v. 9, 10). No verso 9 Deus manda que o profeta profetize ao espírito, que nesse texto se refere ao princípio vital que vem de Deus e que dá vida (anima) a todos os homens. E eis que assim que o profeta fez conforme a vontade de Deus, o espírito veio sobre os corpos e eles viveram e se puseram de pé. E eis que era um exército numeroso de pessoas redivivas!
- Exige uma explicação de Deus (v. 11-14). A partir desse momento Deus passa a explicar ao profeta o sentido de tudo aquilo. Deus explica que os ossos eram o povo de Israel. A secura dos ossos era semelhante a ausência de esperança que existia no coração do povo de Deus.
Deus diz ao profeta que fará Israel sair da sepultura e retornar à sua terra. E dessa forma, Israel saberá que Javé é o Senhor que os fez sair da sepultura e da esfera da morte e os levou até a terra prometida. E o povo de Deus receberá o Espírito do Senhor para que todos sejam instrumentos de proclamação de que Deus é o Deus da esperança. A morte não tem a última palavra.
Conclusão: A leitura da Epístola de Paulo aos romanos de hoje nos coloca diante de algumas verdades extraordinárias. Paulo nos diz que enquanto a mera carne se inclina para a morte, o Espírito se inclina para a vida e para a paz. E diz mais. Diz que se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em nós, nosso corpo mortal também será vivificado e triunfará sobre a morte, à semelhança de Cristo. A presença do Espírito em nós é a maior prova de que somos o povo do Senhor.
Querido amigo, você pode dizer que o Espírito de Deus testifica em seu coração de que você é um filho de Deus e membro de sua família? Caso você esteja entre os ossos que estão ressequidos pelo tempo e pela falta de esperança, saiba que se hoje você der ouvido à palavra de Deus, hoje mesmo o Espírito Santo fará morada em você.